Light busca renegociação de prazo de vencimento de bonds, dizem fontes

Companhia corre contra o tempo para manter operação enquanto negocia a renovação de concessão de distribuição de energia no Rio; ações caem 16% nesta quarta

Companhia tem procurado bancos para renegociar dívidas e obter uma extensão dos prazos
29 de Março, 2023 | 08:51 PM

Bloomberg Línea — A Light (LIGT3) corre contra o tempo para manter a operação e sobreviver enquanto negocia a renovação de sua concessão de distribuição de energia no estado do Rio de Janeiro. Segundo apurou a Bloomberg Línea com pessoas familiarizadas com o assunto, a companhia tem procurado os bancos para renegociar sua dívida e já teria iniciado conversas para tentar estender o prazo de vencimento de seus bonds (títulos de dívida), cujo valor de face vem caindo sistematicamente.

Segundo uma fonte próxima às negociações, que falou sob condição de anonimato porque as discussões são privadas, a Laplace, consultoria de estruturação financeira contratada pela Light, chamou alguns bancos para uma rodada de conversas nos últimos dias, em meio à queda substancial dos bonds da companhia - que chegaram a atingir 30% do valor de face.

Após especulações no mercado sobre um pedido de recuperação judicial ou até mesmo a devolução da concessão no estado do Rio, a Light tem reforçado a disposição de negociar com o órgão regulador sobre a renovação do contrato de distribuição, que acaba em 2026, conforme antecipado pela Bloomberg Línea no início de fevereiro. A renovação é condição vital para que a companhia consiga renegociar suas dívidas, relatam fontes ligadas à Light.

Nesta terça-feira (28), a empresa reportou um aumento do endividamento no quarto trimestre de 2022, encerrando o ano em R$ 9,03 bilhões, ante R$ 8,7 bilhões no final de setembro. Conforme o balanço, em dezembro o caixa da companhia somava cerca de R$ 2 bilhões.

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Nesse cenário, um executivo de banco, que falou sob condição de anonimato, relatou que há interesse na renegociação do maturity date dos bonds, ou seja, na extensão do prazo de vencimento como parte do processo de reestruturação da dívida da empresa. No entanto qualquer decisão levará em conta a renovação, ou não, da concessão.

“As conversas terão mais chance de sucesso se houver a perspectiva de renovação da concessão. Isso não quer dizer que, sem a renovação garantida, não possa haver negociação, mas, se esse for o caso, o arranjo servirá por pouco tempo e poderá não resolver a situação da empresa, considerando os valores a serem pagos com juros em 2023 e 2024″, destacou a fonte.

Ainda de acordo com uma fonte do mercado, há cerca de duas semanas a Light teria ficado inadimplente no contrato com a geradora EDF Norte Fluminense, o que agravou o desempenho dos papéis da distribuidora. Procuradas, as duas empresas não comentaram o assunto.

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As ações da Light recuaram 16,31% nesta quarta, para R$ 1,95. Desde o dia 17, a queda é da ordem de 20%.

Conversas com credores

A Light espera ter novidades sobre as negociações com credores em breve, disse o CEO Octavio Pereira Lopes em teleconferência com investidores nesta quarta-feira.

“Estamos no começo [das negociações], nós não sabemos qual formato vai ter”, explicou. “Renegociação de dívidas pode ser relativamente rápida, ainda mais quando há um alinhamento de interesses de todos os stakeholders. As primeiras interações que nós tivemos com credores indicam isso”, acrescentou.

O executivo disse que a companhia busca uma solução para proteger a concessão. Segundo ele, as negociações visam a resolver a questão do fluxo de caixa de curto prazo para, posteriormente, começarem as conversas para readequação da estrutura de capital necessária para suportar a concessão por mais 30 anos.

Para uma pessoa familiarizada com o assunto, a negociação com o regulador só deve sair a partir do segundo semestre. “A cada dia que passa, a situação fica pior para a Light. Por isso os bonds da companhia estão com um desconto tão grande, diante das incertezas.”

Ainda na manhã desta quarta-feira, a Light informou ao mercado o resgate antecipado de debêntures de duas emissões, no valor total de R$ 175,4 milhões.

“Parece que a Light resolveu adotar a estratégia de endereçar todas as suas questões, como forma de mostrar aos credores e ao regulador a urgência que a renegociação da sua concessão precisa ser feita”, afirmou Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

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Prejuízo

A Light registrou prejuízo líquido de R$ 5,5 bilhões no quarto trimestre, impactada principalmente pela provisão de devolução de valores de PIS/Cofins aos consumidores. As ações da companhia desabaram nesta quarta-feira em razão justamente do resultado, segundo analistas.

No entanto Lopes adiantou durante a teleconferência que os investimentos (capex) da Light para 2023 devem somar cerca de R$ 1 bilhão, sendo aproximadamente R$ 800 milhões para a distribuidora.

“Mantemos nossa premissa básica de não fazer somente o mínimo de investimentos, vamos fazer o capex necessário para manter o padrão atual de qualidade e a adimplência com as nossas obrigações regulatórias, atendendo a todos os pedidos de expansão e novas conexões dentro do prazo necessário. Isso é um desafio mas também uma pré-condição”, ressaltou durante a apresentação.

O executivo ressaltou ainda que a devolução da concessão é “pouco provável”.

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“O processo de devolução nunca ocorreu no Brasil, é extremamente complexo, apesar de previsto no contrato. Mas, pensando nos stakeholders e nos consumidores, não existe solução melhor que não seja o contrato de concessão renovado em bases sustentáveis”, afirmou.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.