Por que o Itaú BBA diz que o pior já passou para o mercado de capitais no país

Executivos do banco de investimento dizem em entrevista à Bloomberg News que agora veem mais transações no país direcionadas ao crescimento das empresas

Por que o Itaú BBA diz que o pior já passou para o mercado de capitais do Brasil
Por Cristiane Lucchesi e Vinícius Andrade
06 de Julho, 2023 | 11:02 AM

Bloomberg — Executivos do Itaú BBA, o banco de investimento líder no Brasil no primeiro semestre, acreditam que o pior já passou para os mercados de ações e títulos de dívida do país.

“No começo do ano, saíram as operações que realmente precisavam acontecer, nas quais o acionista precisava vender ou a empresa precisava desalavancar; agora, começa a ter mais transações, e elas são para crescimento, novos investimentos”, disse Cristiano Guimarães, responsável pelo banco corporativo e de investimento do Itaú BBA, em entrevista à Bloomberg News.

O Itaú BBA ficou na primeira posição do ranking de receita com comissões (fees) da Dealogic nos primeiros seis meses do ano.

As ofertas de ações de empresas brasileiras até agora neste ano atingiram R$ 18 bilhões, 66,3% menos que no mesmo período do ano passado, enquanto as vendas de títulos corporativos locais chegaram a R$ 84,9 bilhões, 39% menos do que em 2022, segundo dados compilados pela Bloomberg.

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A emissão de títulos de dívida globais, por outro lado, aumentou 30,6%, atingindo US$ 7,3 bilhões, mostram os dados.

A empresa de aluguel de carros Localiza (RENT3) levantou cerca de R$ 4,5 bilhões em uma oferta subsequente de ações no mês passado e os recursos serão usados para planos de crescimento, incluindo a expansão da sua frota de veículos.

A Direcional Engenharia (DIRR3) anunciou na sexta-feira (30) que levantou R$ 428,88 milhões em uma oferta de ações para ser usada para “crescimento e melhoria da estrutura de capital”.

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“Assim que o mercado se convenceu de que os juros iriam cair, começamos a ver mais ofertas de ações”, disse Roderick Greenlees, chefe de banco de investimento no Itaú BBA, que calcula que as companhias brasileiras farão até 50 ofertas de ações neste ano, incluindo as vendas em bloco (block trade). No ano passado, foram 31 operações, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Cortes de juros à frente

A perspectiva de queda da taxa básica de juros, que está no maior nível em seis anos, também estimula a retomada dos mercados de títulos locais, principalmente as operações que contam com isenção de impostos para investidores, disse Guilherme Albuquerque de Maranhão, chefe de vendas e estruturação de renda fixa do Itaú BBA.

A Iguá Saneamento anunciou no dia 26 de junho a venda de R$ 3,8 bilhões em debêntures de infraestrutura, que contam com incentivos fiscais, e a parcela de R$ 2 bilhões que foi a mercado teve demanda 1,6 vez maior que a oferta, segundo a empresa.

“Essas transações com excesso de demanda mostram o retorno do apetite do investidor”, disse Maranhão, que estima que o total de títulos de dívida corporativa a ser distribuído no mercado interno chegará a R$ 120 bilhões neste ano, em comparação com os cerca de R$ 200 bilhões em 2022.

A revisão da perspectiva do rating soberano do Brasil de estável para positiva pela S&P Global Ratings em 14 de junho também tem ajudado a impulsionar as transações no mercado de capitais, principalmente de títulos de dívida internacionais, disse Maranhão.

As receitas totais com comissões de assessoria em fusões e aquisições e liderança em transações de ações e títulos de dívida chegaram a US$ 291 milhões no primeiro semestre deste ano, uma queda de 40% em relação ao mesmo período do ano passado, disse a Dealogic.

O Itaú BBA tinha uma participação de 14,3% no mercado, ante 12,1% nos primeiros seis meses do ano passado, segundo a Dealogic.

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Mesmo com uma perspectiva melhor para o segundo semestre, Guimarães ainda acredita que o total de receitas de banco de investimento no Brasil deverá cair cerca de 25% em 2023 em relação a 2022.

“Será difícil recuperar”, ele disse.

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