Mercado deve enfrentar volatilidade até segundo turno na Argentina

Disputa final entre Massa e Milei era o resultado que mais preocupava os investidores do mercado de dívida

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Por Manuela Tobías - Scott Squires
23 de Outubro, 2023 | 08:36 AM

Bloomberg — A eleição presidencial na Argentina será decidida em um segundo turno entre o ministro da Economia, Sergio Massa, que surpreendeu ao liderar a votação de domingo, e o libertário Javier Milei. É o cenário politicamente polarizado que os investidores mais temiam.

Com quase todos os votos contados, Massa garantiu 37%, enquanto Milei teve 30%. Foi uma virada para o candidato do governo peronista, que havia ficado em terceiro lugar nas eleições primárias de agosto, enquanto o outsider que sugeriu “colocar fogo” no banco central e dolarizar a economia saiu na frente.

Patricia Bullrich, a candidata pró-negócios e preferida pelos investidores, ficou em terceiro lugar no domingo, com 24% dos votos. Sua saída coloca em risco o futuro de uma coligação de centro-direita que até recentemente era vista como a que tinha mais chances de derrubar a aliança peronista do poder. Tanto Massa quanto Milei não perderam tempo em acenar para seu eleitorado em seus discursos.

Quem sair vencedor no mês que vem terá a tarefa quase impossível de salvar um país que já foi rico da beira do colapso. São dois candidatos com opiniões diametralmente opostas.

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Massa é um veterano do movimento peronista, que governou a Argentina durante a maior parte dos últimos 20 anos e não quer largar o poder apesar de um legado econômico desastroso, com inflação acima de 138%.

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Até que os argentinos decidam, o país terá de suportar mais um mês de volatilidade. Em seu duplo papel de chefe da econômica e candidato, Massa utilizou toda sua astúcia política nas últimas semanas para cortar impostos e aumentar gastos sociais conquistar apoio popular.

Sua liderança no primeiro turno mostra que a estratégia funcionou, seguindo o conselho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de parar de se preocupar em acumular dólares, e focar em ganhar votos.

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A segunda maior economia da América do Sul chegou à votação de domingo com alto nível de ansiedade. Negócios suspenderam vendas, as pessoas sacaram dólares dos bancos e as corretoras pararam de aceitar novos pedidos para determinados investimentos.

Massa provavelmente tentará evitar uma desvalorização da moeda, como fez no dia seguinte às primárias, mesmo que isso signifique esgotar mais ainda as reservas internacionais para sustentar o câmbio oficial.

Um segundo turno entre Massa e Milei era o resultado que mais preocupava os investidores do mercado de dívida, porque prolonga a incerteza em um momento em que a Argentina precisa de mudanças na política econômica. A maioria dos títulos externos do país tem sido negociada abaixo de 30 cents por dólar nas últimas semanas, com os investidores exigindo taxas altíssimas que sinalizam que um décimo calote se aproxima.

O futuro do programa de US$ 43 bilhões da Argentina com o Fundo Monetário Internacional está em suspenso até que um novo governo tome posse em 10 de dezembro.

Massa não cumpriu nenhuma das principais metas que normalmente são cruciais para o FMI continuar com seus desembolsos, a única grande fonte de financiamento internacional disponível para a Argentina no momento. Os responsáveis do FMI apelaram ao próximo governo que impulsione a economia rapidamente, porque não há tempo para políticas graduais.

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