O que quer a Kaszek após levantar quase US$ 1 bilhão para investir em startups

Empresa de venture capital fundada por ex-executivos do Mercado Livre é uma das mais ativas na América Latina; captação ocorre em momento de baixa no mercado

Crise atual abre oportunidades para a "formação de portfólio", diz Hernan Kazah
05 de Abril, 2023 | 07:55 AM

Bloomberg Línea — Em tempos de juros altos e falta de capital para investimentos de venture capital, chama a atenção quando uma empresa de capital de risco consegue levantar recursos volumosos para aportar em startups. É o caso da Kaszek, fundada em 2011 por Hernan Kazah, cofundador do Mercado Livre (MELI), e Nicolas Szekasy, ex-CFO do gigante do comércio eletrônico.

Nesta semana, a empresa anunciou ter captado US$ 975 milhões (aproximadamente R$ 5 bilhões) para dois novos fundos, em um movimento que tende a dar novo impulso para o mercado de startups na América Latina em uma fase de investimentos em baixa.

Os dois novos fundos são o Kaszek Ventures VI e o o Kaszek Ventures Opportunity. A empresa alocou US$ 540 milhões para o fundo de estágio inicial e US$ 435 milhões para o fundo de growth, voltado para startups maduras e em estágio de crescimento.

Hernan Kazah, cofundador da Kaszek, disse à Bloomberg Línea que a empresa planeja usar o dinheiro para “investir em grandes empresas e em condições justas”, de olho em oportunidades abertas pelo momento de maior dificuldade das empresas.

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“O ambiente atual, com menos capital disponível, coloca alguma pressão na ‘gestão de portfólio’, mas também pode criar uma grande oportunidade na ‘formação de portfólio’, já que a maioria das melhores empresas surgem em tempos de crise. Foi o caso do Mercado Livre, foi o caso do Nubank, por exemplo”, afirmou o investidor, citando duas das empresas eram próximas do fundo.

Kazah disse que começou a captação dos fundos no dia 1º de fevereiro e encerrou em 31 de março. Segundo ele, os recursos vieram em sua maioria do mesmo grupo de investidores que já tinha aportado em outros fundos anteriores da Kaszek. A estratégia, ele diz, é olhar para os próximos 10 a 12 anos, seguindo as tendências seculares de mudança tecnológica.

“Continuamos a ser agnósticos do setor. Investimos principalmente em fundadores extraordinários que tentam disruptar ou criar grandes mercados. Os fundadores são os que nos ensinam quais são os setores interessantes”, afirmou.

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Mesmo assim, a Kaszek acredita que há boas oportunidades em fintech, “talvez mais do lado B2B do que B2C”, disse Kazah, acrescentando que a empresa também está otimista com empresas de infraestrutura financeira, blockchain, marketplaces, healthtech e climatech.

A captação da Kaszek ocorre em uma fase de queda dos aportes em startups no mundo e na América Latina. No Brasil, os investimentos em venture capital caíram 18% em 2022 ante 2021, segundo o Sling Hub, acompanhando o movimento global de aversão ao risco à medida que as taxas de juros subiram pelo mundo. Em 2022 foram investidos US$ 12,1 bilhões na América Latina ante US$ 18,5 bilhões em 2021, US$ 5,8 bilhões em 2020 e US$ 6,4 bilhões em 2019, segundo o Sling Hub.

No ano passado a América Latina espanhola teve melhor performance do que o Brasil em volume de investimentos pela primeira vez, muito por conta da queda de rodadas maiores do que US$ 100 milhões.

Investimentos da Kaszek

A Kaszek é uma das empresas do ramo mais ativa na região. Ela administra mais de US$ 1 bilhão em capital e tem 86 empresas ativas em seu portfólio em toda a região, segundo dados do PitchBook. A Kaszek diz que já investiu em mais de 100 empresas.

Entre as startups investidas estão os unicórnios Kavak, Bitso, Gympass, Loggi, QuintoAndar, Creditas e NotCo. Algumas delas já renderam saídas e deram retorno. Um dos grandes êxitos da empresa foi o investimento no Nubank (NU). Ao todo, a Kaszek teve 41 saídas até o momento, segundo o provedor de dados PitchBook.

Empresa do investidor administra portfólio de US$ 1 bilhãodfd

A Kaszek também participou da aquisição da PedidosYa pela Delivery Hero, da Love Mondays pelo Glassdoor, da VivaReal pelo Grupo ZAP e do IPO da Netshoes em 2017. Segundo dados do PitchBook, 2021 foi o ano mais ativo da Kaszek, com 55 rodadas e oito saídas. Neste ano a empresa teve três rodadas e uma saída.

Nem todas as empresas investidas pelo fundo tiveram sucesso, o que faz parte do jogo quando se atua neste setor. Startups como a Neta Mx, a NetCom e a Hash, por exemplo, fecharam as portas, gerando perdas no balanço dos fundos da empresa.

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“Durante um mercado em alta, as baixas contábeis [write-offs] geralmente diminuem à medida que o excesso de capital oculta ou atrasa algumas baixas. Então, durante os mercados de baixa, o oposto acontece”, disse Kazah, que afirma que o mercado deve ver mais fechamentos de startups por um tempo até que reencontre o equilíbrio.

Questionado sobre a possibilidade de liderar rodadas a valuations (avaliação de valor) mais baixos do que investimentos anteriores, Kazah disse que “se as avaliações forem mais altas ou mais baixas em relação às últimas rodadas, isso seria caso a caso, mas não é improvável que alguns casos [de rodadas com avaliações menores] possam fazer sentido, mas em avaliações redefinidas”.

A Kaszek levantou o KV-I, de US$ 95 milhões em 2011, o KV-II, de US$ 135 milhões em 2014, o KV-III de US$ 200 milhões em 2017, o KV-IV de US$ 375 milhões e o KV Opportunity Fund I, de US$ 225 milhões em 2019, totalizando US$ 600 milhões, e o KV-V e US$ 475 milhões e o KV Opportunity Fund II, e US$ 525 milhões, em 2021, totalizando US$ 1 bilhão.

Kazah não divulga os retornos dos fundos, mas afirma que o primeiro deles, de 2011, “tem tido um retorno forte em dólar, muito mais forte em reais, e achamos que pode estar no topo entre os fundos de sua safra”, disse à Bloomberg Línea.

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Para os outros fundos, Kazah acredita que “esses fundos produzirão fortes retornos para nossos LPs [Limited Partners, isto é, os fundos de pensão, family offices, endowments que aportam nos fundos]”.

O dinheiro administrado pela Kaszek vem principalmente dos Estados Unidos, mas também da Europa, Ásia e América Latina. “Não temos LPs no Oriente Médio por enquanto”, disse Kazah.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups