Ipea piora previsão para inflação em 2021 e culpa gasolina, energia e alimentos

Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi revisto de 5,9% para 7,1%, bem acima do centro da meta (3,75%)

Litro da gasolina atingiu R$ 7 em algumas regiões do Brasil
24 de Agosto, 2021 | 11:01 AM

São Paulo — Reajustes mais acentuados para a gasolina e a energia elétrica e a alta dos preços dos alimentos levaram o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) a revisar sua previsão para a inflação em 2021. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi revisto de 5,9% para 7,1%. Os pesquisadores elevaram a projeção de preços monitorados de 9,5% para 11%. No acumulado de 2021, registrado até o mês de julho, a alta de 4,76% apontada pelo IPCA já ultrapassa o centro da meta de inflação (3,75%).

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“Os preços dos alimentos no mercado internacional devem fechar o ano acima do esperado anteriormente, especialmente das proteínas animais, o que eleva a projeção da inflação dos alimentos de 5,0% para 6,9%”, disse o comunicado do Ipea, divulgado nesta terça-feira (24).

Além dos alimentos, há ainda a pressão advinda de matérias primas no mercado internacional, combinada com o aumento da utilização da capacidade instalada na indústria e os estoques abaixo do nível desejado, o que deve manter os preços dos bens industriais em alta, segundo o Ipea.

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“A projeção de inflação desse segmento passou de 4,8% para 6,6%. Já a retomada do setor de serviços gerou uma elevação da inflação desse segmento em ritmo maior que o esperado incialmente, com isso a previsão subiu de 4,0% para 5,0%”, citou o Ipea.

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Apesar de parte dessa pressão inflacionária já ser esperada, dado o represamento de reajustes em 2020, as sucessivas altas das cotações das commodities no mercado internacional e os eventos climáticos adversos, como a longa estiagem e a ocorrência de geadas em regiões de produção agrícola, surpreenderam negativamente e desencadearam novos aumentos de preços de alimentos e de energia, segundo os pesquisadores.

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Expectativas para 2022

O Ipea também revisou a previsão do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), de 5,1% para 6,4% em 2021. Segundo a Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, o aumento da taxa de inflação medida por esse índice, com escopo que atinge as famílias que vivem nas áreas urbanas e com salários que variam de um a cinco salários-mínimos, deverá ser provocado por preços monitorados e dos alimentos, com altas previstas de 10,5% e 7,9%, e que atingiram patamares superiores ao projetados anteriormente, que eram de 9,2% e 5,2%, respectivamente.

“As expectativas para o ano de 2022 estão ancoradas em uma acomodação nos preços internacionais das commodities e na baixa probabilidade de um fenômeno climático adverso intenso. Dessa forma, seria gerada uma menor pressão sobre alimentos, combustíveis e energia elétrica. Além disso, considerando uma retomada mais forte do mercado de trabalho e os seus efeitos positivos sobre a demanda, a sinalização de continuidade da trajetória de alta de juros deve agir no sentido de atenuar as variações de preços de bens e serviços. Por isso, as taxas projetadas para o IPCA e o INPC são de 4,1% e 3,9%, respectivamente”, analisaram os pesquisadores.

A nota do Ipea ressalta, no entanto, que os riscos à inflação em 2022 seguem associados aos preços das commodities e à taxa de câmbio.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.