As visões destes três bilionários brasileiros para a economia em 2024

Rubens Ometto (Cosan), Eugênio Mattar (Localiza) e Abilio Diniz (Carrefour) apontam expectativas para o próximo ano em evento do Itaú BBA em São Paulo

Vista aérea de São Paulo: empresários comentam expectativas para o país em 2024 com cautela (Foto: Paulo Fridman/Bloomberg)
09 de Novembro, 2023 | 07:46 PM

Bloomberg Línea — O Brasil terá em 2024 um cenário positivo de inflação e juros em queda, em ritmo dependente dos passos da política monetária e da demanda nos países desenvolvidos, principalmente nos Estados Unidos e na China. Isso permitirá um crescimento maior do PIB (Produto Interno Bruto), mas ainda limitado pelos riscos de insegurança jurídica, de descontrole fiscal e conflitos geopolíticos. Essa é a expectativa de três bilionários brasileiros: Rubens Ometto (Cosan), Abilio Diniz (Carrefour) e Eugênio Mattar (Localiza), reunidos em evento do Itaú BBA em São Paulo nesta quinta-feira (9).

O painel entre os três bilionários foi mediado pelo CEO do Itaú, Milton Maluhy Filho.

As avaliações dos empresários coincidiram com o consenso de análises de economistas e gestores também presentes em painéis do Macro Vision, destinado a discutir as tendências da conjuntura macroeconômica no Brasil e no mundo.

Os rumos das taxas de juros e os seus efeitos na atividade econômica, nos preços das commodities e na trajetória da inflação dominaram os debates, marcados por um tom de otimismo com uma certa cautela sobre as previsões para o ano que vem.

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Houve, porém, divergências entre os especialistas sobre a duração e a intensidade da atual desaceleração econômica com o ciclo de aperto monetário pós-pandemia.

“O Brasil está em um bom momento: a inflação e o desemprego estão caindo, e a taxa de juros ameaça fazer o mesmo. Vamos crescer em um ritmo de 2,5%, 3% nos próximos anos. Mas está faltando ambição de buscar um crescimento maior. Por que nos contentar com 2,5%? Em 2010, o PIB cresceu 7%”, observou Diniz, da família fundadora do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) e hoje um dos principais acionistas do Carrefour (CRFB3), além da gestora Península.

Já Ometto, principal acionista e presidente do conselho da Cosan (CSAN3), cobrou maior segurança jurídica aos investidores, além de equilíbrio fiscal e harmonia entre os três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário).

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“Temos uma inflação sob controle, mas a gestão da política no país é um problema. Não há clareza sobre o controle do déficit fiscal nem segurança jurídica para se investir no país. Os três Poderes não se respeitam. O equilíbrio fiscal preciso ser restaurado para garantir inflação e juros baixos. O país tem de decolar. Hoje é difícil fazer negócio com o atual nível de juros”, disse Ometto.

A sua holding controla a Raízen (RAIZ4), joint venture da Cosan com a Shell, a Compass, a Rumo (RAIL3) e a Moove, além de uma participação minoritária relevante na Vale (VALE3).

Por sua vez, Mattar, presidente do conselho da Localiza (RENT3), destacou em visão construtiva que o Brasil ainda oferece oportunidades aos empresários, pois conta com um sistema bancário e um mercado de capitais fortes, além de uma estrutura de agências reguladoras e órgãos de auditoria, mas ressaltou que falta ao país uma agenda de aumento de produtividade de sua economia.

“No Brasil, somos prudentes. Acreditamos no país, mas sabemos que o Brasil não está crescendo em toda a sua capacidade. Ninguém fala aqui em um agenda de produtividade do Estado em busca da eficiência. Mas sou da época da hiperinflação. Tivemos tempos piores. No passado, não tínhamos acesso ao capital”, lembrou Mattar.

Visão de gestores

Em painel anterior, os gestores Fabiano Rios (Absolute Investimentos), André Raduan (Genoa Capital) e Carlos Woelz (Kapitalo Investimentos) também trocaram suas apostas sobre o patamar da taxa Selic no fim de 2024 e o cumprimento ou não da meta de inflação, mostrando-se divididos sobre se o juro terminará 2024 abaixo de 10% ao ano.

No começo do mês, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central cortou a taxa para 12,25% ao ano, sinalizando novas reduções na mesma magnitude (meio ponto percentual).

“Estou entrando em 2024 mais otimista do que entrei 2023. O ciclo de aperto monetário ficou para trás. Temos perspectivas melhores para os ativos”, disse Fabiano Rios, da Absolute.

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Os três gestores concordaram que o processo de desinflação tende a ser mais lento e que, nos EUA, as taxas de juros vão ficar em patamar elevado por mais tempo.

Mais cedo, no painel de abertura do Macro Vision, falando de Nova York, o ex-vice-presidente do Fed (Federal Reserve) Richard Clarida, hoje conselheiro da gestora Pimco, disse que só após a última reunião do Fed do ano (12 e 13 de dezembro) o mercado poderá ter uma melhor visão sobre as projeções da autoridade monetária para 2024.

“Não trabalho com um cenário de desastre, de recessão econômica, de descontrole da inflação”, afirmou Clarida.

Já André Raduan, da Genoa Capital, disse que o BC brasileiro tem sido cauteloso na condução da política monetária, mas que o nível da taxa terminal da Selic vai depender do patamar em que vão se acomodar os juros nos países desenvolvidos.

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Por sua vez, Carlos Woelz, da Kapitalo, apontou os riscos no cenário macroeconômico, como os desafios fiscais e o custo ainda elevado do capital mesmo com o começo do ciclo de cortes nas taxas.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.