Porto usa IA para melhorar precificação e identificar novas áreas, diz CEO

Roberto Santos diz à Bloomberg Línea que empresa está reforçando o controle de custos e que uso de tecnologia ajuda a encontrar tendências de comportamento

Roberto Santos, CEO da Porto, diz que o quarto trimestre de 2022 apontou uma recuperação do setor de seguros, um reflexo da menor sinistralidade e do reajuste de preços
10 de Fevereiro, 2023 | 05:25 PM

Bloomberg Línea — Uma das maiores seguradoras do Brasil, a Porto (PSSA3) espera renovar em 2023 o lucro recorde alcançado no ano passado. A estratégia passa pela redução da sinistralidade, por maiores prêmios emitidos com a reprecificação das apólices e contribuições de novas verticais, como a concessão de crédito por meio de seu braço financeiro e parcerias no segmento de saúde.

O CEO da companhia, Roberto Santos, disse à Bloomberg Línea que, diante do cenário macroeconômico desafiador, com inflação e juros em patamar elevado, e de maior volatilidade nos preços dos ativos, a Porto está reforçando o controle de custos e o uso de tecnologia para monitorar tendências de mercado em tempo real para capturar oportunidades, como a reprecificação de produtos e serviços.

O CEO da Porto disse também buscar mais eficiências operacionais com a evolução de sua jornada digital, com a redução de despesas e a fidelização de clientes.

Por volta das 17h nesta sexta-feira (10), as ações da Porto registravam alta de 4,50%, cotadas a R$ 26,51, refletindo a reação positiva do mercado ao balanço divulgado na noite de ontem.

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No quarto trimestre, a Porto registrou um lucro líquido recorrente de R$ 555,6 milhões. Foi o maior resultado recorrente trimestral da história da companhia, com aumento de 87,6% na comparação anual, refletindo aumento de dois dígitos de receitas nas quatro verticais de negócios: Porto Seguro (+26,7%), Porto Saúde (+35,1%), Porto Seguro Bank (+21,1%) e Serviços (+36,5%).

O faturamento trimestral cresceu 31,1% em 12 meses, alcançando R$ 7,9 bilhões. No acumulado de 2022, houve uma expansão de 29,5% com uma receita anual de R$ 28 bilhões.

“Depois de um primeiro semestre atípico, com fortes impactos da sinistralidade, colhemos no segundo semestre os frutos do remédio amargo que demos lá em 2021: o reajuste de preços e o controle de custos. Deu certo: o quarto trimestre foi o melhor do ano”, resumiu Santos.

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A rentabilidade sobre o patrimônio alcançada pela Porto manteve o histórico de ROE na casa de dois dígitos, registrada em todos os anos desde a abertura de capital em 2004. O lucro totalizou R$ 1,134 bilhão em 2022, enquanto o ROE atingiu 11,4%, e o ROAE ajustado, de 12,8%.

A Porto não forneceu guidance (projeção) ao mercado, mas trabalha com o objetivo de renovar seu resultado histórico em 2023. Em relatório divulgado ontem (9), a equipe da Genial Investimentos disse esperar que o lucro da Porto quase dobre neste ano (R$ 1,89 bilhão), com o índice de rentabilidade (ROE) em patamares mais próximos do reportado historicamente (16,7%).

A recomendação de compra para a ação foi mantida, com atualização do preço-alvo de R$ 27,50 para R$ 33. Até ontem, o papel acumulava alta de 9,6% neste ano, acima do Ibovespa (+0,20%).

Inteligência artificial

Na Porto Seguro, vertical que responde pelos produtos e serviços de seguros da companhia, as receitas do trimestre aumentaram 26,7% na comparação anual, impulsionadas principalmente pelos seguros de auto, empresarial e vida.

A maior contribuição foi proveniente do segmento auto, que obteve uma melhora gradual ao longo de 2022, decorrente do aprimoramento na subscrição de riscos, na recomposição tarifária e no aumento no controle de sinistros, apontou a companhia.

Usamos a IA (Inteligência Artificial) para precificar os produtos de maneira mais apropriada. Investimos em tecnologia para reagir em tempo real às mudanças de cenário”, disse Santos.

A companhia também está expandindo sua área de atuação e vê perspectiva positiva com novas incursões territoriais e parcerias comerciais.

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Em seguro de saúde, reposicionamos o foco com a expansão para o Rio de Janeiro e Brasília. Não temos hospitais, mas fizemos uma JV (Joint Venture) com a Oncoclínicas (ONCO3) e vamos repartir custos”, afirmou o CEO.

Em dezembro, a Porto Serviços e a Oncoclínicas firmaram um acordo para a criação de uma sociedade dedicada a oferecer serviços de cuidado oncológico integral aos clientes da seguradora. O acordo prevê que a Oncoclínicas terá 60%, e a Porto 40%, da JV.

Veículos

Líder no ramo de seguros de automóveis, a Porto trabalha com a expectativa de uma normalização gradual na oferta de veículos pelas concessionárias, após a escassez de carros nos últimos três anos devido à falta de componentes e chips, reflexo do fechamento de fábricas, principalmente na China, com a pandemia da Covid-19.

“Esperamos que as montadoras coloquem mais carros novos no mercado. Não sabemos ainda o que vai acontecer com a economia. O cenário é desafiador. O desemprego está elevado. O cenário econômico influencia muito o nosso business, mas nossas quatro verticais estão preparadas para o crescimento de receita”, afirmou Santos.

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No segmento de serviços, a companhia registrou crescimento de 36,5% no quarto trimestre na base anual, tendo como destaque a receita dos serviços avulsos, que foram alavancados pela elevação das receitas da Renova, do Porto Assistência e de assinaturas.

No serviço de carro por assinatura, a Porto concentrou seu foco no aumento da eficiência operacional. Além disso, a Porto reforçou suas parcerias estratégicas com o objetivo de gerar valor por meio da ampliação da oferta de serviços para novos públicos e segmentos.

No final de 2021, a Porto Seguro e a Cosan anunciaram um acordo para a criação de uma joint venture para atuar em soluções de mobilidade. O ponto de partida foi a locação de veículos em várias modalidades, iniciando com o modelo de assinatura de veículos Carro Fácil.

“Somos pioneiros na oferta de carro por assinatura, que vem crescendo nos últimos anos. Já temos 13 mil assinantes no Rio e São Paulo. Não vamos expandir agora para o resto do Brasil, pois isso exige muito aporte de capital, compra de carros, e, com o cenário de juros elevados, com Selic a 13,75% ao ano, fica inviável. Temos ainda que melhorar a gestão desse business”, explicou o CEO.

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Reforma tributária

Santos relativizou o impacto da mudança de governo em Brasília. “Nossos negócios são muito resilientes. Independentemente do governo, isso não influencia no nosso dia-a-dia”, afirmou.

Ele defendeu a simplificação do complexo sistema tributário brasileiro. “A reforma tributária é uma conversas antiga, qualquer simplificação seria bem-vinda”, observou.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.