Clubes de elite chegam a cobrar mais de R$ 700 mil de novos sócios em São Paulo

Do Paulistano e do Pinheiros ao Harmonia, há um mercado em que a demanda vai muito além da oferta limitada e em que só o dinheiro pode não ser suficiente; filas de espera chegam a dois anos

Vista de uma das piscinas do Club Athletico Paulistano, no Jardim América, em São Paulo (Foto: Reprodução/Instagram)
25 de Fevereiro, 2024 | 07:45 AM

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Bloomberg Línea — Exclusividade, segurança e muitas opções de lazer dentro da cidade de São Paulo, a poucos minutos de sua casa. Os clubes sociais mais desejados da maior cidade do país conjugam esses elementos como uma espécie de refúgios da elite, em que o acesso às suas instalações é um luxo reservado aos que compartilham de um status socioeconômico particular, em que apenas o dinheiro não é suficiente.

De famílias tradicionais da cidade mais rica do Brasil a executivos do setor financeiro - e de outras indústrias - e jovens empreendedores em rápida ascensão se encontram em uma rede de conexões pessoais e profissionais em atividades que passam do tênis e da corrida até festas para seus filhos.

Quem busca se tornar sócio enfrenta um desafio que vai além da questão financeira: muitos dos clubes tradicionais não dispõem mais de novos títulos, o que leva à criação de uma espécie de “mercado secundário” para negociações de preços de títulos, além de uma lista de espera que pode durar dois anos. Em alguns casos, também é necessário contar com a recomendação de até 15 sócios atuais.

Para quem busca espaços mais contemporâneos, há clubes que estão na fase de execução de projeto, como o São Paulo Surf Clube, o Beyond The Club e o Soho House São Paulo.

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Para ser sócio do segundo empreendimento, por exemplo, o desembolso total chega a R$ 715 mil. Por outro lado, no centenário Club Athletico Paulistano, fundado em 1900 no Jardim América, só a taxa de adesão alcança a cifra de R$ 750 mil, além de R$ 20 mil pelo título.

A Bloomberg Línea consultou os clubes sociais mais exclusivos ou desejados da cidade - não entraram na lista clubes de campo ou de golfe, por exemplo - sobre sua política de adesão e venda de títulos:

No Club Athletico Paulistano, o candidato a sócio paga R$ 20 mil pelo título e R$ 750 mil de taxa de adesão. O valor é para um indivíduo ou família. A contribuição social custa R$ 559,35 por mês para o título individual e R$ 932,21 para o familiar. Exige-se a indicação de sete sócios e o processo de admissão dura entre 30 e 40 dias.

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Na Hebraica, no Jardim Paulistano, os valores da adesão são distintos: R$ 224 mil (família) e R$ 168 mil (individual). O candidato precisa ter três indicações, dos quais um diretor ou conselheiro.

A mensalidade custa R$ 709,35 (individual). Se for cônjuge, paga R$ 354,68. Depois do envio de termo de reserva com anuência do diretor ou do conselheiro indicado, há um período de 7 a 15 dias úteis para análise do clube.

Fundado em 1930 por antigos sócios do Athletico Paulistano, o Harmonia tem o título individual a R$ 150 mil. Para uma família, são necessários dois títulos. Quem não tem vínculo familiar no clube precisa pagar uma taxa de transferência de R$ 534 mil.

Há prioridade para ex-sócios que querem retornar ao clube. São necessárias também as indicações de 15 sócios, como amigos, para quem não tem vínculo e quiser dar entrada no processo. O tempo de análise é de seis meses. Uma lista de “não prioritários” foi aberta, mas não há vagas para novos sócios.

No Esporte Clube Pinheiros, que fica em uma das áreas mais valorizadas de São Paulo, no Jardim Paulistano, com o Shopping Iguatemi como vizinho, a análise de proposta de novo sócio leva, em média, de 90 a 120 dias. Para maiores de 16 anos, o candidato precisa passar por entrevista.

O site do clube disponibiliza uma lista de sócios que estão vendendo títulos e os respectivos contatos. A reportagem encontrou 68 pessoas com títulos à venda por valores entre R$ 88 mil e R$ 110 mil. A lista é atualizada duas vezes por semana. É uma negociação individual, ou seja, em que o clube não interfere.

Mas encontrar um sócio disposto a vender o título e realizar o pagamento não basta. É preciso também pagar uma taxa de transferência que custa atualmente R$ 151.740. Contar com parente de primeiro grau, como pai ou mãe, irmão, neto etc. dá direito a desconto na taxa de transferência.

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A mensalidade do Pinheiros, como o clube é conhecido, custa R$ 562. É uma contribuição fixa.

No Clube Paineiras do Morumbi, há uma lista de mais de 900 pessoas interessadas em comprar um título, dado que o clube não vende mais títulos novos. Isso significa que a espera pode durar até dois anos, segundo apurou a Bloomberg Línea com pessoas a par do processo de admissão de novos sócios.

O preço do título, negociado por sócios, pode chegar a R$ 100 mil. Segundo informações não oficiais do clube, em média, a cada trimestre, apenas cinco sócios decidem vender os respectivos títulos.

Além do título, é preciso pagar uma taxa de transferência de R$ 200 mil (parcelado) ou R$ 180 mil (à vista). O interessado é orientado a deixar o contato para receber e fazer ofertas por título.

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A mensalidade do título familiar custa R$ 1.195.

Novos clubes

O São Paulo Surf Club, o Beyond The Club e o Soho House estão entre os novos projetos de clubes sociais da capital paulista.

O São Paulo Surf Club, um empreendimento da JHSF, tem inauguração prevista para o segundo semestre de 2024 e prevê oferecer uma estrutura que reúna esporte, lazer e gastronomia. São 1.000 títulos, com duas opções de membership, o familiar e o individual.

O familiar é válido para o titular, cônjuge e 3 dependentes de até 35 anos e é vendido por R$ 900 mil. O individual é válido para o titular e é vendido por R$ 605. mil.

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A anuidade dos memberships é em torno de R$ 25.000. Segundo a JHSF, já foram vendidos R$ 120 milhões em Memberships. O futuro clube é localizado em frente à Ponte Estaiada, no Complexo Cidade Jardim, na zona sul da cidade, com projeto de Sig Bergamin, Murilo Lomas e PSA Arquitetura.

Além da piscina para prática de surfe American Wave Machines, com tecnologia PerfectSwell, e Surf Clubhouse, o clube contará com restaurante e bar, spa, academia, quadras de tênis cobertas e descoberta, beach tennis, quadra de pickleball, squash e poliesportiva.

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O Beyond The Club, um clube com praia artificial e ondas para o surfe, deve ficar pronto em junho de 2025 e fica ao lado do ponte Transamérica, na zona sul da capital paulista. Pela tabela oficial, o candidato paga R$ 715 mil, dos quais 10% no ato, 20% em 15 parcelas mensais e, depois, em junho de 2025, 70% do valor. Um consultor ouvido pela Bloomberg Línea disse que há margem para negociação.

“São 3.000 títulos familiares. Já vendemos um terço em um ano. A demanda é grande. Cada título começou a ser vendido por em torno de R$ 500 mil, disse Oscar Segall, CEO da KSM Realty, empresa à frente do empreendimento, em parceria com a BTG Pactual Asset Management e a Realty Properties, em entrevista à Bloomberg Línea.

O diferencial do novo clube, em fase de obras, é uma piscina com ondas artificiais, desenvolvida pela espanhola Wavegarden, com área aproximada de 28 mil metros quadrados. Nesse espaço funcionará uma escola de surfe com capacidade para atender 900 participantes por dia, que poderão usufruir dos 24 tipos de ondas geradas por 62 motores, capazes de criar uma onda a cada quatro segundos. O investimento previsto é de R$ 1,1 bilhão. Haverá ainda restaurantes, academia, pista de skate, entre outros espaços.

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Já o Soho House, uma marca internacional, tem um modelo diferente de acesso e cobrança. Não há um título vitalício. A unidade em São Paulo cobra R$ 8.150 por ano e tem uma taxa única de inscrição (R$ 3.800), cujo valor é convertido em crédito para membros e pode ser usado em restaurantes, bares e nos quartos.

O sócio no país terá acesso a todas as outras unidades do Soho House ao redor do mundo, com exceção de Little Beach House Malibu, que requer uma adesão adicional chamada Malibu Plus Membership.

O clube fica localizado no complexo Cidade Matarazzo, que abriga o Hotel Rosewood, primeiro hotel 6 estrelas do Brasil, na região da avenida Paulista, cercada por lojas, restaurantes e atrações culturais. Será o segundo Soho House na América Latina e o primeiro na América do Sul.

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“A cultura, a arte e a criatividade fazem parte da essência do Matarazzo, e a Soho House é vital para nosso ecossistema e para inspirar nossa comunidade em um ambiente transformador, onde muitas ideias disruptivas nascem”, disse Alexandre Allard, idealizador e fundador do complexo, em nota.

O Soho House ocupa parte do antigo Hospital Umberto I, espaço que estava abandonado e tombado como patrimônio cultural, que foi restaurado e se transformou na Cidade Matarazzo. O clube, inicialmente com inauguração prevista para dezembro passado e sem nova data divulgada, contará com 36 quartos, academia, spa, piscina e bar na cobertura, além de restaurantes e espaços exclusivos para membros.

- Matéria atualizada às 21h30 de domingo (25 de fevereiro) com informações do São Paulo Surf Club.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.