Setor de turismo ensaia retomada nas férias de julho com preços nas alturas

Companhias aéreas e hotéis no Brasil e no exterior aumentam preços diante de demanda aquecida e pressão de custos decorrente da inflação

Parque da Disney nos EUA: brasileiros retomam viagens para destinos no exterior
09 de Julho, 2022 | 03:25 PM

São Paulo — A alta temporada de julho começou sob os efeitos da inflação global no setor de serviços (hotelaria, alimentação, transporte e locais de lazer) e com viajantes ávidos para o descanso, após praticamente dois anos e meio de pandemia e de restrições a viagens internacionais. Para companhias aéreas e agências de viagem, a atual temporada de férias escolares marca uma nova etapa na recuperação do faturamento, aproveitando a demanda reprimida desde o início da pandemia.

A aviação comercial regular vai registrar, neste mês, o maior número de decolagens diárias de voos domésticos e internacionais desde o início da crise sanitária em março de 2020, segundo a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas). O setor programou 2.134 partidas diárias para destinos domésticos e 116 para o exterior. Os números equivalem a 90% do total de voos no pré-pandemia.

Os aeroportos de Brasília, São Paulo (Guarulhos e Congonhas), Rio de Janeiro (Galeão e Santos Dumont), Fortaleza, Curitiba e Porto Alegre serão os mais movimentados neste mês, informou a Latam, líder do mercado brasileiro, segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

A Latam espera transportar quase 3 milhões de passageiros em seus voos domésticos e internacionais no Brasil durante a alta temporada e prevê crescimento de 60% na comparação com julho de 2021. Neste mês, a operação brasileira do grupo chileno retomou, por exemplo, a rota Fortaleza-Miami, alcançando 20 destinos no exterior em voos a partir do Brasil.

PUBLICIDADE

Já as companhias aéreas brasileiras estão voltando a lotar os aviões rumo ao exterior, segundo os últimos dados de tráfego divulgados. As aeronaves da Gol (GOLL4) registraram taxa de ocupação dos voos internacionais de 90,6% em maio, enquanto a da concorrente Azul (AZUL4), ficou em 85,1%. O desempenho reflete uma forte recuperação iniciada em 2021, quando as fronteiras foram reabertas.

O turismo doméstico também acelera seu ritmo de retomada das rotas, iniciada no ano passado. A Azul informou que terá voos extras e 13 novas rotas em todo o país, criando opções de ligações diretas entre o Centro-Oeste, o interior de São Paulo e o Sul com o Nordeste.

Inflação

Depois da variante ômicron do coronacírus, veio a guerra entre Rússia e Ucrânia, que elevou o preço do barril do petróleo (e dos combustíveis, como o querosene da aviação), aumentando os custos do setor do turismo. Mesmo assim, nos últimos meses do primeiro semestre, aproveitando a valorização do real frente a moedas como dólar e euro, os consumidores planejaram suas viagens para fora do país.

PUBLICIDADE

Desde janeiro, o preço médio das passagens aumentou 35% para viagens nacionais e 30% para viagens internacionais, segundo levantamento da MaxMilhas, plataforma que atua na pesquisa, na comparação e na intermediação das passagens aéreas de clientes com milhas.

A demanda reprimida por viagens depois de dois anos de pandemia e o desejo de desfrutar as férias fora do país podem colocar a inflação - passagens e hospedagens mais caras - em segundo plano na hora das decisões de consumo, segundo especialistas. No período de janeiro a março deste ano, 62% das operadoras de turismo indicaram uma alta significativa nos preços das viagens internacionais, segundo a última sondagem da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo).

Mas isso parece não ter inibido o interesse e a procura dos brasileiros, já que, para 85% dessas empresas, a procura por viagens internacionais cresceu “muito” ou “muitíssimo”. Para 15%, a procura se manteve ou teve pouco aumento. Para 85% das operadoras, a abertura de fronteiras e a queda gradativa do dólar (no primeiro semestre) foram os responsáveis pelo avanço do turismo internacional.

A CVC (CVCB3), maior operadora de turismo do país, divulgou que teve em maio um volume de reservas confirmadas de R$ 1,4 bilhão, o maior volume desde janeiro de 2020, antes da pandemia. Foi um crescimento de 19% na comparação anual. Em dois meses (abril e maio), esse indicador alcançou R$ 2,5 bilhões, o que representa 152% de todo o segundo semestre do ano passado (R$ 1,7 bilhão).

Destinos

Mas para onde os brasileiros estão indo? Entre os destaques nas buscas registradas pelas operadoras de turismo estão a Europa, os Estados Unidos e a Argentina (25%), segundo a Braztoa.

Já entre os perfis de pacotes mais comprados nas viagens internacionais destacam-se (em ordem decrescente): luxo, praia e sol, cultural, bem-estar, lua de mel e cruzeiros e gastronomia.

A Argentina é um dos destinos internacionais preferidos dos brasileiros, com localidades como Barilochedfd

Já o mercado de viagem de luxo se volta para a temporada de inverno com a reaberturas das pistas de esqui em países do hemisfério Sul, como Chile e Argentina, e com o verão no Norte. Quem monta roteiros personalizados para esse público alerta para a disparada dos custos.

PUBLICIDADE

“Em conversas com hotéis da Europa, fomos informados de que em destinos disputados de verão, como Lago de Como, Capri e Saint-Tropez, os reajustes nas tarifas dos hotéis chegam a 40%, e não unicamente por uma pressão de custo, mas por causa da demanda reprimida”, disse Gabriela Figueiredo, sócia e diretora da Matueté, agência de turismo de luxo, à Bloomberg Línea.

No Caribe, a situação se repete. “St Barth é mais um caso. Diárias que flutuavam entre 1.800 e 2.000 euros hoje passam facilmente de 3.000″, aponta a empresária.

Aeroportos cheios e com filas se tornaram cenário comum neste meio do ano com a alta demandadfd

Por outro lado, Bariloche, um dos destinos preferidos dos brasileiros adeptos dos esportes de inverno e de ecoturismo na Patagônia argentina, além de El Calafate e Ushuaia, está mais barato devido à constante desvalorização do peso frente ao real e a outras moedas, como o dólar e o euro.

Locais com famosas estações de esqui no mundo também voltaram a ficar concorridos. Portillo (Chile), Sun Valley, Idaho (EUA), St. Moritz (Suíça), Zermatt (Suíça) e Chamonix (França) são os destinos de inverno mais procurados, segundo a Avantto, empresa que atua no ramo do compartilhamento de aeronaves, com base nas solicitações de seus clientes. No Brasil, destacam-se, segundo a empresa, Gramado e Canela (RS), Campos do Jordão (SP), Monte Verde (MG) e Petrópolis (RJ).

PUBLICIDADE

Nos EUA, os parques de diversões na Flórida e Califórnia são um dos principais chamarizes americanos para famílias brasileiras, segundo a Braztoa. Turistas com esse perfil vão encontrar na alta estação tudo mais caro do que antes da pandemia. Só a Disney aplicou um reajuste médio de 5% nos seus ingressos neste ano. A alta temporada de verão americana, que começou no mês passado, vai até o feriado do Dia do Trabalho, na primeira segunda-feira de setembro.

Leia também:

Caos aéreo do exterior chegará ao Brasil? Especialistas apontam outro risco

Terminal VIP do Aeroporto de Guarulhos será construído com capital externo

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.