Bradesco: Grandes empresas vão evitar financiamentos de longo prazo

CEO do banco diz que custo de 15% ao ano para empréstimos de 10 anos faz empreendedores engavetarem planos de investimentos

Bradesco espera reduzir despesas operacionais com o avanço da digitalização e conversão de agências em unidades de negócio
09 de Fevereiro, 2022 | 12:13 PM

São Paulo — O Bradesco (BBDC4) espera que as grandes empresas do país, que representam 40% de sua carteira de crédito, evitem neste ano tomar empréstimos de longo prazo, diante dos maiores custos dessas operações com a taxa Selic em dois dígitos, em um ano de previsão de menor crescimento da economia e incertezas sobre a disputa presidencial. Segundo o CEO do banco, Octavio de Lazari, os empresários estão adiando investimentos, à espera de melhores condições do mercado.

“Uma taxa de juro futuro de 12% mais o spread, ou seja, 15% ao ano é proibitiva para se ter retorno em um investimento com prazo de cinco a 10 anos”, disse o executivo, durante teleconferência com jornalistas para comentar o resultado financeiro do quarto trimestre, na manhã desta quarta-feira (9).

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No fim do ano, as equipes do Bradesco fizeram reuniões virtuais com seus principais clientes corporativos sobre as perspectivas para 2022 e perceberam um arrefecimento natural entre os empreendedores de tomar financiamentos de longo prazo e assumir taxas tão elevadas, relatou Lazari.

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Ele também projetou um aumento da inadimplência neste ano e espera maior uso de cartão de crédito pelas pessoas físicas, bem como do crédito pessoal, em um cenário de índices elevados de inflação, menor poder aquisitovo e maiores despesas pessoais dos clientes. “Com a pandemia diminuindo neste ano, as pessoas vão voltar mais para o trabalho presencial e usar mais o cartão em gastos com refeições fora”, exemplificou o CEO.

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Quanto ao crédito imobiliário, Lazari disse que essa linha deve ter um crescimento menor neste ano (9% a 10%), porque dificilmente alguém vai tomar financiamento de imóvel por 10 ou 20 anos com taxas de juros mais elevadas. “As pessoas vão esperar uma redução das taxas no futuro”.

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Ele afirmou ainda que as operações no mercado de capitais, como ofertas públicas, também devem diminuir, pois os investidores estão pedindo descontos maiores nos preços dos novos papéis. Mesmo diante de um cenário macroeconômico mais desafiador, o CEO do Bradesco disse que vê espaço para crescimento do banco em 2022, com redução de despesas com o processo de transformação digital, por exemplo.

Lazari citou que a abertura de conta em um agência física gera ao banco um custo de R$ 52 por conta. Com a validação digital, em canais eletrônicos, esse custo cai para R$ 1,80. O Bradesco também está remodelando sua rede de agências, transformando em unidades de negócios, de menor custo.

Em 2021, o banco teve despesas maiores com a correção dos contratos de aluguel pelo IPCA e IGP-M em nível elevado e com fornecedores (como os de tecnologia, que são cotados em dólar). A instituição diz que tem renegociado os termos desses contratos, a fim de reduzir custos fixos.

Identificamos gargalos para reduzir os custos e estamos realizando ajustes de estrutura, transformando agências em unidades de negócio com foco no atendimento”, afirmou o CEO.

Pix

O CEO do Bradesco comentou ainda sobre o impacto negativo da popularidade do Pix (meio instântaneo de pagamento e transferência de recursos, gratuito para pessoas físicas) na receita de tarifas do banco, o que também foi observado no resultado financeiro da operação brasileira do banco espanhol Santander, divulgado na semana passada.

Lazari disse que esse efeito era natural e esperado, já que os clientes passam a evitar produtos tarifados como Doc e TED. No entanto, o Bradesco espera uma diluição desse impacto negativo, já que o banco acaba reduzindo os custos com o transporte de papel-moeda, já que se verifica uma menor quantidade de dinheiro circulando em caixas eletrônicas e nas agências. Ele também considera que outras linhas de negócios

Sobre o funcionamento das agências, o CEO disse que o quadro de pessoal do banco está em esquema de trabalho híbrido. Em outubro do ano passado, o retorno ao trabalho presencial já estava ocorrendo para 50% dos funcionários, mas devido à proliferação da variante ômicron a partir de novembro, houve um freio nesse processo, e hoje esse percentual está em 40%.

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Ele tem expectativas de que a pandemia da covid seja cada vez menos severa neste ano, com retorno à normalidade, e isso se traduz na menor sinistralidade verificada no desempenho da seguradora do Bradesco em 2021.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.