Churrasco no Canadá: país se abre para importação de carne brasileira

Expectativa também é que viagem garantia ao Brasil mais fertilizante em meio à oferta restrita com a guerra da Rússia com Ucrânia

Objetivo principal da ministra era comprar fertilizante do Canadá, mas, por enquanto, foi anunciada a abertura do mercado de carne bovina e suína para um país que concorre com o Brasil no mercado internacional
14 de Março, 2022 | 04:40 PM

Bloomberg Línea — A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, embarcou para o Canadá no último final de semana com o objetivo de comprar fertilizantes para o Brasil. Maior produtor e exportador de potássio do mundo, os canadenses poderiam atender a demanda brasileira, especialmente após o início de guerra entre Rússia e Ucrânia. Rússia e Belarus são os outros dois grandes fornecedores, que, junto com o Canadá, respondem por 80% do comércio de potássio do mundo.

Veja mais: Governo lança plano para reduzir dependência de fertilizantes importados até 2050

Contudo, o primeiro resultado da viagem da ministra não foi a compra, mas a venda de produtos para os canadenses. Em sua conta no Twitter, Tereza Cristina anunciou a liberação do Canadá para a exportação de carne bovina e suína brasileira. Por enquanto, apenas os frigoríficos de Santa Catarina estarão autorizados a embarcar sua produção para o mercado canadense, mas a expectativa é que os demais Estados também sejam contemplados. Hoje, Santa Catarina já responde por mais de 50% das exportações de carne suína do Brasil.

“Acabamos de sair do ministério da Agricultura canadense com duas ótimas notícias. A abertura dos nossos mercados de carne suína e bovina para este país, além dos fertilizantes que estamos com várias reuniões agendadas durante o dia de hoje”, disse a ministra brasileira em um vídeo. A abertura do mercado canadense faz com que o Brasil supere a marca estipulada pela própria ministra, de ter 200 mercados abertos para os produtos do agronegócio brasileiro.

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Veja mais: Ministra embarca para o Canadá atrás de fertilizantes para o Brasil

A ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) ainda não tem uma projeção de quanto o produto brasileiro poderia representar das importações canadenses. Mesmo assim, a abertura foi comemorada pelo setor. “Além de gerar mais divisas para a suinocultura nacional, que vem enfrentando fortes dificuldades em função dos elevados custos de produção, o reconhecimento sanitário das autoridades canadenses reforçará as chancelas já existentes à qualidade e à sanidade do produto brasileiro”, disse a ABPA em nota.

Apesar de entendida como positiva, o Canadá é, na verdade, concorrente do Brasil no mercado internacional de carne suína. Enquanto o Brasil embarca por ano cerca de 1,4 milhão de toneladas por ano, os canadenses comercializam quase 1,5 milhão. Com uma produção doméstica de 2,15 milhões de toneladas, o Canadá ainda importa cerca de 270 mil toneladas por ano para atender um consumo doméstico de 960 mil toneladas.

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No caso da carne bovina, o Canadá é praticamente autossuficiente. O país produz pouco mais de 1,4 milhão de toneladas por ano para um consumo doméstico de aproximadamente 1 milhão de toneladas. Nesse contexto, os frigoríficos canadenses ainda encontram oferta para exportar 605 mil toneladas de carne bovina por ano.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.