Eurasia vê ‘arrancada final’ na eleição, mas cenário-base ainda tem 2º turno

Christopher Garman, diretor-executivo da consultoria de risco político, disse à Bloomberg News que Lula tem 70% de chances de vitória, com viés de alta

Garman vê as chances de uma vitória em primeiro turno entre 20% e 25% - o dobro do que a Eurasia projetava antes
Por Felipe Saturnino e Vinícius Andrade
28 de Setembro, 2022 | 05:16 PM

Bloomberg — As chances de 70% de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na disputa pela presidência do Brasil em outubro estão com um viés de alta depois das pesquisas de intenção de voto mais recentes, na semana que antecede o primeiro turno, avalia a consultoria de risco político Eurasia, uma das mais respeitadas do mundo.

O presidente Jair Bolsonaro está falhando em conter a “arrancada final” de Lula, o que deixa o petista mais perto de conquistar uma vitória em 2 de outubro, de acordo com Christopher Garman, diretor-executivo da Eurasia para Américas.

“A chance que damos de 70% de o Lula ganhar as eleições tem um viés para cima, pois o ímpeto visto na semana passada com o ‘voto útil’ não mudou”, disse Garman em entrevista no escritório da Bloomberg News em São Paulo, referindo-se à mudança de voto de eleitores para um candidato que enxergam como tendo melhores chances de vencer a disputa. “Isso é um mau sinal para Bolsonaro.”

Pesquisas recentes mostram o apoio a Lula em alta nos últimos dias de campanha, e algumas pesquisas colocam o ex-presidente de esquerda perto de obter mais de 50% dos votos válidos - que excluem brancos ou nulos -, exatamente do que ele precisa para evitar um segundo turno.

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É um resultado que não acontece em uma corrida presidencial brasileira desde 1998, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso foi reeleito. Nem mesmo Lula, no auge de sua popularidade, conseguiu uma vitória em primeiro turno quando foi escolhido para um segundo mandato em 2006.

Garman vê as chances de uma vitória em primeiro turno entre 20% e 25% - o dobro do que a Eurasia projetava antes, mas ainda longe de ser um cenário-base. Pesquisas presenciais tendem a super-representar candidatos de esquerda, disse ele, já que subestimam as taxas de abstenção que são proporcionalmente mais altas entre os mais pobres.

O debate na TV Globo nesta quinta-feira (29) à noite será fundamental para o resultado da votação de domingo.

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“Lula precisa se sair bem no debate se quiser vencer” no primeiro turno, disse Garman. “Ele tem que martelar a mensagem de que, quando era presidente, ele aumentou a credibilidade e as condições econômicas do Brasil – e que, se vencer desta vez, fará isso de novo e melhor.”

Eleição contestada

Uma vitória de Lula no primeiro turno ou uma liderança dominante no segundo turno não reduzem as chances de Bolsonaro questionar os resultados das eleições, dada a sua desconfiança de longa data das urnas eletrônicas, disse Garman.

“As chances de Bolsonaro questionar a eleição são menores se ele perder por 10 pontos percentuais ou se perder no primeiro turno? Acho que não”, disse.

Embora os apoiadores do presidente provavelmente façam manifestações contra uma suposta eleição fraudulenta, independentemente do resultado, Garman não espera que isso tenha algum impacto no reconhecimento oficial do resultado.

Se vencer, Lula provavelmente tentará replicar sua estratégia de 2003, escolhendo um político para liderar sua equipe econômica. “Um ministro com perfil político e alguns bons nomes do mercado”, disse ele.

Garman também disse que a reforma tributária sob Lula pode ser uma surpresa positiva, ao unificar impostos federais sob um imposto sobre valor agregado, conhecido como IVA, e potencialmente elevando a carga tributária sobre os ricos. O desafio, porém, será entregar crescimento econômica.

“O governo Lula terá um ‘trilema’ difícil. Eles querem aumentar os gastos, não querem aumentar a carga tributária e não querem criar um problema de sustentabilidade da dívida”, disse Garman. “Se você não tem crescimento, você não pode fazer os três. Basicamente, o futuro do governo Lula dependerá estritamente de fatores econômicos.”

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