Bolsonaro deixa Orlando e chega de volta ao Brasil depois de três meses

Ex-presidente deve fixar residência em Brasília e seu partido espera que ele lidere a oposição ao governo Lula, eleito nas urnas em outubro do ano passado

Jair Bolsonaro em evento público do Partido Republicano no período em que esteve nos Estados Unidos
Por Daniel Carvalho
30 de Março, 2023 | 12:08 PM

Bloomberg — Depois de três meses na Flórida, Jair Bolsonaro retornou ao Brasil nesta quinta-feira (30) pela manhã.

Os movimentos de direita inspirados por Bolsonaro aguardavam ansiosamente o retorno do ex-presidente, que perdeu a reeleição em outubro passado por margem apertada, mesmo com a conquista de mais de 58 milhões de votos.

O Partido Liberal (PL) de Bolsonaro espera que ele reúna tanto os aliados no Congresso quanto os apoiadores em todo o país, chacoalhando os esforços da oposição no momento em que os aumentam os desafios econômicos para o governo Lula.

Mas o retorno também traz riscos para Bolsonaro, 68 anos, que enfrenta uma onda de processos e investigações judiciais, incluindo uma sobre seu suposto envolvimento nos ataques às instituições democráticas - Supremo Tribunal Federal, Congresso Nacional e Palácio do Planalto de 8 de janeiro - em Brasília por grupos de direita que se recusaram a aceitar sua derrota na eleição de outubro.

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Bolsonaro também enfrenta escrutínio sobre os R$ 16 milhões em joias que um de seus aliados tentou trazer para o Brasil após uma viagem oficial à Arábia Saudita enquanto ele ainda era presidente, e novos relatos nesta semana de que ele pode ter tentado esconder outros presentes presidenciais.

Embora Bolsonaro ainda tenha atraído a atenção do exterior, ele terá mais poder para comandar a oposição a Lula diretamente do Brasil, disse Nara Pavão, professora de política da Universidade Federal de Pernambuco.

“Bolsonaro tentou, ao longo desse exílio autoimposto, colocar-se na posição de mártir, para manter seu grupo unido”, disse Pavão. “Mas sua visibilidade diminuiu.”

“O retorno dele para o Brasil vai ter alguns efeitos. O primeiro deles é dar mais força ao bolsonarismo”, acrescentou.

Deixando de lado as preocupações legais, Bolsonaro insistiu durante suas férias nos EUA que eventualmente voltaria para assumir o comando do movimento.

“Estamos retornando a uma normalidade”, disse ele em entrevista à mídia brasileira nesta semana. “Vou me reunir com o partido, que tem aproximadamente 20% das cadeiras da Câmara e do Senado, e vamos discutir nossa estratégia.”

Voo comercial

Bolsonaro pousou em Brasília na manhã desta quinta-feira em um voo comercial de Orlando, onde estava desde que deixou o Brasil, dois dias antes do fim oficial de seu mandato. Representantes do PL disseram à Bloomberg News que solicitaram ao governo da capital do país que reforçasse a segurança do aeroporto para preparar sua chegada.

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Embora alguns de seus aliados inicialmente tenham se distanciado de Bolsonaro após os ataques deliberados que causaram a destruição desenfreada em Brasília, o ex-presidente provavelmente manterá uma influência considerável no Congresso, que é fundamental para a governabilidade no Brasil.

O Partido Liberal conquistou a maior parcela das cadeiras na legislatura nas eleições de outubro do ano passado, ganhando 99 das 513 posições da Câmara dos Deputados. Os líderes do partido veem a presença de Bolsonaro como vital para seus esforços para eleger mais de 1.000 prefeitos nas eleições de 2024, contra 352 em 2020.

O partido disse que planeja fazer de Bolsonaro seu “presidente honorário” e pagar a ele um salário “de ministro do STF” – atualmente cerca de R$ 42.000 por mês.

“Naturalmente, ele assume um papel de líder da oposição”, disse o deputado Eduardo Bolsonaro sobre a estratégia de seu pai em uma entrevista na terça-feira (28). “Acredito que o presidente Bolsonaro tenha um papel nacional e vá aderir ao plano de rodar o Brasil inteiro.”

Fim das férias

O fim da estadia de Bolsonaro na Flórida também resolverá um dilema diplomático para a Casa Branca e para o governo Lula. O presidente dos EUA, Joe Biden, tem enfrentado dúvidas desde janeiro sobre se o líder brasileiro teria permissão para permanecer no país, especialmente depois que ele solicitou um visto de turista de seis meses.

O governo do Brasil também considerou suas opções para um pedido de extradição de Bolsonaro, embora Lula tenha dito que tal decisão caberia aos tribunais.

Ao mesmo tempo, o plano do ex-presidente de morar em Brasília, a poucos quilômetros do centro de poder do país, também pode ajudá-lo a liderar uma oposição mais efetiva a Lula.

Quase 100 dias depois do começo de seu governo, o líder de esquerda enfrenta uma pilha crescente de desafios: a possibilidade de uma recessão econômica, semanas de luta prolongada com o Banco Central em um esforço para reduzir as taxas de juros e testes ao tamanho de sua base no Congresso antes de apresentar propostas importantes para mudar a Constituição.

Mas o retorno de Bolsonaro também pode reforçar divisões políticas acentuadas de uma forma que pode ajudar Lula, especialmente entre os brasileiros mais moderados, disse Pavão.

“Grande parte do apoio que Lula recebeu na eleição vem da rejeição a Bolsonaro”, disse ela.

Uma vez estabelecido no Brasil, os aliados de Bolsonaro esperam que ele comece a percorrer o país, realizando o tipo de desfile de motocicletas que se tornou uma marca registrada de sua campanha de 2022.

Michelle Bolsonaro também está organizando comícios em todo o Brasil e considerando uma possível candidatura se a Justiça Eleitoral decidir que seu marido não pode concorrer novamente em razão de questões legais, segundo duas pessoas familiarizadas com o plano.

“Ele tem todas as condições de fazer oposição ao atual governo de forma a assegurar o retorno dele em 2026, se assim ele quiser”, disse Hamilton Mourão, vice-presidente do governo Bolsonaro e agora senador pelo Rio Grande do Sul, em entrevista.

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