Bancos centrais divergem em trajetórias pelo mundo com inflação persistente

Enquanto algumas economias seguem elevando os juros para tentar conter os preços, outras fazem uma pausa e algumas têm cortes no horizonte

Uma pessoa organiza os vegetais à venda em um mercado
Por Bloomberg News
06 de Julho, 2023 | 08:41 AM

Bloomberg — A inflação persistentemente alta que mantém autoridades dos Estados Unidos e da Europa em regime de aperto deve dissociar ainda mais a política monetária global nos próximos meses, à medida que o resto do mundo trilha sua própria trajetória.

Com outro aumento esperado pelo Federal Reserve e pelo Banco Central Europeu para julho e alguns bancos centrais em um caminho semelhante, um indicador agregado de taxas de juros calculado pela Bloomberg Economics agora mostra um pico de 6,25% durante o trimestre atual, acima do nível de 6% previsto há três meses.

Mas esse número global mais alto mascara uma imagem muito menos sincronizada do que o mundo estava acostumado recentemente. Autoridades chinesas começaram a afrouxar a política no mês passado, enquanto bancos centrais da Índia à África do Sul estão em uma pausa sustentada por enquanto.

Na Turquia, o banco central começou sua campanha de aperto, e a autoridade monetária da Rússia pode estar prestes a seguir o exemplo. O Banco do Japão também avança para remover o estímulo um dia.

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O entrincheiramento da divergência global é uma conjuntura nebulosa para os bancos centrais de ambos os lados do Atlântico.

Autoridades, principalmente do Banco da Inglaterra, confrontam o fracasso até agora em conseguir uma queda grande o suficiente no cenário de inflação, enquanto outros fazem uma pausa para ver se o aperto feito até agora pode precisar de mais tempo para surtir efeito.

Seja qual for o caso, bancos centrais ainda inclinados a elevar os juros, como o Fed, entram em uma fase mais hesitante, à medida que observam cada vez mais um impacto no crescimento econômico.

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O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell (à esquerda); Christine Lagarde, presidente do BCE (ao meio); e Kazuo Ueda, presidente do Banco do Japão (à direita)dfd

“Após os rápidos aumentos de 2022 e do primeiro semestre de 2023, a distância restante até o pico para o Fed, BCE e Banco da Inglaterra é limitada. Ainda assim, a inflação teimosamente alta significa que Jerome Powell, Christine Lagarde e Andrew Bailey estão subindo mais do que pensávamos há algumas semanas”, diz Tom Orlik, economista-chefe da Bloomberg Economics.

“Uma taxa terminal mais alta reforça a previsão de recessão para os EUA e significa que vemos um crescimento global de apenas 2,8% neste ano e de 2,7% no próximo – um pouco abaixo da taxa pré-pandemia.”

No Brasil, o Banco Central se absteve de sinalizar claramente o início de um ciclo de afrouxamento monetário há muito tempo esperado, mas retirou a menção sobre a possibilidade de aumentar ainda mais os juros depois de manter a Selic em 13,75% pela sétima reunião consecutiva em junho.

“Inflação mais lenta e um novo quadro fiscal no Brasil levarão o Banco Central a começar a reverter o forte aperto da política iniciado em 2021. Esperamos que um processo de afrouxamento gradual comece no terceiro trimestre, com a política normalizada até o final de 2024. Questões sobre o nível neutro da taxa de juros limitam o quanto a Selic pode cair — vemos a taxa terminal em um dígito alto”, avalia Adriana Dupita, da Bloomberg Economics.

Confira o guia trimestral da Bloomberg para alguns dos principais bancos centrais do mundo:

Federal Reserve

Taxa atual dos fundos federais (limite superior): 5,25%;

Previsão da Bloomberg Economics para o final de 2023: 5,5%;

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Previsão da Bloomberg Economics para o final de 2024: 4,75%;

Estimativa do mercado: um aumento de 0,25 ponto percentual até setembro, talvez outro até novembro, depois cinco cortes de 0,25 p.p. no ano que vem.

Banco Central Europeu

Taxa de depósito atual: 3,5%;

Previsão da Bloomberg Economics para o final de 2023: 4%;

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Previsão da Bloomberg Economics para o final de 2024: 3,25%;

Estimativa do mercado: outra alta de 0,5 ponto percentual para chegar a 4% até o final do ano, seguida por cortes das taxas do mesmo tamanho até o fim de 2024.

Banco do Japão

Equilíbrio atual da taxa básica: -0,1%;

Previsão da Bloomberg Economics para o final de 2023: -0,1%;

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Previsão da Bloomberg Economics para o final de 2024: 0%;

Estimativa do mercado: swaps de ienes indicam taxas estáveis em -0,1% até o ano que vem.

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Banco da Inglaterra

Taxa bancária atual: 5%;

Previsão da Bloomberg Economics para o final de 2023: 5,75%;

Previsão da Bloomberg Economics para o final de 2024: 5%;

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Estimativa do mercado: pelo menos mais 1,25 ponto percentual em aumentos até 6,25%, e então 0,5 ponto em cortes estão precificados para o ano seguinte.

Banco Popular da China

Taxa de empréstimo de médio prazo atual de 1 ano: 2,65%;

Previsão da Bloomberg Economics para o final de 2023: 2,45%;

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Previsão da Bloomberg Economics para o final de 2024: 2,35%;

Banco Central do Brasil

Taxa Selic atual: 13,75%;

Previsão da Bloomberg Economics para o final de 2023: 12%;

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Previsão da Bloomberg Economics para o final de 2024: 9%;

Banco do México

Taxa overnight atual: 11,25%;

Previsão da Bloomberg Economics para o final de 2023: 10,75%;

Previsão da Bloomberg Economics para o final de 2024: 6,75%;

Banco Central da Argentina

Piso da taxa atual: 97%;

Previsão da Bloomberg Economics para o final de 2023: 97%;

Previsão da Bloomberg Economics para o final de 2024: 70%;

Banco Central da Turquia

Taxa atual de recompra de 1 semana: 15%;

Previsão da Bloomberg Economics para o final de 2023: 24%;

Previsão da Bloomberg Economics para o final de 2024: 20%;

-- Com a colaboração de Hooyeon Kim, Peter Laca, Scott Johnson, Andrew Langley, Steve Matthews, Ruth Olurounbi, Piotr Skolimowski, James Regan, Niclas Rolander, Karthikeyan Sundaram, Maria Eloisa Capurro, Ott Ummelas, Monique Vanek, Alexander Weber, Paul Abelsky, Sonja Wind, James Hirai, Sarina Yoo “Kyungjin”, Onur Ant, Andrew Atkinson, Maya Averbuch, Jeremy Diamond, Vrishti Beniwal, Bastian Benrath, Matthew Brockett, Jill Elaine Disis, Toru Fujioka, Patrick Gillespie, Michael Heath, Erik Hertzberg e Harumi Ichikura.

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