Bolsa de ações tokenizadas quer ser complemento à B3 e atrai empresas menores

BEE4 começou com listagem da Engravida, clínica de reprodução assistida, recebe agora a Mais Mu, produtora de snacks saudáveis, e terá a Plamev Pet, de saúde pet

Tokenização de ações e tecnologia blockchain são vistos como alternativa para a redução de custos operacionais e funcionamento full time para as transações do mercado de capitais
23 de Maio, 2023 | 07:01 PM

Bloomberg Línea — De olho no potencial dos negócios da economia digital para o setor financeiro e empreendedores, o mercado brasileiro de capitais começa a avançar no processo de tokenização de ativos. A BEE4, primeiro mercado regulado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) de negociação de ações tokenizadas no país, vai listar a segunda empresa até a próxima semana, e a terceira já iniciou sua oferta pública.

Como o nome sugere, a BEE4 remete à evolução numérica da única Bolsa brasileira, a B3 (B3SA3), que terminou o primeiro trimestre com 444 companhias listadas e atravessa um período de jejum de cerca de um ano e meio sem IPO (oferta inicial de ações) devido ao reduzido apetite dos investidores por aplicações em renda variável.

Mas, apesar da referência no nome, a BEE4 não se posiciona como uma concorrente direta da B3. O objetivo é que seja um mercado de acesso para empresas menores, que podem depois, eventualmente, serem listadas na tradicional Bolsa.

Por trás da BEE4, está a Nuclea, uma evolução da CIP (Câmara Interbancária de Pagamentos), maior provedora de infraestrutura bancária e de pagamentos do Brasil, que mudou de nome no final de 2022, tem 40 bancos como acionistas e adquiriu, neste ano, a CRT4 (Central de Registro de Títulos), empresa também controlada por instituições financeiras.

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“Decidimos focar em renda variável no primeiro momento, em companhias com até R$ 300 milhões de faturamento anual, de setores de high growth [alto crescimento], atendendo aos limites do regulador”, disse Patricia Stille, CEO da BEE4 e ex-sócia da XP (XP), durante um painel sobre digital assets realizado pelo Itaú Unibanco (ITUB4) nesta terça-feira (23).

A primeira empresa listada na nova plataforma de negociação de tokens (que representam as ações das empresas) foi a Engravida, uma clínica de reprodução humana com sede em São Paulo, voltada para tratamentos como fertilização in vitro e congelamento de óvulos. Stille disse que a segunda será a Mais Mu, produtora de snacks saudáveis, com listagem prevista até o final deste mês.

“Já temos uma terceira empresa que acabou de abrir a oferta pública”, acrescentou a CEO da BEE4, em referência à Plamev Pet, plataforma de saúde para cães e gatos fundada em 2013 no estado de Sergipe e que tem Pedro Svacina, ex-vice-presidente da Claro no Brasil, como CEO.

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A CEO da BEE4 disse que, inicialmente, as ações tokenizadas vão ser negociadas às quartas-feiras, mas no futuro a ambição é chegar ao regime 24/7 (24 horas por dia, sete dias por semana). Com a tecnologia blockchain, as ações das empresas listadas serão representadas por tokens e registradas nas carteiras digitais (wallets) dos investidores.

Segundo Stille, outras empresas têm buscado a plataforma de mercado secundário para listar suas ações. Pelas regras do sandbox regulatório da CVM, essas empresas precisam realizar o IPO na Beegin (plataforma de equity crowdfunding do grupo Solum, também controlador da BEE4, e da empresa de soluções blockchain Finchain) e depois listar seus ativos na BEE4.

Em janeiro, Gilson Finkelsztain, CEO da B3, comentou em encontro com jornalistas sobre a possibilidade de um ambiente mais competitivo com o surgimento de novas “bolsas” no país. Ele disse considerar que novos players não representam risco às receitas da companhia, segundo a visão de que oferece um portfólio completo de serviços ao mercado de capitais, não se limitando a um segmento.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.