Enquanto UE hesita, Mercosul atrai interesse de países como Japão, Canadá e Índia

Estimuladas pelas tarifas de Donald Trump, as negociações entre o bloco sul-americano e parceiros como Emirados Árabes Unidos, Canadá e Índia ganham importância renovada

Fotografia oficial dos Presidentes e Chefes de Delegação dos Estados Partes do Mercosul
Por Augusta Saraiva
21 de Dezembro, 2025 | 01:37 PM

Bloomberg — Enquanto a União Europeia se esforça para concluir um acordo comercial com o Mercosul, os concorrentes globais da Europa que estão de olho no mercado consumidor e nos vastos recursos minerais da América do Sul tomam nota.

As negociações entre o bloco sul-americano e parceiros como Emirados Árabes Unidos, Canadá e Índia têm ganhado importância renovada, como uma resposta às tarifas de Donald Trump.

PUBLICIDADE

Enquanto isso, uma UE dividida se mantém reticente após mais de um quarto de século de negociações.

A perspectiva de que os rivais obtenham acesso preferencial aos mercados do Mercosul - incluindo minerais essenciais - chama a atenção dos centros do poder, de Londres a Tóquio.

Leia também: União Europeia testa protagonismo político ao adiar acordo com o Mercosul

PUBLICIDADE

“Estamos determinados a aprofundar nossos laços comerciais”, disse Yasushi Noguchi, embaixador do Japão no Brasil, em uma entrevista à Bloomberg News esta semana.

O Japão está “muito interessado em como as coisas acontecem” no acordo UE-Mercosul, uma vez que as empresas japonesas frequentemente competem diretamente com as empresas europeias, disse ele.

A impaciência em relação à UE veio à tona em uma reunião de líderes governamentais do Mercosul no sábado (20), depois que a resistência dos agricultores europeus - especialmente na França e na Itália - mais uma vez causou um atraso.

PUBLICIDADE

“Sem vontade política e coragem de seus líderes, não será possível concluir uma negociação que se arrasta há 26 anos”, disse o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, na reunião de cúpula que organizou no sábado. “Enquanto isso, o Mercosul continuará trabalhando com outros parceiros”.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, era esperada na cúpula para assinar o acordo UE-Mercosul. Ela cancelou sua viagem de última hora depois que a UE não conseguiu reunir os votos para aprová-lo.

As autoridades europeias agora buscam uma ratificação em meados de janeiro. A primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, que detém o voto-chave, disse a Lula esta semana que está confiante de que pode apoiar o acordo se tiver mais tempo para reunir apoio interno.

PUBLICIDADE
Protesto na França contra o acordo com o Mercosul

O Mercosul, que reúne o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai, já havia aceitado uma exigência de última hora da UE de medidas de salvaguarda para proteger seus agricultores.

Países da UE, como a França e a Polônia, há muito se opõem ao acordo, argumentando que dar acesso ao gigantesco setor agrícola da América do Sul prejudicaria os agricultores europeus.

A Bloomberg Economics estimou que o acordo provocaria um ganho econômico de 0,7% até 2040 para os países do Mercosul e de 0,1% para a Europa.

No entanto, a UE é a que mais ganha geopoliticamente com a expansão em uma parte do mundo onde a China ganha cada vez mais terreno, de acordo com a análise.

O acordo UE-Mercosul continua sendo o Santo Graal para a América do Sul. Ele criaria um mercado integrado de cerca de 780 milhões de consumidores e provavelmente impulsionaria setores como a agricultura, ao mesmo tempo em que aumentaria o investimento europeu na região.

Com as tarifas de Trump remodelando o comércio global, a UE corre contra o tempo para buscar novas parcerias e expandir as antigas para diversificar o comércio.

O Mercosul assinou um acordo de livre comércio este ano com o bloco formado por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein, conhecido como EFTA. O bloco espera concluir ainda as negociações com os Emirados Árabes Unidos e o Canadá em 2026.

Além disso, no radar está o início de negociações em breve com o Reino Unido, o avanço das conversações com o Vietnã e El Salvador e o desenvolvimento de uma estrutura comercial com o Japão.

“Estamos dispostos a avançar, entendendo que a Europa tem seus próprios prazos para tratar de suas questões institucionais internas”, disse o ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Ruben Ramirez, a jornalistas na sexta-feira (19). “Mas, ao mesmo tempo, esses prazos não são infinitos”.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Macron tenta adiar votação sobre UE e Mercosul e pode inviabilizar acordo