Após ameaça de tributação, Shein diz que vai vender roupas made in Brazil

Varejista chinesa também anunciou que abrirá seu marketplace para vendedores brasileiros; produção local criaria cerca de 100 mil empregos em três anos, mas não há detalhes

Shein diz que vai aumentar a fatia de produtos brasileiros vendidos em seu marketplace que opera no país
20 de Abril, 2023 | 04:04 PM

Bloomberg Línea — Dias após a ameaça do governo brasileiro de cobrar um imposto de importação de até 60% sobre produtos importados em compras de até US$ 50 (cerca de R$ 250), a chinesa Shein anunciou nesta quinta-feira (20) planos para estimular a produção de roupas no país, que seriam vendidas em sua plataforma para os consumidores locais.

Segundo comunicado, a empresa chinesa pretende realizar um investimento de R$ 750 milhões em produção têxtil no Brasil com a criação de estimados 100 mil empregos em três anos, com parcerias com cerca de 2.000 fábricas. Não houve detalhamento dos planos e de como a Shein pretende obter custos de produção competitivos face ao que pratica com importações da China e da Ásia.

Segundo dados da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções), o país tinha 22.500 unidades produtivas formais em 2022 e empregava 1,34 milhão de trabalhadores com carteira assinada.

Os planos de fim da isenção da tributação para vendas de pessoas físicas em valores de até US$ 50 atendiam a uma reivindicação de grandes empresas de varejo do país e poderiam representar uma arrecadação extra de R$ 8 bilhões ao ano, segundo cálculos do governo federal.

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A cobrança afetaria grandes empresas asiáticas do e-commerce que vendem no Brasil, como a Shopee, da Sea (SE), de Singapura, e as chinesas Aliexpress, do Alibaba (BABA), e Shein. Com um custo de produção mais baixo e preços menores, tais empresas ganharam mercado no Brasil nos últimos anos.

Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o governo decidiu recuar da medida após uma decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, depois de dias de reclamações em redes sociais. Lula pediu que o governo apertasse a fiscalização para evitar importações irregulares, segundo Haddad.

“A Shopee e a AliExpress já tinham dito que adeririam ao plano de conformidade [da Receita Federal]”, disse Haddad. Faltava o aceno da Shein, que foi feito nesta quinta-feira, segundo o ministro.

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“Hoje nós tivemos uma reunião a pedido da Shein, que veio nos anunciar duas coisas muito importantes. A primeira é que eles vão aderir ao plano de conformidade da Receita Federal e estão dispostos a fazer aquilo que for necessário para com outros portais e com todo o comércio eletrônico para normalizar as relações com o Ministério da Fazenda”, disse o ministro da Fazenda.

Segundo Haddad, a Shein disse que vai aderir ao plano de conformidade da Receita Federal “desde que seja uma regra que valha pra todos”.

Haddad disse que recebeu uma carta formal com oss compromissos da Shein e uma apresentação dos propósitos da empresa no Brasil. “Eles pretendem em quatro anos nacionalizar 85% de suas vendas, os produtos serão feitos no Brasil. É uma coisa muito importante para nós que eles vejam o Brasil não só apenas como o mercado consumidor mas como uma economia de produção”, afirmou.

Segundo Haddad, o governo quer seguir o exemplo de países desenvolvidos e cobrar um imposto digital que seja pago pela empresa, e não pelo consumidor (embora esse custo possa ser embutido como margem da companhia ou dentro de custos de produção).

“Quando você comprar na plataforma [de um site estrangeiro], estará sabendo que receberá na sua casa um produto regular, legal, e terá com quem reclamar”, disse Haddad. “O que as redes brasileiras pleiteavam é o que foi oferecido hoje: condições justas [de concorrência]”.

Produção brasileira da Shein

Segundo acusações de varejistas brasileiras e da Receita Federal, tais empresas conseguiriam driblar a lei da tributação internacional enviando pacotes fracionados como se fossem pessoas físicas.

Em conversa com jornalistas no começo da semana, Haddad disse que o presidente da República pediu para que a questão fosse resolvida do ponto de vista administrativo, com o aumento das fiscalizações.

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A Shein é uma empresa de comércio eletrônico opera no modelo de fast fashion, ou seja, produz coleções de roupas de baixo custo rapidamente em resposta às últimas tendências da moda. A empresa disse que pretende tornar o Brasil um pólo de produção da marca e de exportação para a América Latina.

Com o investimento, a Shein disse que pretende fornecer tecnologia e treinamento aos fabricantes brasileiros para “atualizarem seus modelos atuais de produção para o modelo sob demanda da Shein”.

“Isto permitirá aos produtores locais gerenciar melhor os pedidos, reduzir o desperdício e diminuir o excesso de estoque, resultando em uma maior agilidade para responder à demanda do mercado”, disse a empresa em comunicado.

Segundo a Shein, o modelo conhecido como onshoring (produção no mercado local no qual o produto será consumido) contribuirá para o consumo local e a competitividade geral da indústria têxtil, com o potencial de aumentar as exportações.

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Marketplace

Nesta quinta-feira, a Shein também lançou seu marketplace para vendedores do Brasil. A empresa começou a operar na América Latina em 2020 com peças importadas, mas disse que, desde o ano passado, testava o modelo de marketplace local no Brasil. A empresa pretende que, até o final de 2026, cerca de 85% de suas vendas sejam locais, tanto de fabricantes como de vendedores.

A AliExpress, que tem o Brasil entre seus cinco maiores mercados no mundo, tem feito o mesmo movimento de procurar atrair vendedores brasileiros, com a comercialização local há um ano, mas o e-commerce de origem internacional ainda é mais significativo para a plataforma chinesa.

Por meio de nota, a AliExpress disse que “manterá o compromisso de participar ativamente do desenvolvimento da economia digital brasileira”.

Já a Shopee, de Singapura, disse ter mais de 3 milhões de vendedores brasileiros e que mais de 85% das vendas são de vendedores locais. “A Shopee apoia o empreendedorismo digital no Brasil e qualquer esforço que contribua para esse propósito”, disse a empresa em nota.

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“Vamos continuar seguindo as leis e regulamentos locais e exigir que os vendedores da nossa plataforma também os cumpram. Queremos contribuir para o desenvolvimento do ecossistema no país”, disse a Shopee.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups