O empresário que conseguiu o licenciamento do Jurassic Park para abrir restaurante no Brasil

Conheça a história de Renan Pizii, piloto da Porsche Cup, que conquistou a licença da marca Jurassic Park para explorar hamburgueria no Brasil

Paixão pelo filme "Jurassic Park", sucesso de Steven Spielberg, motiva empreendedor a conseguir licenciamento da marca e abrir complexo gastronômico na retomada do setor de restaurantes em São Paulo
07 de Novembro, 2021 | 06:48 PM

São Paulo — O mês de novembro é um divisor de águas no calendário de São Paulo. Após 18 meses de pandemia da Covid-19, estabelecimentos como restaurantes e bares voltam a funcionar sem restrições de lotação e horário (com exceção do uso obrigatório de máscara). Os moradores da maior metrópole do Brasil começam a experimentar a sensação de vida voltando ao normal e a buscar novidades nos guias da cidade. A retomada do lazer, do entretenimento, após uma sequência de “lockdown” e temores de contágio pelo novo coronavírus, traz desafios aos empreendedores desses segmentos: como atrair a clientela de novo? O que as pessoas desejam neste momento em que a capital mais populosa e rica do país está virando a página da crise sanitária?

O piloto da Porsche Cup e empresário Renan Pizii, de 36 anos, buscou respostas em sua trajetória profissional e paixão de infância. Em setembro, ele inaugurou o Jurassic Park Burger Restaurant, que integra um novo complexo gastronômico no Itaim Bibi, com o aval da Universal Studios, que negocia os direitos de licenciamento do filme clássico de ficção científica “Jurassic Park”, fenômeno de bilheteria de 1993, dirigido pelo premiado cineasta Steven Spielberg (”Tubarão”, “E.T.: O Extraterreste”, “A Lista de Schindler”, entre outras obras-primas) e cultuado por gerações de todas as idades.

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“Já estamos atendendo uma média de 600 pessoas por dia, sem abrir ainda para o almoço [iniciado no último dia 2]. A retomada está acima das nossas expectativas. Além da franquia ser de extrema qualidade, eu sabia que o público iria aderir. Ninguém aguenta mais ficar em casa. A pandemia deu um senso de urgência nas pessoas para aproveitar a vida”, diz Pizii, em entrevista à Bloomberg Línea.

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Ele conta que o projeto de três restaurantes (a hamburgueria oficial do filme, o japonês Go Sushi e o italiano Alto Cucina), com abertura de 77 vagas de emprego, em uma área de 2 mil m², ocupando quatro andares, tinha previsão de virar realidade no começo de 2020, mas aí veio a pandemia da Covid-19 em março, adiando o sonho. “A gente esperou passar a pandemia, muita ansiedade, fazendo follow up com a Universal Studios direto. Até que a gente decidiu abrir depois que o governador [João Doria] tirou as restrições. Sendo bem transparente: não daria para abrir com restrições. Agora está seguro o projeto como todo”, diz.

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Nas negociações com o estúdio de cinema da Comcast, iniciadas em 2018, para convencer a Universal a licenciar a marca e cumprir todas as exigências nesse tipo de contrato, o trunfo do piloto, que considera “Jurassic Park” o filme da sua vida, visto na infância, é a Iron Studios, sua marca das duas lojas físicas (Jardins e Itaim, atrelada ao complexo gastronômico) e respectivo site especializado em produtos geek para colecionadores, como estátuas, action figures, mini co, pop funko e outros artigos para apaixonados por cultura pop.

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“Temos uma base de fãs muito forte globalmente e principalmente no Brasil. Quando a gente lançou o Instagram do projeto e começou a falar sobre ele, a galera já sabia que seria algo de grande qualidade”, reconhece o empresário, que também está à frente da Comic Con Experience (CCXP), festival de referência para consumidores de games, séries e histórias em quadrinhos.

Loja Iron Studios, que também tem o licenciamento da Universal Studiosdfd

Parcerias

O coração do complexo gastronômico é a Iron Studios Concept Store. No primeiro andar, há a hamburgueria do Jurassic Park e a loja da Iron Studios. No segundo andar, o visitante encontra só a Iron Studios. Nos outros andares, estão os restaurantes Go Sushi (terceiro) e Alto Cucina (quarto). Elevadores e escadas dão acesso aos quatro pavimentos.

Durante as conversas para obter a autorização da Universal, o empreendedor teve de analisar outra questão: sua inexperiência na área de alimentação. “Não sou da área de alimento. Venho aprendendo muito. A dúvida que acho que nossos fãs tinham seria em relação à qualidade da comida, porque eles sabem que a gente não tinha know how nenhum de alimento”.

Ele resolveu o problema fechando sociedades com nomes conhecidos do ramo da gastronomia na capital. O quadrinista Fábio Moon, da hamburgueria Fat Cow, é um dos sócios de Pizii e opera a hamburgueria. O chef Cris Mori, que era do sushi bar do Empório Santa Maria, cuida do Go Sushi Restaurant, enquanto o chef italiano Antonio Maiolica (ex-Antonietta Cucina, que fechou neste ano) é responsável pelo Alto Cucina.

O cronograma inicial de Pizii previa a abertura do complexo já no início de 2020, antes do março do decreto da pandemia, mas houve um imprevisto que acabou evitando iniciar um projeto com “timing” frustrante. “Meu atraso de obras foi positivo, porque se eu tivesse aberto o complexo um mês antes da pandemia, eu teria problema, porque teria de fechar e mandar os colaboradores embora”.

Frete e dólar

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A crise da Covid, que fez disparar a cotação do dólar e levou caos ao setor de logística em portos e aeroportos, foi outro obstáculo que Pizii teve de enfrentar, já que importa peças, tem um contrato de licenciamento na moeda norte-americana, assinado em 2019, e viu os custos aumentarem. Falar sobre esse contexto econômico atual estimula Pizii a fazer uma reflexão sobre a resiliência exigida dos empreendedores nacionais, que têm de redobrar as forças e correr para sobreviver na selva, a exemplo dos personagens humanos do filme “Jurassic Park”.

“O brasileiro passa por tanta dificuldade. Eu faço negócio com o mundo inteiro. A Iron Studios está em 42 países. Converso muito com vários empresários do mundo. A gente é tão raçudo. O brasileiro vive de matar um leão por dia”, avalia o empresário, que faz ainda uma comparação com os colegas norte-americanos, que costumam expressar desespero diante de problemas estruturais que são rotineiros para os brasileiros.

Ele dá exemplo da explosão dos custos do frete marítimo, do aluguel de contêineres e a demora para a liberação alfandegária das mercadorias importadas. “Hoje você está negociando contêiner por US$ 20 mil. Antes, o preço médio era de US$ 3 mil, US$ 4 mil, US$ 5 mil. Vi empresários americanos se desperando com isso. Para nós, é só mais um problema para resolver. Estamos acostumados a tomar porrada, eles, não”.

Com o frete nas alturas, Pizii decidiu antecipar o volume de importações para garantir o estoque para o Natal. “A gente se adapta muito fácil às mudanças, já o americano não tem problemas com a desvalorização da moeda dele”.

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Obras do Jurassic Park Burger Restaurant chegaram a sofrer atrasos, o que impediu a inauguração em pleno início da pandemia, quando o setor teve de fechar as portasdfd

Novos projetos

O próximo passo do empreendimento é operar no sistema de delivery, um projeto para o ano que vem. “Não quero simplemeste abrir o delivery. Quero que o delivery seja uma experiência tão boa quanto a experiência do restaurante. Estamos estudando isso e decidimos lançar só no no que vem. A gente quer fazer de uma forma muito bem pensada. Esse é o nosso desafio atual”.

Ele descarta plano de abrir um parque temático sobre o filme no Brasil. “Um parque nos moldes que existe nos EUA é muito difícil, exige muito investimento e tecnologia. Além disso, hoje o brasileiro está no top 5 de frequentadores dos parques da Disney, da Universal. Eles sabem que nossa economia é muito instável e não vão querer que um dos seus principais clientes, os brasileiros, deixem de visitá-los lá nos EUA”.

Pizii estuda outros projetos para tocar em 2022, mas por enquanto prefere não revelar os detalhes publicamente. “Tenho planos de que todas as próximas lojas da Iron tenham uma experiência gastronômica atrelada. Não necessariamente Jurassic Park nem hambúrguer”.

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Devido à cláusula de confidencialidade, o empresário não pode falar de valores de royalties nem dos termos envolvendo o contrato de licenciamento com a Universal Studios. Ele comenta ainda que há (ou houve) outros empreendimentos no Brasil explorando personagens famosos do mundo do entretenimento, mas muitas vezes sem autorização oficial, sem licenciamento pelos estúdios, o que acaba prejudicando esses negócios juridicamente, com consequentes mudanças exigidas para desfazer a ligação com as marcas.

Ayrton Senna

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Uma das inspirações de vida do piloto da Porsche Cup é um herói brasileiro, Ayrton Senna (1960-1994), lenda da Fórmula 1. Em 2013, após um encontro com Bruno Senna, sobrinho do campeão mundial, ele começou a pesquisar como produziria pequenas estátuas do campeão do automobilismo para o Instituto Ayrton Senna e não parou mais no mercado de colecionáveis e, um ano depois, montou com sócios a Comic Con Experience. “Sou super fã dele. Também sou piloto da Porsche Cup. Vou correr agora no GP Brasil na disputa do campeonato”.

Sua experiência no esporte o ajuda no mundo dos negócios. “Aprendi muitas lições com o kartismo. Agradeço ao meu pai. Fui piloto dos 14 aos 19 anos. Parei de correr por falta de grana. Depois de 4 anos, montei minha primeira empresa, a Pizii. Eu tive a escola de disciplina. Saber que para vencer você precisar trabalhar muito antes. A vitória não cai do céu. Você tem deveres e obrigações para atingir seus objetivos” , conta Pizii, pai de uma filha de 5 meses, que encontra tempo para competir como piloto e tocar os projetos da Iron Studios e do Jurassic Park Burger Restaurant.

Ele critica o imediatismo de novas gerações e suas dificuldades de lidar com frustrações, algo que o esporte ajudou a superar. “A gente apanha mais do que ganha. É preciso aprender a viver com isso. Quando você perde, é sua oportunidade de melhorar. Em todas as minhas empresas, tenho inúmeras dificuldades, mas você tem de pegar essa dificuldade e transformar em oportunidade. Aprendo com o automobilismo. Fiquei 16 parado, voltei a correr no ano passado e hoje sou líder na minha categoria. Me dedico muito. O esporte é muito importante para a formação do ser humano”, conclui o empresário e piloto.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.