Lemann diz que tenta salvar Americanas junto com sócios e cita ‘30.000 empregos’

Empresário e investidor deu declarações sobre a fraude contábil na varejista em evento no último sábado (6) em Harvard: ‘temos que lidar com isso’, afirmou sobre a crise

Lemann diz que tenta salvar Americanas junto com sócios e cita ‘30.000 empregos’
Por Brooke Sutherland - Daniel Cancel
08 de Abril, 2024 | 02:05 PM

Bloomberg — O bilionário brasileiro Jorge Paulo Lemann disse que, junto com seus parceiros de longa data, está tentando salvar a Americanas depois da fraude contábil de R$ 25 bilhões que levou a varejista à recuperação judicial no começo do ano passado.

O trio de fundadores da 3G Capital - Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira - tem participações na Americanas (AMER3) desde o início da década de 1980 e a fatia que detinha era de cerca de 30% quando o escândalo estourou. Agora, com uma reestruturação e uma recapitalização da empresa, eles serão donos de cerca de metade do negócio.

“Tivemos uma crise em uma de nossas empresas, a primeira empresa que compramos”, disse Lemann, referindo-se à Americanas, durante a Brazil Conference, organizada por alunos brasileiros na Universidade Harvard, no sábado (6). “Temos que lidar com isso. Estamos lidando com isso. Ela tem 30.000 funcionários, então temos que tentar salvar a empresa.”

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A nova direção da empresa culpou a equipe de gestão anterior liderada por Miguel Gutierrez, que ficou 20 anos como CEO, dizendo que ele teria enganado o conselho e escondido certas contas ligadas a contratos de marketing e financiamento da cadeia de abastecimento para inflar os resultados.

Embora a Americanas represente uma fração da fortuna de Lemann, de cerca de US$ 23 bilhões, segundo o Bloomberg Billionaires Index, o caso representou uma mancha em sua longa e ilustre carreira de investidor.

Os principais acionistas estão investindo R$ 12 bilhões para recapitalizar a empresa e se comprometeram a não vender ações por pelo menos três anos dentro do acordo com os principais credores, entre os quais estão alguns dos maiores bancos do país.

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Além de um comunicado conjunto com Telles e Sicupira no início de 2023, é a primeira vez que Lemann fala publicamente sobre a fraude contábil na Americanas. Seu sócio Sicupira é mais atuante na empresa há muito tempo e ainda faz parte do conselho de administração.

Lemann, de 84 anos, é mais conhecido por ser cofundador da 3G e ter construído separadamente um império no setor de bebidas que levaria à formação da AB InBev, maior fabricante de cerveja do mundo.

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Através da 3G, Lemann e seus sócios compraram o Burger King e outras cadeias de fast food. Eles também fizeram parceria com Warren Buffett para comprar a Heinz, depois a Kraft e fundiram as duas, o que deu origem à Kraft Heinz

O valor de mercado da Americanas encolheu para apenas cerca de R$ 500 milhões, ante R$ 10,5 bilhões antes da crise no início de 2023.

“Se você está delegando, você também corre riscos. Temos nos saído muito bem com a delegação, mas há problemas aqui e ali. As pessoas não são exatamente como você esperava ou reagem de maneira diferente”, disse Lemann.

Conselho aos jovens: ‘assumam riscos’

Durante a conversa de quase uma hora, Lemann também falou sobre surfar e jogar tênis no Rio de Janeiro quando era jovem, suas dificuldades iniciais com o curso em Harvard e seus primeiros empreendimentos comerciais. Ele incentivou os alunos a assumir riscos e obter experiência na vida real, em vez de correrem direto para a escola de negócios.

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Sobre questões de governança, também falou sobre o processo de preparação para entregar o controle à próxima geração.

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“Nós, que construímos e operamos esses negócios no passado, não poderemos mais operá-los porque estamos envelhecendo”, disse Lemann. “Temos que criar um sistema de trabalho por meio de conselhos e um tipo de governança diferente do que tínhamos no passado, quando estávamos lá promovendo as coisas nós mesmos.”

Seus filhos, Marc e Paulo Alberto, participam de diversos conselhos, e os de seus sócios também ocuparam cargos em negócios associados. Telles transferiu sua participação na AB InBev para seu filho no final do ano passado.

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Lemann raramente fala publicamente e não costuma dar entrevistas à mídia. Uma das últimas vezes que falou publicamente foi em uma conversa com o empresário brasileiro Abilio Diniz, que morreu em fevereiro.

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