Exportação de trigo suspensa na Índia aumenta preços e ameaça segurança alimentar

Conflito entre Ucrânia e Rússia – dois exportadores de peso – aumentou dependência global do grão indiano

Índia vem preferindo manter produção de grãos internamente para atender à demanda nacional
Por Pratik Parija
16 de Maio, 2022 | 02:02 PM

Bloomberg — O trigo atingiu o limite de alta da bolsa de Chicago e se aproximou de nível recorde após a decisão da Índia de restringir exportações, o que mostra o aperto na cadeia global de suprimentos com a guerra na Ucrânia e traz risco de mais aumento nos preços de alimentos.

O governo indiano disse que vai suspender as vendas ao exterior para administrar sua segurança alimentar. Isso gerou críticas de ministros da agricultura do G7, que disseram que tais medidas agravam a crise mundial.

Os futuros de referência em Chicago chegaram a subir até 5,9%, chegando a US$ 12,475 por bushel, a maior alta em dois meses e a cerca de US$ 1 da máxima histórica estabelecida logo após a invasão da Rússia. Os preços já subiram cerca de 60% este ano, aumentando o custo de tudo, desde pães a bolos e macarrão. Em Paris, o trigo subiu 5,1%, para 431,75 euros (US$ 450) por tonelada, um recorde para os futuros.

O surpreendente é que a Índia nem sequer é um exportador de destaque no cenário mundial. O fato de ter um impacto tão grande ressalta a perspectiva sombria para a oferta global de trigo. A guerra prejudicou as exportações da Ucrânia, e agora secas, inundações e ondas de calor ameaçam colheitas na maioria dos grandes produtores.

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“Se essa proibição ocorresse em um ano normal, o impacto seria mínimo, mas a perda de volumes na Ucrânia exacerba os problemas”, disse Andrew Whitelaw, analista de grãos da Thomas Elder Markets, com sede em Melbourne.

A decisão da Índia de interromper as exportações de trigo segue uma onda de calor recorde que ressecou a safra durante um período crucial e levou às estimativas de queda de produção. Isso criou um dilema para a Índia, que vinha tentando preencher a lacuna deixada pelas exportações interrompidas da Ucrânia.

A Índia prioriza o mercado doméstico mesmo com o risco de manchar sua imagem internacional como fornecedor confiável. O primeiro-ministro Narendra Modi enfrenta frustração em casa com o aumento da inflação, uma questão que derrubou o governo anterior e abriu o caminho para sua ascensão ao poder.

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A Índia aprovará as exportações para países que necessitam de trigo para segurança alimentar e com base nas solicitações de seus governos. Também permitirá embarques para os quais tenham sido emitidas cartas de crédito irrevogáveis. Seus suprimentos geralmente vão para Bangladesh, Sri Lanka, Emirados Árabes Unidos e Indonésia.

Uma autoridade do Egito, que só recentemente aprovou importações da Índia, disse no domingo (15) que o país comprará 500 mil toneladas, com suas compras governamentais isentas da proibição.

“Dirigir as exportações de trigo por meio de canais governamentais não apenas garante o atendimento das necessidades genuínas de nossos vizinhos e países com déficit alimentar, mas também controla as expectativas inflacionárias”, disse o ministério da alimentação da Índia em um comunicado, acrescentando que o país tem estoques de alimentos adequados.

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