As razões para o maior crescimento da economia do Brasil em 2023, segundo o FMI

Fundo Monetário Internacional elevou a projeção de expansão do PIB brasileiro de 2,1% para 3,1% em 2023, na contramão da desaceleração global

Rua de comércio em São Paulo: Expansão do consumo e do setor de serviços impulsiona a atividade
10 de Outubro, 2023 | 10:47 AM

Bloomberg Línea — A revisão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o desempenho da economia mundial, divulgada nesta terça-feira (10), aponta o Brasil como um dos países que terão uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023 maior do que a esperada anteriormente.

A economia brasileira deve crescer 3,1% neste ano, de acordo com as projeções. O número é 1 ponto percentual mais alto do que o estimado na revisão anterior, feita em julho pelo órgão, e a maior diferença positiva entre as grandes economias mundiais analisadas. Para 2024, a estimativa é de um crescimento de 1,5% do PIB do Brasil.

O desempenho chama a atenção no momento em que o mundo passa por uma desaceleração, e vive os efeitos do aperto monetário e da inflação elevada.

O FMI projeta que a economia mundial deve crescer 3% em 2023, uma queda em relação ao ano passado (3,5%) e abaixo da média histórica de 3,8% ao ano para o período entre os anos 2000 e 2019.

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Para a América Latina, a projeção é de uma expansão de 2,3% este ano e em 2024, depois de uma alta de 4,5% no ano passado.

Entre as grandes economias, apenas a Índia (6,3%), a China (5%) e o México (3,2%) devem ter expansão maior que a do Brasil em 2023, segundo as projeções do FMI.

Por que o Brasil deve crescer mais em 2023, de acordo com o FMI?

O FMI aponta três razões principais para o maior crescimento da economia do Brasil em 2023: a expansão da agricultura, a resiliência do setor de serviços e o aumento do consumo, que tem sido apoiado por estímulos fiscais do governo Lula.

O maior crescimento do Brasil, bem como do México, levou o órgão a rever para cima o crescimento da América Latina em 2023, de 1,9% para 2,3%.

“A revisão para cima de 2023 desde julho reflete um crescimento mais forte do que o esperado no Brasil, revisado para cima em 1,0 ponto percentual, chegando a 3,1 por cento, impulsionado pelo setor agrícola robusto e pelos serviços resilientes no primeiro semestre de 2023. O consumo também se manteve forte, apoiado pelo estímulo fiscal”, aponta o órgão no documento do relatório de 182 páginas do relatório econômico mundial (World Economic Outlook).

A expansão do setor agropecuário e de serviços já vinha sendo apontada por economistas do mercado financeiro como alguns dos fatores para o desempenho acima do esperado da economia brasileira em 2023.

No acumulado dos quatro trimestres encerrados em junho de 2023, o setor agropecuário teve expansão de 11,2%, enquanto os serviços subiram 3,3%, de acordo com os dados do PIB do segundo trimestre divulgados pelo IBGE. Já o consumo das famílias, um importante fator que impulsiona a economia, subiu 3,9% no mesmo período.

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Outro aspecto mencionado pelo FMI é o estímulo fiscal. Depois de encerrar 2022 com superávit primário, o governo deve ter um déficit de 1,1% do PIB, segundo as projeções do relatório Focus, do Banco Central.

O resultado reflete o aumento de despesas para programas sociais, como o Bolsa Família, o maior valor do salário mínimo, reajustes de salários de servidores públicos, entre outros gastos.

É um ponto que tem sido apontado como motivo de preocupação por economistas do mercado financeiro.

No momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva eleva os gastos e tem dificuldade para criar mecanismos de compensação com o aumento receitas, a maior parte dos economistas prevê que o governo não conseguirá cumprir a meta de zerar o déficit fiscal em 2024 (com intervalo de tolerância de 0,25 ponto porcentual para cima ou para baixo).

A previsão de economistas é de um déficit de 0,83% do PIB no ano que vem, também segundo o Focus.

A expansão fiscal não é exclusividade do Brasil, e é um ponto de atenção mencionado também pelo FMI. De acordo com a entidade, é preciso que a política fiscal esteja alinhada à política monetária dos bancos centrais para que o combate à inflação elevada seja efetivo.

“A política fiscal precisa apoiar a estratégia monetária e auxiliar no processo de desinflação. Em 2022, as políticas fiscal e monetária estavam indo na mesma direção, pois muitas das medidas fiscais de emergência relacionadas à pandemia estavam sendo desfeitas. Em 2023, o grau de alinhamento diminuiu”, afirma a entidade, em texto assinado pelo economista-chefe Pierre-Olivier Gourinchas.

Segundo o órgão, o caso mais preocupante é o dos Estados Unidos, onde a política fiscal se deteriorou “substancialmente”. “A política fiscal nos EUA não deve ser pró-cíclica, ainda menos nesta fase do ciclo de inflação”, diz.

Para o FMI, as políticas dos governos em relação às despesas públicas em todos os países deveriam se concentrar em reconstruir as políticas contracíclicas que foram afetadas pela pandemia e pela crise energética, como a redução dos subsídios governamentais à energia e aos combustíveis.

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Filipe Serrano

É editor da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.