Exclusivo: CEOs das teles, alunos tech e coca zero. Os bastidores de Musk no Brasil

Fundador da Tesla e da SpaceX tratou de negócios não só com representantes do governo federal e se reuniu com estudantes do Inteli e do ITA

Elon Musk acena em sua breve passagem pelo Brasil, observado pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria
20 de Maio, 2022 | 08:14 PM
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Bloomberg Línea — A visita do homem mais rico e midiático do mundo pelo Brasil ganhou manchetes e cobertura digna de celebridade, mas não durou mais do que cinco horas. Elon Musk, o visionário fundador da Tesla (TSLA), da SpaceX e, quem sabe, futuro dono do Twitter (TWTR), deu o que falar em sua visita ao país, mas, no fim do dia, ele veio mesmo para tratar de negócios - business, como se costuma dizer - de suas empresas.

Em visita que teve André Esteves, sócio sênior e principal acionista do BTG Pactual (BPAC11), e Fabio Faria, ministro das Comunicações, como anfitriões mais destacados, o empresário mais famoso do mundo foi recebido em esquema de petit comité por um grupo de executivos e empresários, cuja lista vazou e foi tornada pública na noite da véspera pelo jornalista Lauro Jardim, de O Globo. O presidente da República, Jair Bolsonaro, e ministros com atuação no setor de Defesa estavam devidamente presentes.

O palco escolhido foi o Hotel Fasano Boa Vista, no interior do estado de São Paulo, a cerca de cem quilômetros da capital paulista e estrategicamente acessível para voos internacionais por meio de um aeroporto voltado para a aviação executiva, o Catarina. Tudo sob controle e operação do mesmo grupo, a incorporadora especializada em empreendimentos de alto padrão JHSF (JHSF3).

Foi no Catarina que Musk aterrissou o seu Gulfstream G650ER, um legítimo representante do estado da arte da aviação executiva, por volta das 10h30 da manhã. O jato fabricado pela americana General Dynamics, que ostenta o recorde de voo executivo de maior distância realizado em menor intervalo de tempo, tem um preço estimado em torno de US$ 65 milhões, segundo sites especializados. Isso sem falar na fila de espera, que chegaria a quatro anos. Do aeroporto, um carro - não se sabe se um Tesla - o levou ao hotel.

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Musk teve uma recepção digna do seu patrimônio estimado em US$ 212 bilhões, segundo o Bloomberg Billionaires Index: encontrou-se com executivos de atuação destacada em setores tão distintos como o agronegócio e a logística, no caso de Rubens Ometto, da Cosan (CSAN3), ao mercado imobiliário, o financeiro e o de mídia, devidamente representado por outro Rubens, o Menin, da MRV (MRVE3), do Banco Inter (BIDI11) e da CNN Brasil. Zeco Auriemo, da JHSF, anfitrião por direito, e Carlos Fonseca (da gestora Galapagos) também estavam presentes.

Teve convidado que não compareceu: Flavio Rocha, do grupo Guararapes (GUAR3), dono da Riachuelo; e teve quem não constava da lista publicada pelo Globo mas estava presente, caso de Luciano Hang, da Havan.

Os executivos e os empresários participaram de uma reunião conjunta com Musk, que veio tratar na agenda oficial - se é que se pode chamar assim - de acordos para usar satélites de sua outra companhia, a Starlink, para auxiliar no monitoramento da Amazônia e levar conexão à internet para 19 mil escolas.

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Antes disso, Musk participou de uma sessão com cerca de 50 alunos, tanto do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de São José dos Campos, como do Instituto de Tecnologia e Liderança (Inteli). Trata-se do novo instituto tech em São Paulo lançado por Esteves e Roberto Sallouti, CEO do BTG Pactual, com inspiração em Stanford, no MIT e em outras referências de ensino de tecnologia do exterior.

O empresário respondeu a quatro perguntas, uma delas sobre que conselho daria a novas gerações: “busquem ser úteis. E isso é algo difícil de conseguir”.

Mas o ponto alto de negócios, conforme pessoas familiarizadas com o assunto que pediram anonimato porque não estão autorizadas a comentar, se deu literalmente a portas fechadas de duas suítes do Fasano Boa Vista, sem declarações para a imprensa. Foram quatro reuniões “individuais” com os CEOs de cada uma das quatro maiores empresas de telecomunicações presentes no país: José Felix (Claro), Pietro Labriola e Alberto Griselli (Telecom Italia e TIM Brasil (TIMS3)), Rodrigo Abreu (Oi (OIBR3; OIBR4)) e Christian Gebara (Vivo (VIVT3)).

O teor das conversas entre os executivos não foi divulgado.

Passadas as reuniões de negócios, o fundador da Tesla se deu ao direito de mudar a sua programação e ficou para o almoço. Entre carne bovina ou peixe, Musk ficou com a primeira opção: escolheu um medalhão de filé mignon com molho marsala e risoto de parmesão. Para beber, nada de ostentação com vinhos na casa de quatro ou mais dígitos: Coca-Cola zero em latinhas de alumínio, servidas em taças de cristal, predominaram na mesa que teve Esteves e Bolsonaro nos lugares estratégicos ao lado de Musk.

Já passava das 14h00 do horário local quando Musk deixou o Hotel Fasano Boa Vista a caminho do aeroporto Catarina para pegar o voo de volta para os Estados Unidos.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.