Bilionário dono da Ray-Ban morre aos 87 anos

De um orfanato de Milão à segunda maior fortuna da Itália, Leonardo Del Vecchio fundou a maior varejista de óculos do mundo

Marcas icônicas como Ray-Ban e a Oakley estavam entre as que Del Vecchio conquistou em seu caminho de sucesso
Por Tommaso Ebhardt
27 de Junho, 2022 | 01:50 PM

Bloomberg — Leonardo Del Vecchio, empresário italiano que transformou uma pequena ótica no líder mundial do setor e acumulou uma das maiores fortunas de seu país ao longo do caminho, morreu aos 87 anos.

Criado em um orfanato de Milão, Del Vecchio começou a se estabelecer na cidade de Agordo, ao norte de Veneza, onde o pequeno fornecedor de peças de armação de óculos se transformou em um player global, fazendo uma série de aquisições para então se tornar a EssilorLuxottica, líder mundial da indústria. Marcas icônicas como Ray-Ban e a Oakley estavam entre as que Del Vecchio conquistou em seu caminho.

O sucesso trouxe a Del Vecchio a segunda maior fortuna da Itália - depois da família Ferrero, fabricante de chocolate - com um patrimônio líquido de US$ 25,7 bilhões em 1º de junho, segundo o Bloomberg Billionaires Index.

O magnata detinha uma participação de 32% na EssilorLuxottica, que foi formada a partir da fusão em 2018 da Luxottica com a fabricante francesa de lentes Essilor. A empresa, que produz armações para grifes de moda como Armani e Prada, além de possuir marcas como Ray-Ban, tem mais de 180.000 funcionários, operações em todo o mundo e presença nos setores de luxo e tecnologia médica.

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“Perdi um amigo, primeiro, e um companheiro nesta longa aventura profissional”, disse o designer Giorgio Armani em seu Twitter. “Sua morte me entristece profundamente.”

A EssilorLuxottica, com sede em Paris, é a maior varejista de óculos do mundo e também a maior produtora de lentes corretivas. O anúncio oficial veio através do presidente da marca, nesta segunda-feira (27), afirmando que o conselho vai se reunir em breve “para determinar os próximos passos”.

Tímido e discreto

Tímido e reservado por natureza, Del Vecchio passou décadas evitando os holofotes da imprensa.

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Durante uma rara conversa com um repórter no início de 2022, ele foi questionado sobre como construiu seu império. “Sempre me esforcei para ser o melhor em tudo que faço – é isso”, disse Del Vecchio. Sobre o que o levou ao topo, ele disse que “nunca se deu por satisfeito”.

Além de uma participação de controle na EssilorLuxottica, a Delfin, holding de Del Vechio, também despertou o interesse de bancos e financeiras italianas, como a Mediobanca, Assicurazioni Generali e UniCredit.

Nascido em 22 de maio de 1935, Del Vecchio cresceu em uma Milão devastada pela guerra. Sua mãe, viúva cinco meses antes dele nascer, não foi capaz de abraçar sozinha a maternidade, e o enviou para um orfanato quando ele tinha sete anos. Aos 14, ele começou a trabalhar como aprendiz de um fabricante de ferramentas e corantes em Milão.

Del Vecchio mudou-se para Agordo na década de 1960 e começou a fazer armações de óculos projetados. Em 1961 ele fundou a Luxottica, acompanhado de uma dúzia de trabalhadores que ele libertou da cidade, em uma tentativa de estimular a economia local.

A Luxottica começou a produzir seus próprios projetos no final da década de 1960 e, na década de 1980, Del Vecchio começou a comprar empresas nos EUA. Em 1999, ele comprou a Ray-Ban por US$ 640 milhões.

Del Vecchio disse que no início de sua carreira “colocou o trabalho acima de tudo”, dedicando pouco tempo aos filhos. “A fábrica se tornou minha verdadeira família”, disse ele, acrescentando que compensou parte do tempo perdido nos últimos anos, passando o tempo com sua família em Milão ou em suas casas na Côte d’Azur, na França, e na ilha de Antígua.

O objetivo final de Del Vecchio, disse em sua última entrevista, era colocar a EssilorLuxottica no grupo de empresas avaliadas em mais de 100 bilhões de euros (ou US$ 107 bilhões).

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Ele era o maior acionista do banco de investimento Mediobanca, com uma participação de pouco menos de 20%, e um dos principais investidores da Generali, a maior seguradora da Itália. Del Vecchio foi parte fundamental de um grupo de investidores que tentou expulsar o CEO da Generali, Philippe Donnet, no primeiro semestre de 2022 - mas sem sucesso. No Mediobanca, ele periodicamente entrava em conflito sobre a estratégia da empresa com o CEO Alberto Nagel.

Del Vecchio disse que seus conflitos no setor financeiro aconteceram por “pensar grande”.

“Você precisa ser corajoso o suficiente para continuar fazendo as coisas e para seguir em frente”, disse ele.

– Esta notícia foi traduzida por Melina Flynn, Content Producer da Bloomberg Línea.

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