IPCA-15 de fevereiro reforça cautela do BC sobre a Selic, dizem economistas

Para analistas e economistas, prévia da inflação deste mês indica que Banco Central deve manter trajetória de cortes de juros de 0,50 ponto percentual a cada reunião

Banco Central do Brasil
27 de Fevereiro, 2024 | 05:45 PM

Bloomberg Línea — Os dados divulgados nesta terça-feira (27) sobre a prévia da inflação de fevereiro não devem alterar a trajetória de corte da Selic pelo Banco Central (BC), segundo analistas e economistas.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), publicado manhã pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou abaixo do esperado pelo mercado, indicado uma alta de 0,78%.

Alexandre Maluf, economista do time de macro da XP (XP), acredita que o novo número da prévia da inflação brasileira pode ser considerado como “neutro”.

“Apesar da surpresa negativa, a inflação de serviços e a média dos núcleos reaceleraram sob a ótica do 3M SAAR, como amplamente esperado pelo mercado [...] Consideramos o dado de hoje neutro em termos de política monetária — acreditamos que ela reforça a postura cautelosa do Copom”, afirmou.

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Para 2024, a XP enxerga um viés de baixa na inflação, ficando na casa dos 3,7%. Para fevereiro, a estimativa do banco de investimentos está em 0,76%. Com a continuidade dos cortes de 0,5 ponto percentual, a previsão da XP é a de que a taxa de juros fechará o ano em 9%, ante os 11,25% atuais.

O Itaú Unibanco (ITUB4), por sua vez, disse que a prévia da inflação veio abaixo do esperado “especialmente em passagem aérea e gasolina” e projeta um IPCA de 3,6% no final do ano.

Para o Goldman Sachs (GS), a situação macroeconômica do país demanda cautela na calibração de curto prazo da política monetária. Analistas do banco citaram itens como mercado de trabalho apertado e fundamentos apertados de inflação de serviços como principais pontos para um posicionamento mais conservador por parte do BC.

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Mais cedo, o Boletim Focus do Banco Central apontou uma queda na previsão da inflação para este ano. Segundo os economistas do BC, o IPCA deve fechar o ano em 3,80%, ante previsão de 3,82% na semana anterior.

Gino Olivares, economista-chefe da gestora Azimut, afirmou que “o resultado do IPCA-15 de fevereiro mostrou que, em linhas gerais, o processo de desinflação continua avançando”.

“A inflação dos serviços foi alta em fevereiro, refletindo o aumento das mensalidades escolares; porém foi menor do que os valores registrados nos meses de fevereiro de 2021 e 2022. Por outro lado, o comportamento da tendência da inflação dos serviços continua dando sinais de alerta, como já apontado pelo BC”, disse.

Igor Cadilhac, economista do PicPay, disse enxergar que uma discordância nos dados recentes implica em uma maior preocupação com a dinâmica do IPCA no longo prazo.

“Os dados recentes, aliados às coletas de preços de alta frequência, apontam para duas perspectivas divergentes: (1) há um alerta devido às surpresas altistas nos serviços, sinalizando uma deterioração qualitativa na desinflação, e (2) há um alívio pela perspectiva de descompressão de certos itens mais voláteis”, afirmou.

A Warren Investimentos projeta que o IPCA deve encerrar 2024 em 4%, e a desaceleração para 3,5% deve ocorrer somente em 2025. Para fevereiro, a projeção do IPCA se manteve estável em 0,84%, “considerando itens que repetem entre o IPCA-15 e o IPCA fechado”.

“Se por um lado educação e itens de comunicação pressionam, por outro, passagem aérea equilibra. Para março, vemos alta de 0,21%, subindo em relação ao esperado de 0,12%, ajustando passagem aérea que apresentou deflação antecipada em fevereiro”, disse Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos.

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“Acreditamos que março será um ponto importante na inflação do trimestre, que poderá marcar o início da devolução de 3% em alimentação no domicílio. E, corroborar a tese de reaceleração da inflação subjacente em 2024″, completou.

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Tamires Vitorio

Jornalista formada pela FAPCOM, com experiência em mercados, economia, negócios e tecnologia. Foi repórter da EXAME e CNN e editora no Money Times.