Após reduzir alavancagem, Alliança mira novas parcerias com operadoras, diz CEO

Em entrevista à Bloomberg Línea, Pedro Thompson aponta próximos passos do processo de turnaround depois de novo trimestre com crescimento de receitas e do Ebitda

Pedro Thompson, CEO da Alliança Saúde (Foto: Divulgação)
07 de Novembro, 2023 | 10:20 PM

Bloomberg Línea — Fusões e aquisições (M&A) se tornaram um dos principais meios de crescimento do segmento de medicina diagnóstica e de outros players do setor de saúde nos últimos anos. Mas há espaço também para expansão orgânica e por meio de parcerias que não envolvam aumento da alavancagem. Essa tem sido uma das estratégias da Alliança, que obteve novo recorde de receitas no terceiro trimestre.

As receitas brutas totalizaram R$ 323 milhões de julho a setembro, com expansão de 7% na base anual; e o Ebitda subiu 24,9% nessa base, para R$ 58,2 milhões no período.

“O resultado do turnaround está vindo. Foi um crescimento 100% orgânico, fruto de iniciativas que tivemos como exames relacionados à saúde da mulher”, disse Pedro Thompson, CEO da Alliança, em entrevista à Bloomberg Línea.

O executivo, ex-CEO da Estácio (hoje Yduqs), da Exame e do Hurb, assumiu a Alliança (ex-Alliar) em julho de 2022 com a missão de reestruturar a operação da companhia.

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Foi o terceiro trimestre seguido da Alliança (AALR3) em que houve ganho tanto da receita como do Ebitda na comparação ano contra ano.

“Melhoramos o nível de produtividade do call center com a marcação de exames e reduzimos as taxas de no-show [não comparecimento do paciente a exames agendados]. A produtividade medida no atendimento pelo WhatsApp dobrou em relação ao que tínhamos em janeiro”, afirmou.

Na frente do endividamento, um dos principais temas de atenção de investidores e analistas neste ano para empresas de qualquer setor, a Alliança conseguiu reduzir a alavancagem de 4,59x a dívida líquida/Ebitda no segundo trimestre para 3,75x no terceiro.

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A queda ocorreu com o aporte de R$ 200 milhões realizado em setembro pelo acionista controlador, o investidor Nelson Tanure, por meio da Lormont Participações, a título de adiantamento para futuro aumento de capital. A injeção foi possível após a OPA (Oferta Pública de Aquisição) em agosto que levou a fatia de Tanure a 93,1% das ações ordinárias da Alliança.

Houve também renegociação que resultou em alongamento do equivalente a um terço da dívida do curto para o longo prazo, disse Remi Kaiber Junior, novo CFO que assumiu em setembro.

Para o ano que vem, Thompson disse que o crescimento inorgânico deve ter um impulso da integração da Cepem e da ProEcho, ambas as aquisições no Rio de Janeiro feitas por meio da Hemera, subsidiária do FIP Fonte de Saúde, de Tanure. Juntas, devem adicionar cerca de R$ 150 milhões em faturamento.

Recentemente, a Alliança fechou parceria com a Unimed Nacional, em que a empresa entra com suas instalações, e a parceira, com as vidas que atende, enquanto os ganhos são compartilhados. “Vemos com muitos bons olhos essa modelagem de JV com operadoras de saúde”, disse o CEO.

Ele apontou o crescimento mais acelerado em regiões como o Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, e capitais como Salvador e Belém como “praças” que oferecem oportunidade para avanço orgânico e inorgânico. O primeiro laboratório para o processamento de exames de análises clínicas fruto da parceria com a Unimed Nacional será justamente na capital da Bahia.

Outro ponto importante, segundo ele, foi que a Alliança não só não perdeu mais credenciamento como recuperou alguns que haviam sido descontinuados durante a pandemia. O CEO disse que foi o caso de uma das grandes operadoras de saúde do país, sem revelar o nome da empresa.

Ganhos de produtividade

Ao comentar o balanço, o executivo fez referência também a ajustes operacionais realizados no quarto trimestre de 2022, como redução em 14% do quadro pessoal no nível da operação, fechamento de clínicas e corte de fornecedores, além de outras medidas tomadas neste ano em trimestres passados.

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“Há muitos anos que a empresa não investia e mudamos isso. Houve diminuição no número de clínicas. E por isso esse crescimento com faturamento recorde é muito substantivo”, disse Thompson.

Outro destaque do resultado foi a margem Ebitda ajustada, que se manteve na casa de 19% a 21% no acumulado dos nove primeiros meses deste ano.

“Processo semelhante deve ser visto no quarto trimestre deste ano do ponto de vista de produtividade de backoffice”, disse o CEO da Alliança.

Segundo ele, os slots - os horários disponíveis para uso de máquinas hospitalares - tiveram a ociosidade reduzida em um terço também na comparação anual, como fruto das iniciativas.

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“Não tem como não crescer receita”, afirmou ao comentar essa nova estratégia.

Ele apontou ainda como destaques na estratégia iniciativas de descentralização da tomada de decisões. “Estamos dando mais autonomia e capital intelectual na ponta dado que temos 16 marcas e 150 clínicas, muitas vezes com posicionamentos diferentes, bem como geografias e até serviços.”

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.