O que esperar para a Selic após o IPCA de setembro, segundo 7 bancos e gestoras

Inflação acelerou menos do que o esperado no mês anterior; veja como economistas e analistas do mercado financeiro viram o resultado

Sede do Banco Central, em Brasília
12 de Outubro, 2023 | 08:21 AM

Bloomberg Línea — O avanço de 0,26% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em setembro, abaixo do esperado por economistas do mercado financeiro, reforçou as apostas de que o Banco Central deve seguir com os cortes da Selic. A taxa de juros básica está atualmente no patamar de 12,75% ao ano, depois de duas reduções seguidas de 0,5 ponto percentual.

O dado de setembro foi mais elevado do que o de agosto (0,23% na variação mês a mês), mas ficou abaixo da alta de 0,33% esperada por economistas consultados pela Bloomberg. O resultado foi pressionado para cima pelo avanço de 2,80% da gasolina no período, o que levou a inflação em 12 meses a chegar a 5,19%, acima dos 4,61% observados até agosto.

Luciana Rabelo, economista do Itaú, afirma que o resultado da inflação teve surpresas para baixo, com aumento menor da gasolina do que o esperado e uma redução dos preços de alimentação no domicílio, e indicou que a expectativa é de uma desinflação maior à frente. A equipe do Itaú projetava aumento de 0,35% no mês, acima do consenso.

“A leitura do IPCA de setembro segue mostrando melhora consistente da inflação, com abertura benigna de núcleos. Na média móvel de três meses, com dados dessazonalizados e anualizados, a média dos núcleos ficou relativamente constante (3,6%, de 3,5%). A métrica de difusão, tanto para o índice cheio quanto para o núcleo do IPCA-EX3, continuou mostrando queda adicional, sinalizando maior desinflação adiante. A surpresa baixista do dado de hoje indica viés de baixa para a nossa projeção de IPCA de 4,9% no ano”, afirma a economista em relatório.

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Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, afirma que os dados vieram “melhores do que indicavam as projeções de economistas” e que, agora, “os economistas e o Banco Central (BC) voltam suas atenções para os componentes que indicam o que o Copom tem chamado de uma segunda etapa de desinflação”.

“Neste sentido, os núcleos desacelerando são um bom sinal para a condução da política monetária em diante. Serviços, ainda pressionados por passagem aérea e serviços intensivos em trabalham, voltam a acelerar o que ainda deve indicar cautela por parte do Copom”, diz Mercadante. “Assim, não esperamos mudanças para a condução da política monetária neste ano, com a taxa Selic encerrando 2023 a 11,75%. Mesmo sem mudanças de perspectiva, o dado foi bom, a melhora na difusão também reforça a ideia de que a desinflação é lenta, mas está ocorrendo.”

David Beker e Natacha Perez, da equipe do Bank of America (BAC), indicaram que a desaceleração do núcleo de inflação e a difusão benigna reforçam a visão de que a inflação subjacente está “bem comportada” e que os riscos de alta estão em componentes que não fazem parte do núclelo. A equipe do BofA projetava alta de 0,25%, abaixo do consenso e mais próximo do resultado.

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“A leitura sustenta uma redução continuada de 50 pontos-base por reunião, o que indica que o Banco Central pode proceder como planejado e levar a taxa Selic a 12,25% na próxima reunião de 1º de novembro. Esperamos uma inflação de 4,8% no fim de 2023 e de 3,7% no fim de 2024. Dito isso, vemos a taxa Selic em 11,75% ao fim de 2023 e de 9,5% no fim de 2024.”

Marco Antonio Caruso, economista-chefe do Picpay, e Igor Cadilhac, economista do Picpay, acreditam que o quadro inflacionário benigno é “compensado pelas incertezas geopolíticas e do juro longo norte-americano”. Segundo eles, os próximos cortes serão novamente de 0,50 ponto percentual.

“Olhando à frente, por ora mantemos nossa projeção para 2023 em 4,9%. Eventuais riscos de baixa vêm principalmente (1) do contágio positivo (em termos de menor inflação) dos preços de bens sobre os demais, (2) do bom comportamento dos núcleos e sua conhecida inércia, e (3) do combate à inflação de forma sincronizada mundo afora”, afirmam.

“Do outro lado, temos monitorado (1) o mercado de commodities, principalmente o petróleo, (2) os aumentos salariais (incluindo a regra do salário-mínimo) em um ambiente de pleno emprego e (3) os eventuais efeitos do El Niño sobre itens in natura.”

O economista André Perfeito entende que o “resultado é muito bom e reitera uma visão mais benigna da política monetária que deve continuar com cortes de 50 pontos base na taxa básica levando a Selic para 11,75% ao final do ano”.

“O mercado deve manter as projeções de Selic em 9% ao final do ciclo e se isto realmente se confirmar devemos ter um Produto Interno Bruto (PIB) mais forte em 2024. Atualmente projeto PIB em 2% para o ano que vem, mas as chances hoje são maiores para 3%”, afirma.

Para a Warren Rena, a leitura confirma que a inflação de serviços segue em rota esperada, a de “continuidade da desaceleração”.

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“O grupo de serviços subjacentes atingiu 3,6% na média móvel de 3 meses dessazonalizada e anualizada. Na mesma linha, a difusão de serviços, medida que mostra o percentual de itens com aumentos de preços, passou de 72% para 47% em setembro, menor patamar desde setembro de 2020″, diz Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Rena.

A projeção para o IPCA deste ano, segundo a Warren, é de 4,6%, abaixo do teto da meta, e 3,9% para 2024. Para os próximos dois meses, a alta estimada é de 0,32% e 0,29%, acelerando para 0,44% em dezembro.

A XP Investimentos (XPBR31) definiu o IPCA de setembro como benigno, em especial pelo repasse mais rápido dos combustíveis feitos pela Petrobras (PETR3; PETR4). Segundo Alexandre Maluf, economista da XP, “a mensagem geral é a de que a inflação de serviço, a que o Banco Central chama de segundo estágio de desinflação, tem ocorrido”.

“Não achamos que esses dados são capazes de romper a barra alta que o BC diz que seria necessária para acelerar o ritmo de corte de juros. A gente acha que a cabeça dos banqueiros centrais ainda não vai mudar”, diz Maluf.

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O Goldman Sachs (GS), por sua vez, enxerga que os preços mais baixos dos alimentos, a deflação dos preços no atacado e a inflação realizada moderada devem apoiar a continuação de um ciclo gradual de alívio monetário.

“No entanto, o espaço para uma aceleração iminente no ritmo de cortes de juros é muito limitado, dadas as perspectivas com atividade econômica resiliente, mercado de trabalho apertado, fechamento significativo da lacuna de produção, política fiscal e quasi-fiscal expansionista, inflação de núcleo e serviços acima de 5% e expectativas de inflação ainda não ancoradas no curto e médio prazo”, afirmam os economistas do banco.

Além disso, para os analistas do Goldman, “o equilíbrio de riscos para a inflação de alimentos e combustíveis agora está claramente inclinado para cima, e os fundamentos da inflação de serviços (mercado de trabalho e transferências fiscais) demandam cautela”.

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Tamires Vitorio

Jornalista formada pela FAPCOM, com experiência em mercados, economia, negócios e tecnologia. Foi repórter da EXAME e CNN e editora no Money Times.