Bloomberg — O governador da Flórida, Ron DeSantis, está deixando claro que ou ele não gosta da BlackRock ou acha que atacar a gigante de Wall Street é uma estratégia de olho nas eleições presidenciais de 2024.
O republicano está resgatando US$ 2 bilhões da maior gestora do mundo e pressiona os executivos que administram os fundos de pensão do estado a retirarem suas participações - de cerca de US$ 13 bilhões. Por quê? Principalmente por causa do orientação estratégica da empresa sediada em Nova York com preferência a ativos alinhados aos princípios ESG (ambiental, social e de governança).
A principal queixa de DeSantis: o investimentos ESG “sacrifica retornos em favorecimento de poucos e selecionados, elites corporativas não eleitas e suas agendas radicais”.
Jon Hale, diretor de Pesquisa de Sustentabilidade para as Américas da Morningstar, disse que analisou as rentabilidades disponíveis publicamente para o portfólio de longo prazo da Flórida a partir de março, que foi a informação mais recente disponível, e os dados mostraram que a BlackRock ficou em quinto lugar com base nos retornos anuais de um, três e cinco anos.
“Com base nesses resultados finais, é difícil imaginar como um agente fiduciário poderia dizer com uma cara séria que não ‘confia na capacidade da BlackRock de entregar [resultados]’, a menos que essa pessoa tenha alguma outra agenda”, afirmou Hale.
A BlackRock, apesar de continuar a ser um dos maiores financiadores da indústria de combustíveis fósseis, tornou-se o principal alvo do governo da Flórida liderado pelo republicano.
Em uma declaração sobre a decisão do estado de tirar dinheiro da gestora, a principal autoridade financeira do governo do estado da Flórida, Jimmy Patronis, disse: “Preciso de parceiros dentro da indústria de serviços financeiros que estejam tão comprometidos com o resultado final tanto quanto nós - e não confio na capacidade de BlackRock”.
Patronis disse que Larry Fink, CEO da BlackRock, está “em uma campanha para mudar o mundo” ao defender o que chamou de “capitalismo das partes interessadas” e o aporte em ESG.
Mas, embora Fink tenha passado os últimos anos lançando louvores ao investimento ESG, ele tem sido também regularmente acusado de permitir que a BlackRock lucre com o investimento em indústrias consideradas não sustentáveis.
A BlackRock tem feito uma série de declarações em resposta a essas manifestações do Partido Republicano. No início de setembro, a gestora se defendeu afirmando apoiar o investimento sustentável quando se dirigiu a 19 procuradores-gerais do estado dizendo que a crise climática é uma grande preocupação para seus clientes e um risco-chave a ser considerado nas decisões financeiras.
“Investidores e empresas que assumem uma posição prospectiva com relação ao risco climático e suas implicações para a transição energética gerarão melhores resultados financeiros a longo prazo”, escreveu Dalia Blass, chefe de assuntos externos da BlackRock, na carta. “Estas oportunidades atravessam o espectro político.”
E a realidade é que a BlackRock está em uma longa lista de empresas que declaram publicamente apoiar o investimento sustentável. De fato, pelo menos dez outras empresas que supervisionam ativos para o Tesouro da Flórida agem como a BlackRock - isso significa que são signatários dos Princípios para o Investimento Responsável das Nações Unidas (PRI da ONU).
O primeiro princípio declarado do grupo é: “incorporar as questões do ESG na análise de investimentos e nos processos de tomada de decisões”.
Outros administradores de fundos que supervisionam os ativos para a Flórida e fazem parte do PRI incluem a Fidelity Investments, a Amundi SA e a Insight Investment. Mas Ron DeSantis não foi atrás dessas empresas da mesma forma que tem feito com a BlackRock.
Outra peculiaridade em visar a BlackRock é que o desempenho da gestora para a Flórida tem sido positivo. Não está no topo da lista, mas também não está no final da lista.
De fato, a BlackRock e seu CEO têm sido a face pública talvez mais conhecida do esforço de Wall Street para convencer o mundo de que as gigantes financeiras são amigas do planeta. Isto pode ter tornado a companhia um alvo tão oportuno.
O que está acontecendo na Flórida é “parte dos esforços republicanos para desacreditar e demonizar o compromisso da indústria de gestão de ativos em avaliar a mudança climática e outros riscos e oportunidades materiais relacionados ao ESG”, disse Hale.
No final, a campanha anti-ESG será perdedora, prevê.
“A maioria dos investidores finais está preocupada com a mudança climática e não quer que seus gestores de fundos adotem uma abordagem de cabeça enterrada na areia ditada pelos políticos”, disse.
“Se os republicanos continuarem, isso gerará uma resposta maior por parte daqueles que vivem no mundo real em que os investidores devem levar a sério as questões climáticas e outros riscos e oportunidades em ESG.”
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