Campos Neto: transferência de renda deve evitar risco de desorganizar o mercado

Presidente do Banco Central fala em evento da Bloomberg LP sobre desafios inerentes ao momento que o Brasil atravessa, em alusão ao debate sobre o Auxílio Brasil

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, fala em evento em São Paulo nesta sexta (18) (Tuane Fernandes/Bloomberg)
18 de Novembro, 2022 | 11:57 AM

Bloomberg Línea — Diferentemente de economias que são importadoras de commodities, o Brasil tem passado por um choque de oferta positivo - produção excedente com preços altos -, o que traz mais renda para o país por meio das exportações. O desafio nesse caso, segundo o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, é como ser responsável fiscalmente ao lidar com os problemas sociais na transferência de renda.

“Algumas vezes você tem um ponto de inflexão em que quer fazer mais por aqueles que estão precisando, mas, quando você ultrapassa esse ponto de inflexão, pode criar problemas com os mecanismos de precificação e desorganizar o mercado, e, no fim, prejudicar ainda mais aqueles que você quer ajudar”, disse em evento realizado pela Bloomberg LP nesta manhã de sexta-feira (18) em São Paulo.

O presidente do BC não citou nominalmente, mas a referência é ao momento que o país atravessa, em que se discutem mecanismos para viabilizar a prorrogação por um ano ou mais do pagamento do Auxílio Brasil - que pode ser substituído pela volta do Bolsa Família - de R$ 600. A proposta de extensão pelo menos em 2023 foi defendida em campanha tanto pelo presidente eleito Lula (PT) como pelo atual, Jair Bolsonaro.

Evitando tecer comentários sobre política fiscal enquanto o novo ministro da Fazenda de Lula não é escolhido, Campos Neto afirmou que a questão principal neste momento para o Brasil é qual quadro fiscal vai prevalecer e qual será a expectativa do mercado para o que será anunciado.

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“Há um misto de política e comunicação. Fazer uma sem fazer a outra pode prejudicar muito, então precisamos esperar”, disse.

Campos Neto disse que, em um cenário de aumento de preços, há algumas possibilidades. A primeira é a de que o governo não interfira e que o mercado se ajuste na oferta e demanda com os preços, mas isso pode ser difícil de ser feito politicamente e socialmente, por causa do impacto social negativo.

Outra opção é interferir nas empresas de energia, como a Petrobras (PETR3, PETR4), colocando tetos de preços para os combustíveis, por exemplo. “Mas isso desincentiva as pessoas a investirem em Capex”, afirmou.

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“Quando você tem um choque positivo, você precisa transferir [renda] para aqueles que estão sendo mais afetados pela dívida. Mas tem que durar enquanto o choque durar. Não queremos fazer isso para pessoas que não estão tendo esse problema, precisa ser sob medida para incentivar as pessoas a agirem como devem”, disse.

Contudo, segundo Campos Neto, outro empecilho para esse tipo de política de transferência é que ela deveria ser temporária, e muitas vezes se torna permanente e pode atingir pessoas que não são de fato o seu público-alvo.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups