No G20, Bolsonaro diz a Merkel: “Não sou tão ruim quanto dizem”

Bolsonaro não estava no grupo de líderes que passeava no centro de Roma, rindo e tirando selfies ao lado da fonte de Trevi. Ele visitou a obra-prima sozinho

O presidente Jair Bolsonaro durante uma sessão de fotos no G20 no sábado, 30.
Por Samy Adghirni
31 de Outubro, 2021 | 11:22 AM

Bloomberg — Polêmico e cético em relação às mudanças climáticas, o presidente Jair Bolsonaro é uma figura solitária na cúpula do G20. Isso até que Angela Merkel se aproximou dele no jantar em Roma, no sábado à noite.

Os dois tiveram uma conversa bastante franca que se transformou em uma conversa amigável e significativa entre dois líderes com visões de mundo diferentes, de acordo com dois funcionários do G-20 que testemunharam a cena.

Um funcionário do alto escalão disse que Bolsonaro confidenciou à chanceler alemã que ele não é tão ruim quanto a mídia o retrata. Merkel, que durante seus 16 anos no poder passou por sua parte no escrutínio da imprensa, sinalizou compreensão.

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Merkel perguntou a Bolsonaro qual seria o maior problema dele agora.

Exaltado, o presidente do Brasil respondeu que era o aumento dos preços dos combustíveis. Na verdade, a inflação corre o risco de ficar descontrolada na maior economia da América Latina, corroendo a renda de muitos brasileiros em um país onde a divisão entre ricos e pobres é gritante, somado ao fato de que o Brasil tem o segundo maior número de mortos por Covid do mundo.

Agora, poucos meses antes das eleições presidenciais de 2022, Bolsonaro está atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas.

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Uma das principais qualidades de Merkel é que ela raramente se coloca na posição de quem julga. Ao contrário de muitos outros líderes do G-20, Merkel tentou manter abertas as portas da comunicação com Bolsonaro, também porque o Brasil é um grande parceiro comercial e, de fato, há uma grande comunidade com ancestrais alemães que remonta ao século 19 no Sul do país.

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Durante os incêndios florestais na Amazônia em 2019, Merkel ofereceu ajuda financeira ao governo brasileiro para combater os incêndios. Na cúpula do G7 em Biarritz, quando o francês Emmanuel Macron foi publicamente duro com Bolsonaro, ela pediu a outros líderes que não o isolassem ainda mais.

Em Roma, parecia que muitos outros líderes estavam rejeitando Bolsonaro. O problema é que Bolsonaro atraiu indignação internacional com o aumento do desmatamento na Amazônia. Suas opiniões são vistas como ultrajantes por aqueles que trabalham em direção a metas climáticas ambiciosas antes das negociações da COP26 das Nações Unidas em Glasgow, que começam na segunda-feira.

A sensação de estar isolado ficou ainda mais aparente na manhã de domingo, quando ele não foi visto entre um grupo de líderes que passeava no centro de Roma, rindo e tirando selfies ao lado da fonte de Trevi. Em vez disso, Bolsonaro visitou a obra-prima barroca sozinho no dia anterior, um turista solitário entre muitos.

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