Como a Vale se prepara para atrair prêmios bilionários com minério de ferro

Apesar de elevar a aposta em metais básicos, a mineradora vê sua principal commodity trazendo geração de caixa adicional significativa

Minério com maior teor de ferro contido é estratégia para elevar ganhos de Ebitda
17 de Fevereiro, 2023 | 02:18 PM

Bloomberg Línea — Embora a Vale (VALE3) esteja elevando a aposta no negócio de metais básicos, de olho no processo de eletrificação da indústria automotiva, a companhia ainda tem o minério de ferro como uma grande fonte de geração de caixa adicional. A brasileira segue investindo no aumento médio do teor de ferro contido de seus produtos para obter prêmios mais altos, em meio ao avanço da demanda por produtos menos poluentes.

O minério de ferro referência no mercado global possui teor contido de 62%, mas as maiores mineradoras do mundo – Vale, Rio Tinto (RIO) e BHP Billiton (BHP) – vêm apostando nos produtos com 65% e até 67%, o que contribui para reduzir as emissões na indústria siderúrgica.

“Apenas como referência do quanto de valor podemos gerar com qualidade, cada um ponto percentual de aumento no teor médio de ferro corresponde a cerca de US$ 550 milhões de Ebitda incremental, se considerarmos o valor e volume anual que temos hoje”, disse o presidente da mineradora, Eduardo Bartolomeo, em teleconferência com investidores.

O executivo acrescentou que a companhia está vendo oportunidades “sem precedentes” de segmentação no negócio de minério de ferro, com crescimento da demanda por produtos de alta qualidade.

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“A qualidade é chave para descarbonização da siderurgia. Estamos projetando um teor médio de ferro mais alto no nosso portfólio a partir de 2023, isso nos dá um prêmio de qualidade muito maior nos nossos preços”, disse.

Durante o evento Vale Day Nova York com investidores em dezembro, a mineradora anunciou que os prêmios no segmento devem aumentar para cerca de US$ 12 por tonelada até 2026 e aproximadamente US$ 25 por tonelada até 2030.

Segundo a companhia, o portfólio de produtos para siderurgia prevê uma contribuição potencial de cerca de US$ 4 bilhões de Ebitda por prêmios e volumes maiores até 2026.

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A estratégia deve ser importante para a brasileira continuar competitiva frente às concorrentes australianas, que estão muito mais próximas do principal mercado consumidor de minério do mundo, a China.

No quarto trimestre, o país asiático respondeu por quase 60% da receita de vendas da Vale e cerca de 70% dos volumes de minério de ferro e pelotas.

Bartolomeo relata que, nos sistemas Sul e Sudeste de produção, a Vale está aumentando os processos de concentração para entregar matéria-prima de qualidade mais alta, com quatro plantas de filtragem.

A mineradora também deve inaugurar, neste semestre, sua primeira fábrica de “briquetes verdes”, com capacidade de produção de 6 milhões de toneladas.

A líder de Energy, Resources & Industrials da Deloitte, Patrícia Muricy, explica que o briquete verde diminui a necessidade de energia no processo produtivo das siderúrgicas.

“A indústria siderúrgica precisa se tornar mais responsável, na Europa a questão do ‘aço verde’ já é uma realidade”, afirma a especialista.

Ex-Tesla

A Vale anunciou nesta sexta-feira a chegada do ex-executivo da Tesla (TSLA), Jerome Guillen, no conselho independente de metais básicos da companhia.

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“Jerome ficou 10 anos na Tesla, conhece muito bem o mundo de veículos elétricos e vai ajudar nos dando assistência para destravar o valor imenso que temos na empresa”, disse o vice-presidente executivo de soluções de minério de ferro, Marcello Spinelli.

A Vale espera aumentar o fornecimento de materiais para o processo de transição energética. A brasileira vem trabalhando com montadoras globais para desenvolver o mercado de materiais para baterias, incluindo General Motors (GM) e Ford (F).

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.