Governo Lula planeja compensar produtor rural por captura de carbono

O Brasil já tem um programa de financiamento direcionado a agricultura de baixo carbono, mas o novo governo quer fazer disso uma prioridade

A iniciativa busca impulsionar o uso da terra para a produção de alimentos e evitar novos desmatamentos
Por Tatiana Freitas
16 de Novembro, 2022 | 07:03 PM

Bloomberg — O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) planeja aumentar a oferta de crédito mais barato para projetos agrícolas que visam a captura de carbono e a fazendeiros que preservam florestas para além dos requisitos legais.

O plano de Lula para agricultura sustentável é fundamental para um problema global: aumentar a produção de alimentos e proteger as florestas ao mesmo tempo.

O novo governo quer aumentar recursos para o crédito rural a taxas de juros mais baixas para produtores com compromissos ambientais, de acordo com uma pessoa com conhecimento direto sobre o assunto ouvida pela Bloomberg News. Isso inclui projetos de descarbonização da agricultura integrando a produção de gado e grãos na mesma área, bem como a preservação da vegetação nativa além do exigido pelo Código Florestal.

Novas políticas para a agricultura brasileira podem se espalhar pelas cadeias de abastecimento do mundo. O Brasil é o maior exportador mundial de soja, carne bovina, açúcar e café, e ocupa o segundo lugar como exportador mundial de milho.

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Além disso, o país abriga a floresta amazônica, que é crucial para reduzir as emissões de carbono e viu as taxas de desmatamento dispararem nos últimos anos.

Os fazendeiros brasileiros, que costumam colher duas safras por ano, podem capturar o carbono adotando pastagens como terceira safra, disse a pessoa, acrescentando que a braquiária, amplamente utilizada como gramínea no país, tem grande potencial de descarbonização. Nesse modelo de produção, o gado ocupa apenas parte da propriedade, movimentando-se durante o ano. A iniciativa impulsiona o uso da terra para a produção de alimentos e evita novos desmatamentos.

O Brasil tem cerca de 30 milhões de hectares de pastos degradados que poderiam ser convertidos a esses projetos, conhecidos como integração lavoura-pecuária, disse a fonte, que pediu para não ser identificada porque a discussão ainda não é pública.

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Este ano, os agricultores plantaram uma área recorde de 77 milhões de hectares com grãos e oleaginosas, considerando as safras de verão e inverno. Segundo a Embrapa, o potencial total para a conversão é de até 90 milhões de hectares, enquanto os agricultores já adotaram o modelo em 17 milhões de hectares na safra 2020-2021.

O Brasil já tem um programa de financiamento direcionado a agricultura de baixo carbono, lançado em 2011, mas o novo governo quer fazer disso uma prioridade. A substituição de produtos químicos por biológicos na proteção das lavouras poderá também ser apresentado como um compromisso ambiental a ser compensado por meio de crédito mais barato, a pessoa disse.

Outro objetivo do novo governo é compensar fazendeiros que preservem uma área maior do que a requerida por lei. Na região amazônica, por exemplo, agricultores são obrigados a preservar 80% de suas propriedades. Ser recompensado por preservar além do estabelecido no Código Florestal é uma antiga demanda dos fazendeiros brasileiros, que apoiaram massivamente a reeleição do atual presidente Jair Bolsonaro.

Enquanto pagamentos diretos e a inserção de agricultores no mercado de carbono deve ser possível apenas no longo prazo, o time de Lula planeja usar o crédito como forma de educar e encorajar a adoção de práticas sustentáveis no curto prazo.

“Não precisamos desmatar um metro de terra para ser o maior produtor mundial de alimentos”, disse Lula nesta quarta-feira, durante discurso durante a COP27, no Egito.

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