Colheita de soja e milho avança, mas perdas se acentuam no Sul do país

Lavouras do PR, SC e RS ainda enfrentam baixa disponibilidade de água e desenvolvimento pode ser ainda mais comprometido

Trabalhos avançam em ritmo acelerado em todo o país, mas estiagem pode trazer ainda mais perdas nas lavouras da região Sul
25 de Janeiro, 2022 | 05:48 PM

Bloomberg Línea — A colheita da safra de soja e milho do Brasil avança em ritmo acelerado neste ano. Dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) mostram que 5,5% da área plantada com soja e 7,7% das lavouras de milho já foram colhidos em todo o país. O desempenho mostra um aumento significativo em comparação à semana anterior, quando apenas 1,7% da soja e 4,4% do milho haviam sido retirados das lavouras em todo o país.

O resultado desta semana também indicam um forte avanço em comparação à colheita do ano passado, especialmente no caso da soja. Em 2021, a estiagem atrapalhou o início do plantio da oleaginosa, que acabou atrasando em aproximadamente um mês os trabalhos de semeadura, principalmente na região Centro-Oeste. Como consequência, a colheita acabou começando mais tarde. Neste mesmo período do ano passado, apenas 0,9% da área plantada com soja havia sido colhida.

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No ano passado, o clima não teve tanto impacto sobre o plantio da primeira safra de milho, que se concentra na região Sul. Nessa mesma época do ano, 5% da colheita do milho já estava concluída. Contudo, a estiagem durante o desenvolvimento das lavouras do cereal nos Estados da região já provocou perdas de produtividade e pode prejudicar ainda mais a produção.

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O monitoramento da Conab mostra que as lavouras de milho do oeste do Paraná e de Santa Catarina ainda enfrentam baixa disponibilidade de água. No Rio Grande do Sul a situação é ainda mais crítica. Toda a faixa oeste e central do Estado tem uma escassez hídrica, em um momento onde as lavouras ainda estão em fase de desenvolvimento vegetativo, floração e enchimento de grãos. Os gaúchos sequer conseguiram concluir o plantio da safra de milho por não haver umidade suficiente no solo e não há previsão para o término. “Os prejuízos aumentam visto que os reservatórios hídricos atingem níveis baixos. A escassez hídrica segue impactando o ciclo da cultura e reduzindo a expectativa de produtividade”, diz o último relatório da Conab.

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Na última atualização da safra, em janeiro, a Conab cortou pela primeira vez sua projeção para a produção do Paraná e Rio Grande do Sul. No caso paranaense, a oferta de soja foi reduzida em 11% em comparação ao projetado em dezembro. Em termos absolutos, o corte representou uma disponibilidade de 2,26 milhões de toneladas a menos de soja. No milho, a redução foi de 35,5% e uma redução de 1,5 milhão de toneladas.

No Rio Grande do Sul, a Conab reduziu quase pela metade a expectativa para a colheita de milho. As 5,94 milhões de toneladas previstas em dezembro foram reduzidas para pouco mais de 3 milhões na atualização de janeiro. Contudo, com um plantio mais tardio, a produção da soja ainda não sofreu alterações. A estimativa da Conab para a safra gaúcha do grão permanece em 21,2 milhões de toneladas. Mas, assim como o milho, o desenvolvimento das lavouras está comprometido pela falta de chuvas. Há a expectativa que na atualização de fevereiro a Conab possa fazer uma revisão para a produção de soja do Estado.

Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.