Kepler Weber vê retomada com Argentina e serviços diante da pressão no agro do Brasil

Juros altos, retração no campo e pressão por preços afetaram os resultados da empresa no segundo trimestre, mas geração de caixa, carteira contratada e expansão no país vizinho indicam reação à frente, segundo executivos

Estrutura da Kepler Weber
07 de Agosto, 2025 | 08:32 PM

Bloomberg Línea — A Kepler Weber (KEPL3) reportou lucro líquido de R$ 14,4 milhões no segundo semestre do ano, queda de 61,1% em relação ao mesmo período do ano passado.

No semestre, o lucro somou R$ 39,9 milhões, recuo de 55,2% em relação ao mesmo período de 2024.

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Diante do resultado, a margem líquida da companhia de silos ficou em 4,6% para o período, recuo de 6,7 pontos percentuais em relação ao mesmo trimestre de 2024, segundo balanço divulgado na noite desta quinta-feira (7).

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A receita consolidada no segundo trimestre do ano somou R$ 311,1 milhões, retração de 5,1% em relação ao mesmo período do ano anterior e de 12,9% frente ao primeiro trimestre.

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Segundo os executivos, a queda nos principais indicadores da empresa no período ainda carrega os efeitos da combinação de juros elevados, pressão por preços e retração na atividade agrícola doméstica.

Apesar disso, eles disseram ver sinais de reação operacional, impulsionada principalmente pelo mês de junho, que concentrou 56% do Ebitda do período.

“Essa geração de caixa e rentabilidade é o que já enxergamos para os próximos meses”, disse o CEO da empresa, Bernardo Nogueira, em entrevista coletiva nesta quinta-feira (7).

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No segundo semestre, o Ebitda somou R$ 37,9 milhões, recuo de 40% em relação aos R$ 63,3 milhões registrados no mesmo período do ano passado.

O desempenho da companhia foi impulsionado por três vetores estratégicos: a ampliação da presença internacional, especialmente na Argentina, o crescimento do segmento de “Reposição e Serviços” e a disciplina no controle de despesas administrativas.

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A geração de caixa da empresa permaneceu positiva, segundo os executivos, mesmo após o pagamento de dividendos, e um novo repasse de R$ 25 milhões a acionistas está previsto para setembro.

A ação da empresa subiu 2,38% no fechamento desta quinta-feira, a R$ 7,30. No acumulado do ano, porém, a queda é de 21,8%.

Argentina nos negócios

A carteira contratada ao fim de junho era 13,8% superior à do mesmo período de 2024, com destaque para os negócios internacionais, que responderam por mais de 30% do volume no semestre. A Argentina é a principal aposta da empresa no exterior.

“A Argentina saiu de zero há dois anos e hoje é responsável por uma fatia significativa da operação internacional”, disse Nogueira.

Segundo o CEO, a principal planta fabril da empresa, no Rio Grande do Sul, fica a cerca de 200 km da fronteira argentina, o que facilita a logística e reduz custos.

Em “Negócios Internacionais”, o resultado do segundo trimestre caiu 0,4%, mas subiu 2,9% no semestre ao somar R$ 71,8 milhões.

“Nós temos ‘a faca e o queijo na mão’ para aproveitar essa retomada do país [vizinho] com investimentos e abertura.”

A empresa mantém negócios na Argentina há 87 anos, mas nos últimos anos, com a maior abertura econômica e também diante de uma defasagem tecnológica nos modelos de armazenagem, a empresa vislumbra um mercado em ascensão. Entre os clientes no país estão a Adecoagro, Ceagro e a trading Bunge.

Outros segmentos

O segmento de “Reposição e Serviços”, considerado estratégico para suavizar a ciclicidade do agro, segundo a empresa, cresceu 18,4% no semestre e chegou a R$ 135,7 milhões em receitas.

Entre os segmentos de negócios, “Portos, Terminais e Biocombustíveis” foi o que teve a maior retração. No primeiro semestre, o segmento somou R$ 25,3 milhões, queda de 69,9% ante o mesmo período do ano passado.

No campo, o segmento de fazendas teve uma queda de 7,5% na receita do trimestre e chegou a R$ 95,8 milhões. A base de clientes, no entanto, cresceu 33%, resultado da pulverização das vendas em projetos de menor porte, segundo o balanço da companhia.

A Kepler vê uma “melhoria gradual” das margens nos próximos trimestres, puxada pela alavancagem operacional. O backlog 14% maior e a diluição de custos iniciada em junho sustentam essa expectativa.

“Colocamos a expectativa de que o primeiro semestre seria mais duro. E o que estamos vendo agora é que o segundo semestre confirma esse movimento de recuperação”, afirmou o executivo.

A manutenção do Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA) no Plano Safra, com R$ 8,2 bilhões disponíveis, também ajudou a sustentar a demanda nos próximos meses, mesmo com juros ainda elevados.

Segundo o CFO e diretor de relações com investidores da Kepler Weber, Renato Arroyo, a receita oriunda de linhas de financiamentos públicos saíram do patamar de 50% entre 2020 e 2021 e representaram de 12% a 13% no ano passado. Patamar que deve se sustentar no próximo ano.

O ‘componente aço’ nos negócios

A empresa, que utiliza aço para construir os silos, disse que não mantém exposição na carteira.

“Somos uma das poucas empresas do segmento que compra o aço direto das usinas pelo volume. Se você pegar na média dos nossos concorrentes, ele é de 3 a 5 vezes maior do que os principais concorrentes”, disse Nogueira.

O executivo também disse que no caso da compra de aço em contratos longos, em torno de 12 meses, mantém uma “cláusula do aço” para não se expor à variação de preços. Isso garante, por exemplo, que a empresa não se exponha a eventos como a guerra comercial e tarifária de Donald Trump.

“Mesmo em um ciclo desfavorável, estamos gerando caixa, pagando dividendos e mantendo rentabilidade.”

A empresa informou que prevê monetizar dados via sensores conectados a partir de 2025.

Na noite de quarta-feira (6), a Kepler aumentou sua participação na diretoria da Procer, empresa de agrointeligência, com pagamento de R$ 5,7 milhões por 8.962 ações ordinárias. Até então, a Kepler tinha 50% e uma ação do controle da empresa e adquiriu mais cerca de 5% desse controle.

Esse movimento já era esperado desde 2022, ano que a empresa acertou o interesse e controle da Procer.

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Naiara Albuquerque

Formada em jornalismo pela Fáculdade Cásper Líbero, tem mestrado em Ciências da Comunicação pela Unisinos, e acumula passagens por veículos como Valor Econômico, Capricho, Nexo Jornal e Exame. Na Bloomberg Línea Brasil, é editora-assistente especializada na cobertura de agronegócios.