Como a guerra compromete safra e frustra aposta na queda de fertilizante

Até fevereiro, apenas 28% das compras de fertilizantes necessárias para o segundo semestre deste ano já haviam sido feitas

Guerra compromete a safra e frustra aposta na queda de fertilizantes
Por Tatiana Freitas
22 de Março, 2022 | 06:18 AM

Bloomberg — Muitos agricultores brasileiros foram pegos de surpresa pelo aumento dos preços de fertilizantes após o ataque da Rússia à Ucrânia, forçando-os a pagar ainda mais por insumos para o plantio deste ano.

Até fevereiro, apenas 28% das compras de fertilizantes necessárias para o segundo semestre deste ano já haviam sido feitas, de acordo com levantamento da StoneX junto a produtores que respondem por cerca de 40% da safra de grãos do país. As compras estão bem abaixo dos 43% um ano atrás. Poucos negócios foram fechados desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro.

“A janela para compra de fertilizantes está apertada e os agricultores estão lidando com preços mais altos e incertezas no fornecimento”, disse em entrevista Luigi Bezzon, analista da StoneX.

O Brasil, além de potência agrícola, é também o maior importador de fertilizantes do mundo, por isso qualquer impacto no mercados de insumos pode afetar o país, com repercussão além de suas fronteiras.

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Dado os preços crescentes e a escassez de oferta, é improvável que os agricultores consigam igualar o uso de fertilizantes das safras anteriores, o que pode se converter em rendimentos mais baixos quando o mundo enfrenta uma inflação nos preços de alimentos.

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Plantio de soja

A principal preocupação é com o plantio de soja a partir de setembro. Os pedidos devem ser feitos até julho para garantir um tempo adequado para o transporte, segundo Bezzon. A Rússia e a vizinha Belarus estão entre os principais fornecedores de fertilizantes do mundo.

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“É improvável que o Brasil consiga repetir o mesmo uso de fertilizantes visto na temporada passada”, disse ele. “Os incentivos para o uso de fertilizantes são menores agora.”

Os agricultores geralmente compram insumos meses antes do plantio através de permutas, fixando os custos. Mas os agricultores adiaram as compras depois que os preços subiram ano passado devido aos altos custos de energia, restrições à exportação para a China e sanções contra Belarus.

Alguns produtores aproveitaram as reduções de preços entre dezembro e meados de fevereiro, enquanto outros que estavam apostando em novas quedas foram surpreendidos pela invasão da Ucrânia que elevou os preços a novas altas.

“Tive a sorte de ter comprado meus fertilizantes uma semana antes do início da guerra”, disse Ricardo Arioli, produtor de soja em Campo Novo do Parecis, no Mato Grosso. “Comprar a preços atuais é quase impossível.”

Desde o início de março, a relação entre preços de fertilizantes e soja para entrega no próximo ano vem se deteriorando: os agricultores precisam vender mais produção para comprar a mesma quantidade de insumos.

Na sexta-feira, um produtor precisava vender 25 sacas de soja para comprar uma tonelada de potássio, ante 20 sacas em meados de fevereiro, segundo a StoneX. Para comprar uma tonelada do popular fertilizante nitrogenado ureia, um agricultor precisa de 45 sacas de soja – acima das 30 sacas do mês anterior.

O aumento dos preços de fertilizantes é o principal responsável pelo aumento de 60% nos custos agrícolas em fevereiro no Mato Grosso, de acordo com o Imea. O número não incorpora os últimos aumentos no preço do dísel e fertilizantes.

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O gerente do Imea, Cleiton Gauer, vê 2022 como “um ano de redução de margens”, já que os custos crescentes levam os agricultores a considerar reduzir as aplicações na próxima safra de soja e aproveitar os resíduos de fertilizantes no solo.

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