Entenda por que o presidente do Equador decretou estado de exceção no país

Guillermo Lasso tomou a decisão após uma semana de manifestações que começaram com novo reajuste nos preços dos combustíveis

Milhares de equatorianos foram às ruas de cidades do país para protestar contra o alto preço dos combustíveis e dos alimentos e outras questões
19 de Junho, 2022 | 09:13 PM

Bloomberg Línea — O presidente do Equador, Guillermo Lasso, decretou na última sexta-feira (17) estado de exceção em diferentes regiões do país, na tentativa de controlar as manifestações contra o aumento dos preços dos combustíveis, o desemprego e a concessão de licenças de mineração em territórios indígenas e a favor da renegociação de dívidas dos trabalhadores rurais com bancos. As manifestações foram convocadas por indígenas e estão em curso desde a última segunda-feira (13).

Lasso, que foi empresário antes de assumir a presidência há um ano, decretou o estado de exceção por 30 dias em três províncias da serra do país onde os protestos se concentraram nos últimos dias: Pichincha (cuja capital é Quito), Imbabura e Cotopaxi, regiões que concentram grande número de indígenas, que correspondem a mais de 1 milhão dos 17,7 milhões de equatorianos. A medida implica, entre outras coisas, a suspensão do direito civil à reunião e a mobilização e o destacamento das Forças Armadas.

Antes de anunciar a medida, Lasso disse que pediu por diálogo. Na tentativa de intermediar os diálogos, universidades, a Igreja e a ONU ofereceram ajuda, mas sem sucesso.

“Não há intenção de buscar soluções; dizem que lutam pelo custo de vida, mas fecham estradas que causam escassez, aumento de preços e especulação. Eles dizem que querem melhorar os serviços de saúde, mas impedem a passagem de ambulâncias, colocando nossos irmãos doentes em risco de morte”, disse o presidente do Equador.

PUBLICIDADE

Decreto restringe direitos

O texto do decreto indica que a decisão foi tomada na esteira das paralisações “que alteraram a ordem pública, provocando situações de violência que colocam em risco a segurança dos cidadãos e ameaçam o bom funcionamento de setores estratégicos vitais para a economia do país”.

Além disso, o decreto impõe apenas nas três regiões indicadas que “está suspenso o exercício do direito à liberdade de associação e reunião, estritamente em relação aos motivos do estado de emergência e segurança do Estado”, o que visa limitar a formação de multidões em espaços públicos 24 horas por dia.

A liberdade de circulação foi suspensa no sábado (18). O horário de restrição vale para todos os dias das 22h às 5h. Pessoas que circularem fora do horário estabelecido serão colocadas sob as ordens da autoridade judiciária competente.

PUBLICIDADE

Protestos contra a alta dos combustíveis

O estopim dos protestos se deu a partir do reajuste dos preços dos combustíveis, que estavam congelados desde outubro de 2021. De lá pra cá, o diesel subiu 90%, e a gasolina, 46%. A Confederação de Nacionalidades Indígena propôs que preços sejam reduzidos para US$ 1,50 dólares para o galão de diesel e para US$ 2,10 a gasolina.

Com as reivindicações tomando corpo, os protestos se estenderam contra a falta de emprego e a entrega de concessões de mineração territórios indígenas e pela exigência do controle dos preços de produtos agrícolas.

Alguns dos pedidos dos manifestantes foram em parte atendidos, mas um líder do movimento diz que a trégua só virá quando todas as dez solicitações forem atendidas dfd

Leonidas Iza, presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie), principal entidade por trás das manifestações, chegou a ser preso na quarta-feira (15) acusado de de paralisar o serviço de transporte público ao bloquear estradas durante os protestos contra o governo. Ele foi solto e responderá o processo em liberdade.

Iza, por sua vez, disse publicamente que os protestos só vão ceder quando o Lasso atender a uma lista de 10 pedidos dos manifestantes, que incluem:

- Redução nos preços dos combustíveis;

- Redução da atividade de mineração por meio da proteção de territórios, mananciais e ecossistemas frágeis e da suspensão de alguns decretos;

- Moratória da dívida para mais de 4 milhões de famílias por pelo menos um ano;

PUBLICIDADE

- Pagamento de preços justos a produtores agrícolas para que camponeses, pequenos e médios produtores tenham garantia de sustentabilidade;

- Controle de preços de produtos de primeira necessidade e industrializados nas redes de supermercados.

Medidas de última hora

Em discurso ainda na sexta-feira, o presidente Lasso convidou a sociedade civil, médicos, artesãos, agricultores, transportadores e todas as organizações sociais a “dialogar para que, unidos, sentados à mesa” e, juntos, encontrem “soluções que aliviem a situação das famílias equatorianas”.

Ele também anunciou como medidas:

PUBLICIDADE

- O aumento do bônus de desenvolvimento humano para US$ 55;

- Dobrar o orçamento para a educação intercultural;

- Subsídio até 50% no preço de fertilizantes para pequenos e médios produtores;

- O BanEquador, banco público, vai perdoar todos os empréstimos vencidos de até US$ 3 mil;

PUBLICIDADE

- Concessão de crédito agrícola de até US$ 5 mil, a 1% de juros e prazo de 30 anos;

- Compromisso de não reajustar o diesel, o gás e a gasolina.

PUBLICIDADE

O presidente também pediu que os líderes de todas as províncias do país intensifiquem e fortaleçam as operações e os mecanismos de controle necessários para prevenir e erradicar os processos especulativos, especialmente aqueles que aumentam ilegalmente os preços.

-- Com informações de Ángela Meléndez.

Leia também

PUBLICIDADE

Como a inflação se tornou o maior adversário eleitoral de Bolsonaro

Bitcoin retoma US$ 20 mil e sobe após 12 dias; analistas dizem o que esperar

Melina Flynn

Melina Flynn é jornalista naturalizada brasileira, estudou Artes Cênicas e Comunicação Social, e passou por veículos como G1, RBS TV e TC, plataforma de inteligência de mercado, onde se especializou em política e economia, e hoje coordena a operação multimídia da Bloomberg Linea no Brasil.