Stone e PagSeguro valem 90% menos após Pix e aumento de concorrência

Empresas listadas em Nova York integram negócios de adquirência com serviços bancários, elevando volume de transações, em tentativa de compensar queda no mercado

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Por Leda Alvim - Cristiane Lucchesi - Maria Eloisa Capurro
08 de Novembro, 2023 | 12:34 PM
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Bloomberg — As fintechs brasileiras Stone (STNE) e PagSeguro, atualmente PagBank (PAGS), estão perdendo participação para empresas de pagamentos e para o Pix, do Banco Central.

As duas empresas — que juntas já chegaram a valer US$ 50 bilhões e atraíram investidores como Warren Buffett e Jack Ma — estão agora avaliadas em apenas cerca de um décimo desse valor. E espera-se que a sangria continue, uma vez que o Pix e o projeto de moeda digital Drex permitem antever um futuro sem cartões de crédito.

“O mercado mudou muito nos últimos anos e todas as empresas de adquirência sofreram”, disse Cassio Schmitt, presidente da Getnet Brasil, empresa de pagamentos de propriedade do Santander desde 2014. “A concorrência cresceu e as margens diminuíram, enquanto o Pix está reduzindo o uso de cartões de débito.”

Os reguladores queriam justamente reduzir custos para os clientes quando abriram o mercado de adquirência no Brasil em 2012 para além dos dois únicos participantes, a Cielo (CIEL3) e a Rede, que pertence ao Itaú (ITUB4).

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Stone e PagSeguro ingressaram no setor e abriram capital nos EUA em 2018, na Nasdaq e na NYSE (a Bolsa de Nova York), respectivamente.

Suas ações subiram após os IPOs, com as duas fintechs conquistando clientes rapidamente, oferecendo tarifas nos cartões e aluguéis de máquinas mais baixos. Mas agora as empresas “permanecem em grande parte desfavorecidas” em meio à disputa acirrada por clientes, segundo o Goldman Sachs.

Existem cerca de 300 empresas adquirentes e subadquirentes no Brasil, segundo Schmitt. Isso sem falar em concorrentes como o Mercado Pago, a fintech de propriedade da varejista on-line Mercado Livre (MELI).

O Pix, lançado pelo Banco Central no final de 2020, não cobra tarifas de pessoas físicas e processa pagamentos instantâneos 24 horas por dia, inclusive nos finais de semana.

Os bancos que cobravam pelas transferências em dinheiro foram obrigados pelo BC a oferecer o Pix, que movimentou mais de 8 bilhões de transações no primeiro trimestre de 2023.

No início, o Pix ganhou força junto às pessoas físicas, que usavam a novidade para enviar dinheiro para outras pessoas. Depois tirou participação de mercado dos cartões de débito, já que muitos empreendedores autônomos agora aceitam apenas Pix como pagamento por seus serviços.

Isso permite que evitem pagar aluguel de máquinas de cartão ou taxas para empresas adquirentes. Agora, o Pix é aceito em quase todos os lugares como pagamento para quase todos os produtos.

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E novas opções estão chegando, incluindo o Pix para pagamentos recorrentes, como contas de luz e água, e o Pix parcelado, que competirá diretamente com os cartões de crédito.

Tudo isso “faz parte do plano para aumentar ainda mais a concorrência”, disse Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, no mês passado. Espera-se que a moeda digital Drex se conecte ao Pix, no que pode se tornar um futuro sem cartões, disse Campos Neto.

Na tentativa de se adaptar às mudanças e compensar a redução no mercado, algumas empresas estão integrando seus negócios de adquirência com serviços bancários.

Essa estratégia ajudou a Rede, do Itaú, a conquistar o primeiro lugar no mercado de adquirência no segundo trimestre.

Há três anos, a Rede passou a integrar sua equipe comercial à da Itaú, de forma que seus funcionários pudessem vender qualquer tipo de solução de pagamento.

“Não importa se é Pix ou cartão de crédito ou débito”, disse o diretor da Rede, Angelo Russomanno. A Rede possui “os maiores programas de parceria com as maiores empresas de automação comercial do Brasil, então o Pix pode ser integrado no caixa do varejista, combinando a forma de pagamento feita com o produto vendido automaticamente, e você pode ver tudo isso consolidado em um único extrato.”

O volume de pagamentos processados pela Rede no terceiro trimestre aumentou 19% em relação ao ano anterior, para R$ 219,05 bilhões. A empresa ultrapassou a Cielo, controlada pelo Banco do Brasil (BBAS3) e pelo Bradesco (BBDC4), que teve redução de quase 11% no volume processado, para R$ 197,5 bilhões, de julho a setembro.

O PagSeguro conseguiu aumentar os pagamentos processados, mas apenas 4%, para R$ 92,7 bilhões no segundo trimestre. A Stone cresceu 7,4%, para R$ 97,4 bilhões no mesmo período.

Os números da Getnet não são públicos, mas, segundo analistas do BTG Pactual, a empresa parece ganhar participação de mercado. Nos primeiros nove meses, o volume da Getnet cresceu 15% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo balanço do Santander.

A Getnet está aumentando sua equipe comercial, concentrando-se menos nas pessoas físicas e mais nas pequenas e médias empresas, que são “clientes bastante rentáveis”, disse Schmitt.

O Pix é gratuito para pessoas físicas, mas uma taxa é cobrada pelo uso por empresas. Assim, os bancos e as empresas de adquirência estão tentando cobrar das pessoas jurídicas quase tanto pelo Pix quanto cobram pelo pagamento com cartões de débito.

As altas taxas de juros também dificultam a vida do PagSeguro e da Stone, já que empresas pertencentes a grandes bancos podem obter financiamento mais barato a partir de depósitos de clientes de varejo. As taxas de inadimplência, inclusive entre pequenos emissores de cartões, também estão se tornando um risco crescente para os adquirentes.

“Nascemos atendendo pequenas e médias empresas”, disse Angelo Aguilar, diretor do PagBank. “O reconhecimento da nossa marca é enorme entre eles e manteremos nosso foco enquanto planejamos expandir também entre as grandes empresas.”

O PagBank representa 10% de todo o volume de transações do Pix, disse Aguilar.

“Vemos o Pix como uma ferramenta para melhorar a forma de pagamento do cliente, e não como uma ameaça aos nossos resultados”, disse, acrescentando que “há espaço para todos”, uma vez que a economia deverá melhorar e as taxas de juros provavelmente cairão mais.

A Stone não quis comentar.

Pedro Leduc, analista do Itaú BBA, está menos otimista.

“É uma combinação perfeita de desaceleração da indústria, desaceleração dos gastos com cartões de crédito e débito”, disse ele em entrevista, atribuindo a situação a um ciclo de crédito mais apertado, com os bancos oferecendo menos cartões de crédito, ou ao Pix, que está conquistando o mercado de cartões de débito.

“Ao mesmo tempo, há uma intensificação da concorrência dentro dessa indústria, de modo que todos estão brigando por uma fatia menor do bolo.”

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