Analistas projetam inflação menor e espaço maior para corte de juros

Prévia do IPCA de maio veio abaixo das projeções de mercado, o que reforça expectativa de redução da Selic nos próximos meses

Inflação segue perdendo força
25 de Maio, 2023 | 01:52 PM

Bloomberg Línea — O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado uma prévia da inflação oficial do país, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (25), surpreendeu positivamente o mercado ao apresentar uma desaceleração em relação a abril.

O índice subiu 0,51% em maio, abaixo do esperado por economistas do mercado financeiro consultados pela Bloomberg, que projetavam uma alta de 0,61%. O resultando foi menor do que em abril, quando o IPCA-15 teve alta de 0,57%, também abaixo das expectativas.

A desaceleração da inflação reforçou a perspectiva de investidores de que o Banco Central (BC) possa iniciar um ciclo de corte na Selic no segundo semestre, o que se refletiu no preço dos ativos. Às 13h10, no horário de Brasília, o Ibovespa (IBOV), subia 1,26%, aos 110.171 pontos.

Para Lucas Carvalho, analista-chefe da Toro Investimentos, o resultado do IPCA-15 pode dar indícios dos próximos passos do BC já no segundo semestre deste ano.

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“São vários fatores que nos mostram que se avizinha esse cenário de corte de juros. A gente não acredita que isso acontecerá em junho, vamos avaliar de fato o comunicado do Copom, mas a partir de agosto já podemos ter uma possibilidade real de queda”, afirma.

Na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada em 9 de maio, a redução inflacionária era apontada como um dos principais fatores para um corte da taxa básica de juros, ao lado do arcabouço fiscal que, segundo o Comitê, “poderia levar a um processo desinflacionário mais benigno através de seu efeito no canal de expectativas”.

O arcabouço foi aprovado nesta semana pela Câmara dos Deputados e agora segue para aprovação do Senado.

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Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital, acredita que o “aperto monetário promovido pelos juros segue atuando no desaquecimento da economia a fim de evitar um processo de resiliência inflacionária”.

“O efeito de aperto monetário ainda está em curso: os juros reais, que são os que afetam a economia, estão em território restritivo há algum tempo, mas acreditamos que mais restrição deva ser necessária para consolidar o processo de desaquecimento econômico e de consequente desinflação”, explica. Para o ano fechado de 2023, a expectativa da Tenax Capital é de um IPCA de 5,8%, enquanto a de 2024 está em 4%.

Danilo Passos, economista da WHG, não enxerga uma redução significativa na Selic a curto prazo por conta da queda na prévia da inflação. Segundo ele, a notícia é boa, mas só deve ser um sinal positivo para o Banco Central se o movimento de redução for perpetuado ao longo dos meses.

“Por ora, esse IPCA-15 lido de uma forma mais isolada não deve mudar muito a visão do BC. Ele está incomodado ainda som os níveis altos de inflação, então ele precisa ter sinais mais claros e evidentes de que a trajetória consistente de núcleos de inflação para baixo”, diz.

Para a XP Investimentos, a desaceleração teve a melhor composição de inflação do ano. Segundo o banco de investimentos, o número de maio confirma o viés de baixa para a inflação em 2023, anteriormente prevista para encerrar o ano em 6,2%, segundo a projeção da XP. Um novo número deve ser divulgado.

Em doze meses, o IPCA acumula alta de 4,07% — o menor número desde outubro de 2020. No ano, o IPCA acumula alta de 3,12%.

No relatório Focus, do Banco Central, desta semana, os economistas consultados pela autoridade monetária reduziram as projeções para a inflação para 2023 de 6,03% para 5,80%. Para 2024, as estimativas também caíram, sendo de alta de 4,13% do IPCA.

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Na visão de Claudia Moreno, economista do C6 Bank, os núcleos de inflação do Banco Central voltaram a mostrar melhora, mas seguem em patamar elevado e “a inflação mais estrutural está caindo em ritmo lento”. Segundo a economista, o setor de serviços, por exemplo, continua pressionado pelo mercado de trabalho aquecido

“A resiliência da inflação de serviços, a pressão nos núcleos e a expectativa de inflação acima da meta não são compatíveis com a convergência da inflação à meta de 3% no horizonte relevante de política monetária”, diz.

Economistas do Banco Original entendem que o comportamento dos serviços e núcleos continua a demandar cautela. “Por um lado, a dispersão, que mede a porcentagem de itens do IPCA-15 com variação positiva, subiu de 63,2% para 64,3%. Por outro, tanto a pressão sobre os preços de serviços quanto a média dos núcleos, que vem sendo a lupa para o Banco Central (BC), recuaram no mês. Serviços foi o principal destaque, passando de 0,53% em abril para uma deflação de 0,06% em maio”, afirmam Marco A. Caruso e Igor Cadilhac, em nota.

Para os próximos meses, os economistas do banco acreditam que a redução nos preços dos combustíveis pela Petrobras “vai arrefecer ainda mais a queda prevista no 1º semestre e suavizar a alta a partir do 2º semestre”, projetando um IPCA de 5,7% em 2023.

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Tamires Vitorio

Jornalista formada pela FAPCOM, com experiência em mercados, economia, negócios e tecnologia. Foi repórter da EXAME e CNN e editora no Money Times.