Risco de crédito corporativo sobe e acelera fuga para ações de empresas sólidas

Flight to quality ganha força nos EUA no maior ritmo desde 2007 na medida em que aumenta o número de eventos de atrasos em pagamentos e quebras

Traders acompanham preços de ativos na Bolsa de Nova York: tensão cresce com onda de defaults corporativos (Foto: Bloomberg)
Por Denitsa Tsekova - Ksenia Galouchko
23 de Maio, 2023 | 11:06 AM

Bloomberg — Os alertas de investidores e analistas de crédito vêm ocorrendo há meses: uma onda iminente de inadimplência corporativa vai destruir a calma aparente nos mercados de ações. E, ainda assim, as ações nas bolsas americanas atingiram máximas vistas pela última vez em agosto passado.

As “cassandras do crédito”, em alusão ao mito grego da previsão do destino, apontam para as crescentes ameaças. As sucessivas recuperações judiciais e falências estão aumentando no ritmo mais rápido desde a crise financeira de 2008, os custos dos empréstimos continuam a subir e as concessões de empréstimos bancários estão se tornando mais rigorosas.

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Os spreads das dívidas das empresas de maior risco terão que aumentar à medida que a economia desacelera, de acordo com muitos veteranos de Wall Street. Isso faria com que os mercados de ações fechassem os olhos para os perigosos encargos de crédito, dizem. Uma forte ligação entre o aumento dos rendimentos dos junk bonds e a volatilidade dos mercados de ações tem sido evidente há anos.

“Os mercados parecem excessivamente otimistas sobre as perspectivas”, disse Matthew Forester, diretor de investimentos da Lockwood Advisors no BNY Mellon Pershing. “Não acreditamos que os spreads de crédito atuais, especialmente em créditos de nota inferior, estejam compensando os riscos cíclicos, políticos e geopolíticos. Os spreads de alto rendimento precisam se mover materialmente mais pra cima.”

Por enquanto, tanto as ações quanto o crédito parecem imperturbáveis diante do estresse que, no entanto, chamou a atenção de Jay Powell, presidente do Federal Reserve.

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Os estrategistas do Citigroup (C) escreveram nesta semana sobre uma nova alta no S&P 500, e um acordo político sobre o teto da dívida dos EUA, pode reforçar esse sentimento positivo. Os spreads corporativos médios de grau especulativo - o rendimento que esses títulos oferecem acima dos equivalentes de grau de investimento - são inferiores a 500 pontos básicos. Isso está muito longe de precificar uma recessão ou uma crise de crédito.

Mas, se os spreads começarem a aumentar sob um dilúvio de quebras corporativas, isso pode ser um ponto de inflexão para as ações, com base na correlação histórica entre a volatilidade das ações e os spreads de alto rendimento. As ações de empresas menores e altamente endividadas sofreriam o impacto.

Correlação da volatilidade em ações com os junk bonds no mercado dos Estados Unidos

Spreads maiores parecem cada vez mais prováveis. No caso de uma recessão nos EUA no próximo ano - cujas chances estão sendo estimadas em 65% -, eles podem subir para pelo menos 1.000 pontos-base no mercado de títulos de alto rendimento, de acordo com Marty Fridson, da Lehmann Livian Fridson Advisors. Ele disse que já deveriam estar em 750 pontos-base para refletir o aperto do crédito.

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Os modelos criados pela Société Générale também sugerem que isso alimentaria preços de ações muito mais voláteis.

Os temores de crédito estão pelo menos levando a um maior discernimento entre os investidores em ações, mesmo com os índices de ações avançando neste trimestre em ambos os lados do Atlântico.

Gestores mais seletivos

Gestores de fundos estão mais atentos aos fundamentos das empresas, favorecendo aquelas com balanços robustos. Quanto mais agitadas as finanças de uma empresa, pior estão suas ações em termos de desempenho, mostram dados compilados pela Bloomberg.

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Essa disparidade entre os que têm fundamentos e os que não têm se tornará mais acentuada à medida que a economia desacelerar, disse Andrew Lapthorne, chefe de pesquisa quantitativa do SocGen. “Em última análise, a história do balanço se torna mais importante quando os lucros estão caindo durante uma recessão. E ainda não chegamos lá”, afirmou. “Existem as fases finais – recessão – quando os mercados vendem ou reagem a algo e as ações mais fracas do balanço são esmagadas.”

Vez dos fundamentos

Uma cesta de ações com os balanços mais saudáveis subiu 14,5% neste ano; aqueles com maior endividamento subiram apenas 1,1%. Essa é a segunda maior diferença de desempenho desde 2007, de acordo com dados do Goldman Sachs (GS).

As ações de crescimento especulativo que proliferaram durante a era do dinheiro fácil com juros perto de zero estarão entre as mais vulneráveis a essa mudança de segurança em primeiro lugar. Empresas de tecnologia não lucrativas – cujas ações subiram mais de 300% nos dois anos até o pico de fevereiro de 2021, de acordo com um índice do Goldman Sachs – parecem expostas.

Estimativas de vendas para empresas do S&P 500 versus small caps têm maior diferença desde 2016

As empresas menores ficarão duplamente nervosas. No segundo trimestre de 2023, os analistas esperam que as empresas que compõem o índice de small caps Russell 2000 registrem uma queda de 9,7% na receita, em comparação com uma perda de 0,4% para as grandes do S&P 500. O gap atual entre as estimativas de vendas para as empresas do S&P 500 e suas contrapartes do Russell 2000 é o mais amplo em sete anos.

Enquanto as startups de tecnologia não lucrativas podem estar começando a ficar para trás, seus pares maiores e lucrativos estão em um lugar mais próspero.

A última pesquisa do Bank of America (BAC) mostra que os investidores estão aumentando a alocação para essas empresas rapidamente. Isso reflete a confiança de que esses gigantes com balanços sólidos e muito dinheiro enfrentarão a recessão melhor do que aqueles sobrecarregados com dívidas.

“A desaceleração do crescimento econômico exige foco em empresas de qualidade – aquelas definidas por altas margens de lucro, baixos níveis de endividamento, altos rendimentos de fluxo de caixa livre e retorno sobre o capital”, diz Helen Jewell, vice-CIO EMEA da BlackRock Fundamental Equities. “São esses fundamentos subjacentes que têm sido os principais determinantes dos retornos das ações historicamente.”

- Com a colaboração de Michael Msika e Sam Potter.

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