Por que os celulares corporativos ressurgiram uma década depois do fim do BlackBerry

Empresas de telecomunicações dos EUA como Verizon e Charter tiveram mais de 50% de crescimento em clientes corporativos no ano passado

Ressurgimento ocorre mais de uma década depois que a necessidade de dispositivos dedicados ao trabalho começou a desaparecer
Por Scott Moritz
03 de Março, 2023 | 12:17 PM

Bloomberg — A ligação do seu chefe pode vir com um toque de celular diferente daqui para frente, com companhias de telecomunicações vendo cada vez mais empresas distribuindo telefones aos funcionários.

Em uma lembrança da era do BlackBerry, o fenômeno, que começou durante a pandemia, acelerou recentemente graças às novas políticas de conformidade em torno do uso do WhatsApp e Tiktok.

A mudança forneceu um “vento de cauda” para ganhos de assinantes na AT&T Inc., disse o diretor financeiro Pascal Desroches em uma conferência nesta semana.

No mesmo evento, o diretor financeiro da T-Mobile, Peter Osvaldik, disse que a contagem de clientes corporativos de sua empresa “cresceu a cada trimestre em 2022″.

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Os telefones são mais do que apenas uma vantagem corporativa, disse Lisa Pierce, analista da Gartner Inc.. “É também sobre controle” – um meio de restringir ou bloquear aplicativos e manter os dados corporativos seguros, disse ela.

Companhias de telecomunicações reportam forte crescimento de clientes no segmentodfd

As empresas, principalmente as do mercado financeiro, ficaram preocupadas com a segurança de seus dados, e a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, a SEC, e a Comissão de Comércio de Futuros de Commodities intensificaram seu escrutínio sobre comunicação privada não autorizada em aplicativos como o WhatsApp e por e-mail pessoal.

No final do ano passado, o Congresso americano, juntamente com vários estados dos EUA, proibiu o Tiktok em dispositivos dos funcionários do governo diante de preocupações com a segurança nacional.

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Isso faz com que as companhias exijam que seus trabalhadores removam aplicativos de telefones pessoais ou então, que tenham que oferecer um segundo dispositivo.

“Parece que todos têm dois telefones agora – em parte devido ao setor em que estamos e a necessidade de privacidade e segurança”, disse Benjamin Bielawski, analista da Dunn & Phelps Investment Management Co. em Chicago.

Esse segundo dispositivo ajuda a explicar como as empresas de telecomunicações continuam acumulando milhões de novos clientes mesmo depois do tempo em que o mercado móvel atingiu a saturação, com quase todos os adultos nos Estados Unidos possuindo pelo menos um telefone.

Apps e restrições

Com o maior uso de Tiktok sendo uma preocupação, além de apps como GroupMe, WhatsApp e Twitter ampliando o tempo de tela dos usuários, há um possível conflito entre trabalho e vida pessoal sendo conduzido no mesmo dispositivo.

É por isso que Vincent Powell, gerente de contas da área de Bay San Francisco, tem dois telefones, apesar de às vezes receber olhares confusos das pessoas ao retirar o segundo dispositivo para escrever e-mails e mensagens de texto a clientes.

“Gosto de ter minha vida pessoal mais ou menos em uma e a dos negócios, no outro”, disse ele.

A situação de dispositivo duplo de Powell pode não ser tão raro no futuro próximo.

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Nem a AT&T nem a T-Mobile divulgam números de clientes de telefones corporativos. A Verizon Communications e a Charter Communications são as únicas duas grandes operadoras que abrangem os ganhos nas vendas desses telefones. Ambos tiveram mais de 50% de crescimento em clientes corporativos no ano passado.

O ressurgimento ocorre mais de uma década depois que a necessidade de dispositivos dedicados ao trabalho começou a desaparecer.

Depois que os telefones ficaram mais inteligentes e novos aplicativos conseguiram equilibrar atividades de trabalho e brincadeiras, ter um segundo dispositivo passou a ser um custo desnecessário para grandes empresas.

O “monopólio” da Apple (AAPL) e da Samsung Electronics facilitou mais uma vez para as empresas escolherem um dispositivo para seus trabalhadores, disse Maribel Lopez, analista da Lopez Research.

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“Não é mais o BlackBerry neste momento”, disse ela. “Mas parece os velhos tempos.”

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