‘BC não hesitará em retomar o ciclo de ajuste’, destaca ata do Copom

Ata da última reunião do Copom, na qual o Banco Central manteve a Selic em 13,75% ao ano, foi divulgada nesta terça-feira (28)

Copom manteve a Selic em 13,75% ao ano na semana passada
28 de Março, 2023 | 08:23 AM

Bloomberg Línea — O Banco Central voltou a adotar um tom mais duro em sua ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada na manhã desta terça-feira (28).

No texto, a autoridade monetária diz que seguirá avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica por um período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação à meta, e reforça que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.

O comitê liderado pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, segue avaliando que a desaceleração econômica em curso é necessária para garantir a convergência da inflação para suas metas, principalmente após um período prolongado de inflação acima das metas, diz a ata.

Além disso, destaca que as perspectivas de crescimento econômico “não mudaram significativamente no período recente”. A inflação de serviços e os núcleos de inflação, por exemplo, mostraram maior resiliência e menor velocidade da desinflação nas últimas divulgações, em linha com o antecipado pelo comitê.

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Citando os riscos do cenário externo, a ata chama a atenção para a deterioração das economias ao redor do mundo, marcadas por altos níveis de inflação, desaceleração econômica e aperto monetário em curso por parte de bancos centrais.

“De toda forma, a sinalização majoritária entre as autoridades monetárias é de um período prolongado de juros elevados para combater as pressões inflacionárias, o que requer maior cautela na condução das políticas econômicas também por parte de países emergentes”

Com relação à crise bancária, o Copom reconhece o aumento das preocupações e diz que seguira acompanhando de forma atenta, analisando os possíveis canais de contágio. Mas avalia “que o impacto direto sobre os sistemas financeiros doméstico e de outros países emergentes é, até o momento, limitado, sem mudanças na estabilidade ou na eficiência desses sistemas financeiros”.

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Arcabouço fiscal

Na ata, o Copom diz que o compromisso com a execução do pacote fiscal demonstrado pelo Ministério da Fazenda, e já identificado nas estatísticas fiscais e na reoneração dos combustíveis, atenua os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação no curto prazo.

“O comitê seguirá acompanhando o desenho, a tramitação e a implementação do arcabouço fiscal que será apresentado pelo governo e votado no Congresso”.

Segundo o Copom, não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a apresentação do arcabouço fiscal, uma vez que a primeira segue condicional à reação das expectativas de inflação, às projeções da dívida pública e aos preços dos ativos.

No entanto, o comitê destaca que a materialização de um cenário com um arcabouço fiscal “sólido e crível” pode levar a um “processo desinflacionário mais benigno através de seu efeito no canal de expectativas, ao reduzir as expectativas de inflação, a incerteza na economia e o prêmio de risco associado aos ativos domésticos”.

Selic em 13,75% ao ano

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano, pela quinta reunião consecutiva. O comunicado divulgado após a decisão, contudo, surpreendeu o mercado financeiro ao vir mais “hawkish” (favorável a juros altos) do que o esperado.

A avaliação era de que uma proximidade do anúncio do novo plano fiscal, somado à crise bancária nos Estados Unidos e Europa, ajudasse a autoridade monetária a sinalizar uma flexibilização dos juros, o que não aconteceu.

No comunicado de 22 de março, o comitê liderado pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, apontou que a “incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual”.

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Na avaliação de Caio Megale, economista-chefe da XP, o Copom buscou mostrar que o processo de desinflação pode ser alcançado, mas que requer “paciência, foco em manter políticas fiscais e parafiscais equilibradas e menos ruído sobre a credibilidade das metas”.

A XP vê a Selic encerrando o ano em 13,75% ao ano. “No entanto, se a economia continuar desacelerando e as expectativas de inflação se estabilizarem em resposta às ações monetárias e fiscais, vemos espaço para uma flexibilização gradual mais cedo, no segundo semestre deste ano”, completa.

Em relatório, Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú, destaca que o BC reiterou a necessidade do processo desinflacionário.

“A mensagem principal é que a política monetária deve ser paciente e serena, e que um corte de juros não é iminente: o comitê aguardará o impacto da desaceleração econômica e anúncios de política econômica (como o novo quadro fiscal ainda por vir) sobre as expectativas de inflação, antes do início do corte de juros”, escreve.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.