Como o Brasil se tornou um imã de capital para o combustível verde de aviação

A produção de combustível limp no Brasil tem potencial para atingir cerca de 50 bilhões de litros até 2030, de acordo com dados preliminares de um estudo realizado por Airbus, Latam e MIT

Usina de açúcar e etanol no interior de SP
Por Dayanne Sousa - Clarice Couto
07 de Novembro, 2024 | 04:26 PM

Bloomberg — Um impulso global para descarbonizar as viagens aéreas fez com que grupos de grandes petrolíferas a fundos soberanos apostassem no Brasil para se tornar um importante centro global de combustível verde para aviação.

O Brasil tem virado um ímã para investimentos à medida que os países correm para conquistar uma fatia do que promete ser um mercado em rápido crescimento, com a Shell e a Mubadala Investment, de Abu Dhabi, considerando a abertura de novas fábricas de combustível de aviação sustentável no país.

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O interesse se deve em parte ao fato de que o país é o segundo maior produtor mundial de etanol, que pode ser utilizado para produzir o SAF, sigla em inglês para combustível de aviação sustentável.

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O Brasil tem uma abundância de culturas baratas para produzir biocombustíveis, proporcionando ao país uma vantagem sobre os concorrentes, incluindo os Estados Unidos.

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Muitos dos suprimentos do Brasil também têm melhor classificação relacionada às emissões de carbono, fundamental para atender aos requisitos de produção de SAF.

“O Brasil está em uma posição muito privilegiada para ser o centro mundial de SAF”, disse Bruno Serapião, CEO da produtora de açúcar e etanol Atvos Agroindustrial.

A empresa, apoiada pelo Mubadala, atualmente considera investir em uma unidade SAF que utilizará a tecnologia de alcohol-to-jet, convertendo etanol em combustível de aviação.

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O SAF é um dos poucos caminhos que a indústria da aviação tem à sua disposição para reduzir a pegada de carbono, que representa cerca de 2,5% das emissões globais.

O interesse no combustível verde para aviação tem aumentado, impulsionado pelo apoio político, especialmente na União Europeia e nos Estados Unidos, mas a procura excede largamente a oferta disponível e a previsão é de que continue a crescer.

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Ricardo Mussa, CEO da empresa de açúcar e etanol Raízen (RAIZ4), disse que a produção de etanol do Brasil o coloca em uma posição forte para ser um grande exportador de SAF.

“Para cada litro de SAF, precisamos de 1,7 litro de etanol, então o melhor lugar para produzir seria na origem, no Brasil”, disse Mussa no Bloomberg New Economy at B20 em São Paulo em outubro.

A produção de combustível de aviação verde no Brasil tem potencial para atingir cerca de 50 bilhões de litros até 2030, com mais investimentos na agricultura, de acordo com dados preliminares de um estudo realizado pela Airbus, pela Latam Airlines e pelo Massachusetts Institute of Technology.

O volume é semelhante à produção potencial dos Estados Unidos, mas o Brasil deverá ser um maior exportador, uma vez que a produção americana tende a ser consumida internamente.

As empresas e autoridades no Brasil esperam que o SAF produzido a partir do etanol do país seja mais eficaz do que outras alternativas à base de produtos agrícolas. Isso se deve principalmente à forma como os padrões internacionais estão sendo elaborados.

De acordo com dados da Organização da Aviação Civil Internacional, o etanol de cana-de-açúcar brasileiro tem emissões de carbono mais baixas em comparação com outras possíveis matérias-primas do SAF, como o óleo de soja ou o etanol à base de milho dos EUA.

Dessa forma, o SAF produzido no Brasil provavelmente seria mais eficiente para ajudar as companhias aéreas a atingir metas de redução de emissões de carbono.

“Quanto mais exigentes forem os planos de redução de emissões, quanto maior o preço do carbono, mais bem posicionado o Brasil estará”, disse Marcelo Moreira, sócio da consultoria Agroicone.

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O Brasil já envia etanol para usinas norte-americanas que transformam o produto em SAF. Agora, o país quer construir suas próprias usinas de combustível de aviação. O governo tem apoiado linhas de crédito e adotado novas regras que obrigam as companhias aéreas a se descarbonizar.

Ainda assim, o Brasil tem de competir com grandes incentivos fornecidos pela legislação do presidente Joe Biden, a Lei de Redução da Inflação.

“Há o risco de o etanol brasileiro ser exportado para ser convertido em SAF em qualquer outro lugar do mundo e de termos que importar SAF”, disse o CEO da BP Bioenergy, Geovane Consul. O Brasil precisa trabalhar para garantir que isso não aconteça, disse ele.

Em resposta a essas preocupações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aprovou no início deste mês a legislação “Combustível do Futuro” que cria requisitos mais amplos para os biocombustíveis. Os projetos para impulsionar a infraestrutura no país agora estão avançando a um ritmo mais rápido do que alguns esforços semelhantes dos EUA.

A FS Bioenergia, um dos principais produtores de etanol do Brasil, apoiada pela Summit AG Advisors, sediada nos Estados Unidos, disse este mês que prosseguirá com um projeto de captura de carbono para fornecer o que afirma ser o primeiro etanol com emissão negativa de carbono. Enquanto isso, a Summit Carbon Solutions enfrenta atrasos em seu pipeline de captura e armazenamento de carbono nos Estados Unidos.

Os grupos que dominam os mercados globais de combustíveis há muito estabeleceram conexões com os fabricantes de etanol no Brasil.

A Raízen, uma joint venture entre a Shell e a brasileira Cosan (CSAN3), anunciou planos para construir uma fábrica de combustível de aviação. A britânica BP também apontou recentemente para os mercados de combustível de aviação como parte da sua estratégia, depois de adquirir ações vendidas pela Bunge Global numa antiga joint-venture brasileira de etanol.

Embora muitos projetos brasileiros de SAF ainda estejam engatinhando, o fornecedor de equipamentos Honeywell International acredita que cerca de quatro a cinco novas usinas poderiam “chegar ao mercado muito em breve”, disse Ken West, CEO de soluções de energia e sustentabilidade da empresa.

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