Americanas: Lemann e sócios elevam proposta de capitalização para R$ 12 bi

Nova oferta da varejista se aproxima do montante exigido pelos principais credores, os bancos, para que um acordo eventual pudesse começar a ser discutido

Americanas está prestes a completar 3 meses de crise, desde que o ex-CEO Sergio Rial comunicou ao mercado um rombo de R$ 20 bilhões
03 de Abril, 2023 | 09:42 AM

Bloomberg Línea — Os principais acionistas da Americanas (AMER3), Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, elevaram a proposta de capitalização de R$ 10 bilhões para R$ 12 bilhões, aproximando-se dessa forma do valor mínimo que os principais credores, os bancos, exigem para que seja possível discutir um acordo.

O aumento da proposta foi informado ao mercado nesta manhã de segunda-feira (3) por meio de fato relevante.

“A mais recente proposta apresentada pela Companhia, assessorada pelo Rothschild & Co, contém, no que diz respeito ao compromisso dos acionistas de referência de capitalizar a companhia:

(i) um aumento de capital de curto prazo, em dinheiro, no valor de R$ 10 bilhões de reais (considerando o financiamento DIP já aportado);

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(ii) dois potenciais aumentos de capital adicionais, em datas futuras sendo acordadas, de até R$1 bilhão cada.

Os dois aumentos de capital adicionais poderão ser acionados caso a companhia esteja, nas datas futuras a serem acordadas, acima de determinados limites máximos de alavancagem ou abaixo de um nível mínimo de liquidez, ambos a serem detalhados oportunamente”, explicou a Americanas.

No fato relevante, a varejista disse que ainda não há qualquer entendimento preliminar, mas que segue em negociação com os principais credores. A empresa está em recuperação judicial desde 19 de janeiro, com dívidas declaradas de mais de R$ 42 bilhões para cerca de 9.000 credores.

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Pequenos credores

Na terça-feira passada (28), o CEO da Americanas, Leonardo Pereira, reconheceu que a dívida “é bastante grande” e que a intenção inicial era pagar os débitos com pequenos credores. Dos 9,5 mil credores incluídos no plano de recuperação judicial, 4,5 mil são trabalhadores da empresa ou micro e pequenas empresas.

“Tentamos retirar aqueles credores menores, que são muito machucados nesse processo. A companhia começou a pagar. Mas veio o recurso de um banco, pedindo para suspender os pagamentos. De R$ 240 milhões, pagamos R$ 120 milhões para esses credores”, afirmou Pereira.

A declaração foi dada durante uma audiência pública no Congresso, que teve a presença de Sergio Rial, que comandou as Americanas entre 2 e 11 de janeiro. Antes de deixar a empresa, o então CEO comunicou ao mercado financeiro sobre as “inconsistências contábeis” da companhia.

Rial classificou o CEO anterior das Americanas, Miguel Gutierrez, como “centralizador”. Disse ainda que, entre setembro e dezembro de 2021, participou de 21 reuniões na empresa como consultor. Mas que, apenas em janeiro, após assumir formalmente o comando da companhia, foi informado por dois diretores sobre os problemas no balanço patrimonial.

“Não recebi algo no papel. Não recebi algo como se fosse um mapa. Extraia a conta-gotas as informações dia após dia. Não havia uma predisposição para explicar tudo que aconteceu. Nada disso. O que eu sabia é que a empresa tinha muito mais dívida bancária do que havia reportado. E o que eu não sabia: como conseguiram fazer isso durante tanto tempo e por quê?” questionou Rial, segundo relato da Agência Senado.

Por volta das 12h30, a ação da Americanas registrava baixa de 0,99%, cotada a R$ 1. O papel acumula desvalorização de 90% neste ano. Em 52 semanas, AMER3 oscilou entre uma mínima de R$ 0,64 e uma máxima de R$ 34,50. A empresa tem capitalização de mercado de R$ 903 milhões.

(Atualiza às 12h30 com detalhes do caso e cotação)

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.