Não é só a Petrobras: gigantes do setor têm cenário incerto após lucros recordes

Desaceleração econômica, queda das cotações do petróleo e aumentos de custos tornam o cenário mais desafiador para as grandes petroleiras do mundo

Petróleo
Por Kevin Crowley - William Mathis
26 de Janeiro, 2023 | 02:02 PM

Bloomberg — As cinco grandes empresas de petróleo e gás do Ocidente, Exxon Mobil (XOM), Chevron (CVX), Shell (SHEL), TotalEnergies (TTE) e BP (BP), tiveram ganhos de quase US$ 200 bilhões no ano passado, mas temores de desaceleração econômica, queda nos preços do gás natural, aumento de custos e incerteza sobre a reabertura da China estão obscurecendo as perspectivas para 2023.

É um cenário nebuloso que afeta todo o setor de óleo e gás e tende impactar também a brasileira Petrobras (PETR3, PETR4), independentemente da mudança de modelo esperada com o novo governo, que começa com a mudança de comando, com Jean Paul Prates como CEO.

A incerteza sobre como a estatal brasileira vai lidar com reajustes de preços dos combustíveis daqui em diante também contribui para as perspectivas do mercado para a empresa.

Em relação às cinco gigantes globais (Exxon Mobil, Chevron, Shell, TotalEnergies e BP), espera-se que reportem US$ 198,7 bilhões em lucro combinado em 2022 nos próximos dias, 50% a mais do que o recorde anual anterior estabelecido há mais de uma década, segundo dados compilados pela Bloomberg.

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O gigantesco caixa gerado pelas empresas do setor nos últimos 12 meses significa que a indústria pode sustentar aumentos de dividendos e recompras de ações, disseram analistas.

As lideranças executivas das empresas adiaram os aumentos de gastos à medida que as commodities disparavam, em contraste com os ciclos anteriores.

Em vez disso, eles optaram por pagar dívidas e aumentar os retornos dos investidores: a Chevron surpreendeu os acionistas com um anúncio de recompra de ações de US$ 75 bilhões na quarta-feira (25) – cinco vezes o atual desembolso anual da empresa para recompras.

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“Os preços das commodities caíram em relação aos níveis recordes de 2022, mas ainda parece que será um ano muito forte”, disse Kim Fustier, chefe de pesquisa europeia de petróleo e gás do HSBC. “Pode muito bem ser o segundo melhor ano da história para distribuições gerais e recompras de ações.”

Os ganhos do quarto trimestre, embora sejam um dos três mais altos já registrados, provavelmente serão reduzidos em razão dos preços menores do petróleo e do gás. O guidance da Exxon e da Shell sugere que as margens de refino se sustentaram mais do que o esperado. A Chevron está programada para iniciar a temporada de balanços do setor de petróleo nesta sexta-feira (27) pela manhã.

Trajetória mais sólida

Embora a retração nos preços da energia tenha sido acentuada – o petróleo bruto e o gás estão mais baixos agora do que quando a Rússia invadiu a Ucrânia no fim de fevereiro do ano passado –, isso pode ajudar a colocar a economia global e as empresas de energia em uma trajetória mais firme de longo prazo.

Custos mais baixos de energia estão ajudando a aliviar um pouco a pressão da inflação, amenizando a pressão sobre os bancos centrais para continuar aumentando as taxas de juros.

Em geral, os maiores produtores de petróleo estão focados em canalizar lucros recordes de volta aos acionistas, ao mesmo tempo em que controlam os gastos. Essa estratégia provocou críticas por parte de políticos em todo o mundo, de Bruxelas a Washington DC, incluindo Brasília - de Jair Bolsonaro a Lula -, que querem mais oferta para reduzir os preços.

As ações das cinco grandes empresas do setor subiram pelo menos 18% desde a invasão da Rússia, apesar de uma queda de 11% no preço do petróleo no período.

As dez empresas com melhor desempenho no S&P 500 no ano passado foram todas do setor de energia, com a Exxon avançando 80% em seu melhor desempenho anual já registrado. As companhias de petróleo agora geram cerca de 10% dos ganhos do índice, apesar de representarem apenas 5% de seu valor de mercado, segundo dados compilados pela Bloomberg News.

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“Os investidores são atraídos por muitas das características que esse setor tem a oferecer agora”, disse Jeff Wyll, analista sênior do Neuberger Berman Group, que tem cerca de US$ 400 bilhões sob gestão. “Estava tentando ser um setor em crescimento e falhou. Ele se reinventou como um jogo de distribuição de dinheiro e rendimento, o que é atraente neste ambiente.”

Dividendos vão cair?

A questão chave das grandes petrolíferas é se elas podem cumprir as promessas de retorno aos acionistas feitas no ano passado durante os meses de alta dos preços das commodities.

“Espero que eles mantenham esses retornos aos acionistas”, disse Noah Barrett, principal analista de energia da Janus Henderson, gestora que administra cerca de US$ 275 bilhões. “Os dividendos básicos são incrivelmente seguros a quase qualquer preço do petróleo, os balanços patrimoniais estão em boa forma e minha expectativa é que as empresas continuem a recomprar ações.”

Os investidores também estão ansiosos para ouvir os executivos seguirem o mantra da disciplina de capital. Foi o enorme crescimento dos gastos durante grande parte da última década que corroeu os retornos dos acionistas e deixou o setor vulnerável às quedas dos preços do petróleo em 2016 e 2020.

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Disciplina de capital

“Ainda há uma aversão a grandes aumentos de gastos de capital, ponto final”, disse Wyll. “O problema que o setor enfrentou no passado é fazer muitos megaprojetos ao mesmo tempo. Agora está muito mais focado.”

Até agora, essa disciplina parece estar se mantendo. A Exxon e a Chevron elevaram as metas de despesas para este ano, mas os aumentos foram impulsionados em grande parte pela inflação, e não pelo aumento de projetos de crescimento de longo prazo.

Apesar de um aumento de 500% nos preços do petróleo desde o início de 2020 até meados de 2022, os gastos globais de capital com petróleo e gás caíram em termos reais, disse o Goldman Sachs em nota de 9 de janeiro.

Uma questão crucial para os executivos nesta temporada de resultados é quanto eles estão reservando para os impostos sobre lucros inesperados n Europa. A Exxon estimou uma cobrança de US$ 2 bilhões, mas está buscando uma ação legal. A Shell diz que sua conta de 2022 pode totalizar US$ 2,4 bilhões.

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No início deste mês, a Exxon indicou que os lucros do quarto trimestre sofreram um impacto de cerca de US$ 3,7 bilhões devido aos preços mais baixos do petróleo e do gás em comparação com o trimestre anterior, mas analistas observaram que as margens de refino foram muito mais fortes do que o esperado. A gigante do petróleo dos EUA reporta na próxima terça-feira (31).

A Shell, cujo recém-nomeado CEO Wael Sawan fará sua primeira teleconferência de resultados, também observou que terá atividade de refino mais forte e apontou para uma recuperação na comercialização de gás. A TotalEnergies apontou para tendências semelhantes em uma declaração de 17 de janeiro.

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A Petrobras programou a divulgação do resultado do quatro trimestre para o dia 1º de março.

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