Domo.VC mira nova fase e terá captação para fundo pela 1ª vez também no exterior

Em entrevista à Bloomberg Línea, sócios Marcello Gonçalves e Marcio Zarzur falam de nova marca e das teses buscadas no quinto fundo de uma das gestoras de VC mais tradicionais do país

Região da Faria Lima, em São Paulo: mercado de venture capital continua a atrair investidores institucionais (Foto: Victor Moriyama/Bloomberg)
30 de Outubro, 2023 | 05:15 AM

Bloomberg Línea — Uma das gestoras de venture capital mais tradicionais do país, a Domo.VC iniciou a fase de captação para o seu quinto fundo. Uma das novidades é que, pela primeira vez, a casa busca recursos também no exterior, diante da identificação de uma demanda de investidores institucionais globais.

O novo fundo, de valor pretendido não revelado, terá foco em startups em estágio seed, ou seja, que ainda estão em fase inicial. A atenção continua para empresas brasileiras, mas haverá também um olhar para startups da América Latina que tenham planos de ingressar no país.

“Já começamos a divulgar a captação do fundo tanto no Brasil como no exterior. O volume deve ser diferente de outros fundos, dado que temos dois anos de juros mais altos, mas quem entrou nos fundos I, II e III deve acompanhar novamente”, disse Marcello Gonçalves, sócio-fundador e managing partner da Domo.VC, em entrevista à Bloomberg Línea (outro fundo da gestora foi ancorado pelo BNDES, o banco estatal de desenvolvimento).

“Estamos otimistas com o interesse do investidor estrangeiro. Vamos abrir para Estados Unidos, Europa e Ásia. Pretendemos trazer tanto family offices como endowments e institucionais menores. Ao abrir o quinto fundo e com o track record que temos [veja mais abaixo], vemos como um momento para internacionalizar a nossa base de LPs [Limited Partners, que são investidores com esse perfil para tais fundos]”, disse Marcio Zarzur, também sócio e managing partner.

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A abertura e a captação do quinto fundo da Domo, que deve começar a investir os recursos levantados em 2024, acontecem em um momento favorável do mercado de venture capital, segundo a gestora.

“A qualidade do empreendedor melhorou bastante e voltou a ser o que era antes de 2021. Em 2021 e 2022, muita gente só montou um negócio porque havia muita liquidez no mercado, com valuations e cheques altos. E nós gostamos de investir em empreendedores que iriam montar um negócio mesmo com os juros mais altos”, disse Zarzur.

Segundo Gonçalves, há mais empreendedores com foco em desenvolver soluções de negócios em mercados que conhecem bem, em segmentos como o B2B, para atender empresas, do que mais preocupados em obter valuations altos.

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“Essa volta do mercado ao que era antes de 2021 nos animou bastante, até pensando no próximo fundo. Achamos que vai ser uma das melhores safras que vimos na última década”, disse Zarzur.

Entre algumas das teses mais observadas e preferidas estão soluções de financiamento para pessoas físicas, ligadas a consumo e marketplace, e modelos de negócios em B2B, em áreas como logística e as relacionadas ao clima - um exemplo são energias renováveis -, segundo os sócios.

Soluções com uso de Inteligência Artificial estão sendo observadas, mas a preferência, disse Gonçalves, é por aquelas que já tragam impacto de curto prazo para ineficiências dos negócios.

Do ponto de vista de múltiplos o momento também está mais propício, na visão dos sócios. “Já há algum tempo, tenho a visão de que os valuations voltaram a ficar normalizados, e antes estavam errados. Você pagar 30x ARR [receita anual recorrente] não existe”, disse Gonçalves sobre deals vistos em 2021.

“Se você investe em uma startup no estágio seed com R$ 100 milhões de valuation, está apostando em um unicórnio no momento zero. Vimos saídas de venture capital a R$ 400 milhões, R$ 500 milhões, poucos casos recentes acima. Não interessa quanto vale durante a jornada, mas no final. Se você entra com múltiplos tão altos, a sua capacidade de ganhar em cima disso é prejudicada”, completou.

Marcio Zarzur (a partir da esquerda), Rodrigo Borges, Marcello Gonçalves e Felipe Andrade, sócios da Domo.VC, uma das principais gestoras de venture capital do Brasil (Foto: Divulgação)dfd

Segundo ele, a Domo.VC negocia em geral aportes a 6x ARR e pode variar para baixo ou para cima se a empresa for considerada acima da média com resultados idem.

O novo fundo ocorre também em um momento especial da gestora, que decidiu atualizar a marca e realizar um trabalho de rebranding para deixar mais evidente o compromisso com o capital de risco, preservando a atenção com o crescimento das startups, e não com aquelas em estágio mais avançado.

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“Apesar de sempre fazermos seed stage e early stage, muitos achavam que só investíamos em empresas maiores, com cheques maiores, eu acho que muito em razão não só do nome, como Domo Invest, mas também do logo e também pelo fato de nossos sócios terem bastante experiência de mercado de capitais. São pessoas que normalmente não estariam fazendo seed stage”, disse Zarzur.

“O rebranding vem muito para nos colocar, de fato, como uma gestora com foco no seed stage”, afirmou.

Fundada em 2016 por Rodrigo Borges, Marcello Gonçalves e Felipe Andrade como Domo Invest e com o primeiro fundo lançado no ano seguinte, a gestora conta com 105 startups em seu portfólio e já concluiu a saída de oito investidas. Nos seus quatro primeiros fundos, captou mais de R$ 550 milhões.

No portfólio atual estão fintechs como Conta Simples, MeuTudo e Zapay e startups de mobilidade como a Turbi, de locação de carros, e de plataforma Saas para energia renovável como a Delfos.

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No track record de seus fundadores estão investimentos em startups que se tornaram alguns dos casos mais bem-sucedidos do país, como Loggi, Gympass, Hotmart, Descomplica e Quero Educação, entre outros.

No ano passado, Zarzur entrou para o comitê executivo, como reflexo de um plano de reforçar um modelo de partnership - há mais dois sócios, Mario Letelier, Franco Pontillo.

“Temos a intenção de trazer mais pessoas para a sociedade e já começamos a pensar na próxima fase da empresa. Queremos que a Domo.VC avance nas próximas gerações, a exemplo do que acontece com as grandes gestoras do exterior.”

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.