Nobel que antecipou bolha da internet e do subprime alerta para recessão nos EUA

Robert Shiller, vencedor do prêmio em 2013, aponta que retração da economia pode ser resultado em parte de ‘profecia autorrealizável’

Robert Shiller Fotógrafo: Simon Dawson/Bloomberg
Por Rich Miller
08 de Junho, 2022 | 07:18 PM

Bloomberg — O economista ganhador do Prêmio Nobel Robert Shiller vê uma “forte possibilidade” de uma recessão nos Estados Unidos, algo que é, pelo menos em parte, o resultado de uma “profecia autorrealizável”, na medida em que investidores, empresas e consumidores ficam cada vez mais preocupados com uma recessão.

“O medo pode levar à realidade”, disse Shiller, professor da Universidade de Yale, autor do livro Narrative Economics: How Stories Go Viral and Drive Major Economic Events. Ele ganhou o Nobel em 2013 pelo seu trabalho de décadas sobre preços de ativos e bolhas, que o tornou mundialmente respeitado. Foi um dos primeiros economistas a alertar tanto para a bolha da internet, no fim da década de 1990, como do subprime, na segunda metade dos anos 2000.

As preocupações com uma possível contração aumentaram recentemente à medida que a inflação acelerou na maior economia do mundo e o Federal Reserve intensificou seus esforços para controlá-la. Os líderes corporativos fizeram o alerta e os preços das ações caíram. Um número cada vez maior de lares americanos diz que a economia está caminhando na direção errada. Tudo isso poderia levar consumidores e empresas a ficarem mais cautelosos, semeando uma desaceleração.

A confiança dos consumidores dos EUA caiu no mês passado para o nível mais baixo em uma década. Os dados preliminares para junho serão divulgados na sexta-feira (10).

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Shiller estima que a possibilidade de uma recessão nos próximos dois anos é 50% “maior que o normal”.

Uma parte importante da narrativa em desenvolvimento envolve o aumento de juros pelo Fed e a definição de uma estratégia para subir mais as taxas, disse Shiller em entrevista por telefone.

Espera-se que o presidente do Fed, Jerome Powell, e seus colegas aumentem as taxas em meio ponto percentual quando se reunirem na próxima semana, nos dias 14 e 15. Eles também atualizarão suas projeções para a economia e as taxas de juros.

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Se vuelven pesimistas
Los consumidores estadounidenses están más desanimados que hace años
Azul: Índice de sentimiento del consumidor de la UMichdfd

Irritação

Shiller disse que a perspectiva de um aumento das taxas poderia inicialmente desencadear uma corrida de compras de moradias enquanto os compradores tentam travar as taxas hipotecárias antes que elas aumentem ainda mais. Mas, à medida que o mercado imobiliário se enfraquece, isso pode despertar memórias da última vez que aconteceu, disse ele.

“Ainda não se fala tanto sobre a idéia de que estamos em uma bolha imobiliária”, disse o Prêmio Nobel. “Mas está começando a ressurgir.”

Shiller também disse que os americanos estão mais propensos a sucumbir a uma profecia autorrealizável de desaceleração neste momento, porque o país está sofrendo coletivamente de “transtorno de estresse pós-traumático” devido à pandemia. Mais de um milhão de americanos perderam suas vidas para a covid-19.

A polarização “muito acentuada” da sociedade (com campos políticos opostos que cada vez mais consideram o outro lado como vilão) também aumenta o risco de medo impulsionando a realidade, de acordo com Shiller.

Os estrategistas políticos do Partido Democrata, do presidente Joe Biden, reclamaram que o pessimismo econômico é exagerado, considerando a força do mercado de trabalho, que alguns economistas dizem se encontrar no estágio de maior desequilíbrio entre oferta e demanda da história.

Mas Shiller disse que a inflação crescente tem mais impacto sobre a psique dos americanos que o mercado de trabalho.

“A inflação afeta a todos”, disse ele. “Toda vez que vão ao supermercado, eles vêem a inflação e ficam irritados.”

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--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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