Fleury mira ampliar mercado endereçável com nova marca em oftalmologia

CEO Jeane Tsutsui diz à Bloomberg Línea que oferta de serviços na especialidade vai além do mercado premium com a marca a+ Oftalmologia; primeira unidade fica em Osasco

Sede do Grupo Fleury
03 de Outubro, 2023 | 05:00 AM

Bloomberg Línea — O Grupo Fleury (FLRY3), um dos principais players de medicina diagnóstica do Brasil, chama de “Novos Elos” sua vertical que oferece soluções ambulatoriais em outras áreas da saúde, como ortopedia, oftalmologia, oncologia, fertilidade, infusões de medicamentos e hospital-dia. A premissa é que os pacientes buscam cada vez mais serviços e cuidados em um mesmo lugar.

Os esforços da companhia para ampliar esse ecossistema de saúde com alto potencial de crescimento de receita incluem agora a nova marca a+ Oftalmologia para consultas, exames e procedimentos de baixa complexidade nessa especialidade. O investimento até aqui foi de R$ 3 milhões.

“Agora, com a inauguração da unidade do a+ Oftalmologia, em Osasco, estamos aumentando a oferta de serviços de oftalmologia para além do mercado premium, o que possibilita ampliar o acesso a muito mais pessoas”, afirmou Jeane Tsutsui, CEO do Fleury, em entrevista à Bloomberg Línea. A unidade passou a operar no último dia 14.

A nova marca utiliza o branding da a+ Medicina Diagnóstica, uma rede do Grupo Fleury que é mais acessível do ponto de vista de preços.

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A inclusão de novos serviços no ecossistema é uma aposta que já apresenta resultados, segundo ela. A executiva, médica por formação, disse que a estratégia de geração crescente de caixa vai além do crescimento inorgânico e inclui a atuação do grupo em novas especialidades da medicina, na operação digital e em serviços como a coleta de material para exames na residência dos pacientes.

A nova marca, no entanto, não é a primeira investida do grupo em oftalmologia.

Em abril de 2021, o Fleury adquiriu por R$ 30 milhões o equivalente a 80% da clínica de olhos Moacir Cunha, em São Paulo, especializado em cirurgias e tratamentos de doenças oculares como catarata, estrabismo, glaucoma e alterações da retina, entre outras.

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Em setembro do ano passado, concluiu a aquisição da Retina Clinic por R$ 21 milhões.

A oftalmologia é considerada uma áreas das que apresentam maior potencial de crescimento do ponto de vista de mercado. É uma das principais teses da estratégia de private equity da XP, liderada por Chu Kong. Um fundo da casa promoveu há dois anos a fusão da Vision One com o Grupo H. Olhos.

A CEO do Fleury destacou que, no segundo trimestre, o grupo atingiu R$ 180,6 milhões na receita de Novos Elos, com aumento de 137% em 12 meses; houve crescimento orgânico de 30,5%, além de efeito esperado das aquisições, do Hospital Saha, em São Paulo, especializado em cirurgias menos invasivas e infusão de medicamentos, em maio de 2022, e da Retina Clinic.

“Temos um posicionamento único no setor e oferecemos soluções ambulatoriais que vão da prevenção ao tratamento e contribuem para a sustentabilidade de um sistema de saúde, que passa por muita pressão de custos”, acrescentou a executiva.

O atendimento domiciliar de medicina diagnóstica tem sido também decisivo para a composição do faturamento do Fleury. Esse serviço segue uma tendência do paciente de maior renda de evitar o deslocamento até um laboratório, optando pela coleta do exame em sua residência.

Na capital paulista, dois pontos de referência do segmento premium de medicina diagnóstica são as avenidas Brasil e República do Líbano, na região do Parque do Ibirapuera. É nessa área nobre dos Jardins, próxima à Vila Nova Conceição, que a marca Fleury disputa o mercado premium com players como o CDB (Centro de Diagnósticos Brasil), do Grupo Alliança (AALR3).

Jeane Tsutsui, CEO do Grupo Fleurydfd

O grupo também amplia sua abrangência após a combinação de negócios com Hermes Pardini, iniciada no primeiro semestre após a aprovação do Cade, a autarquia federal de defesa da concorrência.

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“Com as unidades de Pardini, vamos estar em lugares onde nunca estivemos, como Goiás e Pará”, disse a CEO do Fleury. A companhia foi fundada em São Paulo e tem maior presença na região Sudeste, enquanto o Pardini foi fundado em Belo Horizonte (MG), onde é líder de mercado, sendo considerado pioneiro no país na realização de exames para laboratórios (lab-to-lab).

Tsutsui disse considerar que a compra do concorrente contribuiu para colocar o Grupo Fleury em um novo patamar de receita e que a captura de sinergias do negócio deve se estender pelos próximos anos. A estimativa de obter sinergias totais entre R$ 200 milhões e R$ 220 milhões foi mantida pela companhia.

A executiva descartou o fechamento de unidades de Hermes Pardini após a combinação dos negócios. Um time de oito executivos cuida do plano de captura de sinergias, incluindo iniciativas de aproveitamento das áreas técnicas das duas companhias e da estrutura de logística.

As despesas com o negócio, como a contratação de consultorias, foram integralmente contabilizadas no segundo trimestre, segundo Tsutsui.

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Aumento da competição

Por enquanto, a CEO do Fleury disse que o grande foco da companhia é entregar resultados positivos com a integração operacional de Hermes Pardini, e também preservar as margens de lucro, um dos principais pontos de atenção dos analistas.

“A marca Fleury mostrou um forte desempenho, crescendo 13,2% ano contra ano, à medida em que o serviço domiciliar continua ganhando relevância, atingindo 7,1% da receita total. Além disso, Fleury mencionou que continua ganhando market share no mercado premium”, avaliaram analistas do Bank of America sobre o resultado do segundo trimestre.

Os números desse período, divulgados no início de agosto, passaram a incorporar os efeitos da combinação de negócios com o Hermes Pardini depois da aprovação do Cade.

No segundo trimestre, o grupo lucrou R$ 117,7 milhões, com uma alta de 66,9% na base anual e uma margem líquida de 7,1%, acima dos 6,3% de igual trimestre do ano passado. A receita bruta atingiu R$ 1,8 bilhão, um crescimento de 49,2% em 12 meses.

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Os analistas do BofA mantiveram a recomendação de compra para a ação do Fleury, ainda que tenham alertado, no relatório, para o aumento da competição no segmento de medicina diagnóstica, com maiores descontos concedidos pelas empresas às operadoras de convênios de saúde. Tal contexto coloca as margens do Fleury sob pressão, segundo o relatório.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.