Adama vai substituir importação por produção local de ingrediente para defensivo

Empresa vai construir nova unidade no RS com investimento de R$ 200 milhões para garantir abastecimento de matéria-prima

Empresa vai deixar de importar moléculas para defensivos e passar a sintetizar a matéria-prima no Brasil
02 de Dezembro, 2021 | 07:12 AM

Bloomberg Línea — A israelense Adama, controlada pela Syngenta Group, vai investir R$ 200 milhões para instalar uma nova unidade produtiva em seu parque fabril de Taquari (RS) e passar a sintetizar no Brasil a molécula para um de seus fungicidas. A ideia é que a produção tenha início até junho de 2022 e faz parte da estratégia da companhia de dobrar a receita da operação brasileira até 2025.

A síntese do Protioconazol no Brasil vai substituir a importação do principal ingrediente ativo do Armero, fungicida utilizado no combate à “Mancha Alvo”, doença que pode reduzir a produtividade das lavouras de soja em até 30%. O plano da Adama é fabricar o princípio ativo no Rio Grande do Sul e desenvolver o produto final em sua unidade de Londrina, no Paraná.

O parque fabril paranaense, aliás, vai inaugurar uma unidade exclusiva para produção de herbicidas. Com investimento de US$ 2 milhões, a fábrica tem capacidade para 8 milhões de litros por ano e será utilizada para produzir outros três defensivos que a empresa pretende lançar nos próximos anos. Além do mercado nacional, a nova fábrica fornecerá produtos para os mercados dos Estados Unidos, China, África do Sul, Namíbia e países da América Latina.

A decisão da Adama de produzir o ingrediente ativo no Brasil ocorre em meio a um cenário de abastecimento de defensivos químicos ainda incerto para esta safra. Com uma necessidade de importar 76% dos ingredientes ativos utilizados nas formulações dos químicos utilizados na agricultura, o Brasil tem na China seu maior fornecedor, responsável por atender, sozinha, 32% dessa necessidade. Os problemas de energia enfrentados pelos chineses fizeram com que a produção de matéria-prima do país fosse reduzida, diminuindo a oferta para o mundo.

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Em outubro, o próprio Ministério da Agricultura reconheceu que a escassez de defensivos agrícolas e fertilizantes era uma possibilidade real ainda para a safra 2021/22. Contudo, dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) indicam que o volume de defensivo utilizado no terceiro trimestre do ano foi de 154,6 mil toneladas, 6,6% a mais que as 145,1 mil toneladas utilizadas no mesmo período de 2020.

O aumento da utilização em uma perspectiva de desabastecimento é explicado pela queima dos estoques que ainda estavam disponíveis, especialmente entre os distribuidores. Para o presidente do Sindiveg, Julio Borges, o cenário ainda “é instável e preocupa bastante, devido à escassez de matérias-primas importadas, elevação dos custos e, especialmente, falta de garantia de entrega de insumos pela China, nosso principal fornecedor”.

Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.