Banco Pan reduz ritmo de emissão de cartão de crédito devido ao risco

Instituição corta pela metade o total de cartões emitidos no 4ª trimestre, quando lucrou R$ 190 mi, alta de 11% ante mesmo período de 2020

PAN diz que o volume transacionado pelos clientes atingiu R 18,7 bilhões no quarto trimestre, alta de 413% na base anual e de 36% em relação ao terceiro trimestre de 2021, reforçando a expansão do banco ao longo dos meses e indicando o engajamento dos clientes com a oferta de uma plataforma de banking e serviços
08 de Fevereiro, 2022 | 04:25 PM

São Paulo — Controlado pelo BTG, o Banco PAN (BPAN4) se tornou, no quarto trimestre de 2021, mais seletivo na emissão de cartões de crédito para novos clientes, em meio ao aumento do indicador de inadimplência, captado no terceiro trimestre, quando o cenário macroeconômico azedou com as incertezas sobre inflação, juros, variantes da covid e disputa presidencial em 2022. A instituição financeira cortou pela metade o número de cartões emitidos entre outubro e dezembro, na comparação com o dado de julho a setembro. Mesmo assim, o PAN lucrou R$ 190 milhões, aumento de 11% em relação ao mesmo trimestre de 2020.

Decidimos focar em clientes que conhecíamos melhor”, disse o CEO do banco, Carlos Eduardo Guimarães, em teleconferência com jornalistas para comentar o resultado financeiro divulgado mais cedo.

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Ele explicou que a decisão de restringir a emissão de novos cartões se deu após o banco vislumbrar um “cenário mais desafiador”, capaz de elevar a percepção de risco de crédito. O PAN emitiu cerca de 352 mil cartões no quarto trimestre, ante os 708 mil no terceiro. Guimarães considerou um “pace adequado” uma média de 100 mil cartões emitidos por mês para este momento.

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Em novembro do ano ano passado, o PAN lançou um cartão co-branded em parceria com o Buscapé, que teve mais de 500 mil cartões solicitados desde o início da operação, segundo a instituição. O lançamento marcou o início da integração de produtos e serviços financeiros nas plataformas da Mosaico, dona da marca Buscapé, cuja aquisição foi anunciada pelo banco em outubro passado. Segundo Guimarães, a expectativa é que o Banco Central aprove a compra da Mosaico até o fim do próximo mês de março.

Carteira de crédito

No acumulado de 2021, o PAN registrou um lucro líquido de R$ 775 milhões, aumento de 18% em relação ao ano anterior. O banco encerrou dezembro com 17,1 milhões de clientes totais, crescimento de 124% em 12 meses, adicionando 46 mil novos clientes por dia ao longo de 2021. Segundo o PAN, o aumento do fluxo orgânico contribuiu para ganhos de eficiência, que levaram a uma redução de 44% no CAC (Custo de Aquisição por Cliente) em apenas seis meses, chegando em R$35 no quarto trimestre.

“Ao longo de 2021, lançamos novos produtos e serviços, melhoramos a experiência de nossos clientes no aplicativo e ampliamos nossos canais de relacionamento. Como resultado, aumentamos o cross sell e o nível de engajamento. Nossos correntistas e cartonistas (banking clients) já representam 37% dos R$ 34,9 bilhões da nossa carteira de crédito”, explica Carlos Eduardo Guimarães (Cadu), CEO do Banco PAN.

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Em 2021, a carteira de crédito cresceu 21%. Desses R$ 34,9 bilhões, 88% apresentam garantias, segundo o PAN. No quarto trimestre, o nível de inadimplência acima de 90 dias sobre a carteira foi de 6,3%, refletindo a mudança gradual no mix com crescimento do cartão de crédito, financiamento de veículos e empréstimo pessoal, explicou a instituição.

O ROE (retorno sobre o patrimônio líquido, indicador de rentabilidade) ficou em 13,3%, abaixo dos 13,6% no terceiro trimestre de 2021, mas acima dos 13,0% no quarto trimestre de 2000. Questionada se o ROE está em tendência altista ou baixista, Guimarães evitou fornecer “guindance”, mas expressou otimismo com as expectativas de crescimento para o banco neste ano. “Somos um banco diversificado. Estamos acostumados a trabalhar com diferentes ciclos econômicos. Estamos animados para 2022″, afirmou o CEO.

Repercussão

Em relatório sobre o balanço, os analistas Gustavo Schroden (Bradesco BBI) e Maria Clara Negrão (Ágora Investimentos) destacaram os riscos do aumento de inadimplência para o PAN. Eles mantiveram a recomendação neutra para a ação do banco.

“Os resultados do Banco PAN no 4T21 levantam preocupações sobre a qualidade dos ativos, especialmente quanto à evolução das provisões em relação ao índice de cobertura. Embora reconheçamos o aumento modesto nas provisões, ainda acreditamos que o banco está em uma posição sensível do índice de cobertura e, como os NPLs podem se deteriorar ainda mais ao longo de 2022, vemos um crescimento das provisões no futuro. Embora ainda gostemos da história de longo prazo, e de sua evolução positiva na frente comercial, com novos caminhos de crescimento, principalmente em tarifas e serviços financeiros, acreditamos que 2022 deve ser um ano desafiador para o banco”, escreveram os analistas.

Eles também disseram que se decepcionaram as receitas do banco com tarifas. “Destacamos que tanto o índice de inadimplência 90 dias quanto antecipado se deterioraram, devido à mudança no mix da carteira. As tarifas também decepcionaram, mas foram compensadas por despesas operacionais abaixo do esperado, impulsionadas por menores despesas com comissões. Por fim, destacamos que a atração de clientes continua forte, mas a emissão de cartões de crédito caiu pela metade no 4T21, apontando preocupações com as condições macro”, citaram Schroden e Negrão.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.