Cortes no Twitter preocupam especialistas por riscos nas eleições nos EUA

Equipes que faziam a moderação de conteúdo tiveram grande redução; país terá eleições parlamentares na terça-feira

Twitter
Por Kurt Wagner e Davey Alba
05 de Novembro, 2022 | 01:15 PM

Bloomberg — Os cortes de pessoal feitos por Elon Musk no Twitter (TWTR) estão levando atuais e ex-funcionários a questionar se a rede social terá os recursos para manter sistemas cruciais como moderação de conteúdo funcionando de forma eficaz, inclusive durante as eleições de meio de mandato dos Estados Unidos na terça-feira (8).

Musk cortou mais da metade do quadro de funcionários nesta semana, afetando quase todas as equipes da empresa. As equipes de produto e engenharia foram cortadas em mais de 50%, segundo duas pessoas com conhecimento do assunto ouvidas pela Bloomberg News, e outros grupos — como comunicação, marketing, direitos humanos e diversidade — foram quase completamente eliminados.

Aqueles que foram repentinamente impedidos de acessar a conta de e-mail corporativa e o Slack passaram a trocar mensagens em grupos externos do Signal e outros aplicativos para entender quem ainda estava empregado, disseram as pessoas, que solicitaram anonimato discutindo informações não públicas. “É como um incêndio”, disse um ex-colaborador. “As pessoas estão procurando por sobreviventes.” O funcionário pediu para não ser identificada por medo de represálias.

A redução drástica da equipe da empresa atraiu imediatamente críticas de grupos externos e especialistas em desinformação, que dizem não estar claro como o Twitter gerenciará sua extensa rede, que tem um impacto descomunal nas conversas políticas e culturais globais, com o quadro de funcionários mais enxuto.

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O Twitter é historicamente uma ferramenta importante para acompanhar as notícias durante as eleições, já que a informação é divulgada por lá antes de sair na televisão ou em outras redes sociais. Agora, o site “foi massivamente interrompido”, tornando-se vulnerável a problemas durante momentos de alto tráfego ou campanhas coordenadas de desinformação, disse Kate Starbird, professora associada da Universidade de Washington e cofundadora do Center for Informed Public. “Algumas das maneiras como essa plataforma funcionava ontem não serão as maneiras que funcionam hoje, amanhã e nas eleições de terça-feira.”

A equipe de curadoria do Twitter, que escrevia textos explicativos para tópicos de tendências e trabalhava com grupos de mídia para publicar conteúdo que verificava as principais notícias, foi dissolvida, disseram duas pessoas à Bloomberg News. E o time de políticas jurídicas, que remove conteúdo com base em solicitações governamentais e legais e revisa consultas de aplicação da lei em busca de dados de usuários, enfrentou “cortes maciços”, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto.

A equipe de comunicação do Twitter, responsável por interagir com jornalistas e divulgar comunicados à imprensa, foi reduzida de quase 100 pessoas para duas, disseram outras fontes. A equipe de parceiros, que constrói e mantém relacionamento com usuários famosos, como atletas, atores e músicos, foi quase totalmente eliminada.

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Também alimentando a tensão sobre a falta de controles de conteúdo está o plano de Musk de permitir que qualquer pessoa pague por uma marca de verificação no Twitter já a partir de segunda-feira, como parte de uma nova iniciativa para gerar receita por meio de assinaturas do Twitter Blue, seu produto premium. Se aprovado como planejado, isso significaria que qualquer pessoa poderia pagar US$ 8 para ter sua conta verificada, aumentando o risco de se passar por candidatos ou entidades governamentais.

“A combinação de demissões em massa, com o fim de usuários verificados menos de uma semana antes da eleição dos EUA, cria uma situação inflamável que pode explodir a qualquer momento”, disse Melissa Ryan, CEO da Card Strategies, uma empresa de consultoria que pesquisa desinformação. “Os maus atores têm uma nova ferramenta para espalhar desinformação, prejudicar e causar caos, e o Twitter agora não tem capacidade e memória institucional para lidar com os problemas inevitáveis.”

Além da eleição, se o Twitter se tornar mais vulnerável, os resultados da empresa podem ser afetados. Alguns anunciantes já interromperam os gastos ou expressaram preocupação com o período de incerteza. Musk tuitou na manhã de sexta-feira que “o Twitter teve uma queda maciça na receita, devido a grupos ativistas pressionando os anunciantes, embora nada tenha mudado com a moderação de conteúdo e fizemos tudo o que pudemos para apaziguar os ativistas”.

A organização de marketing do Twitter estava entre os grupos mais atingidos, com no máximo algumas dezenas de funcionários restantes de uma equipe que tinha cerca de 400 funcionários, segundo duas pessoas. A organização de vendas de anúncios foi menos impactada pelos cortes de empregos, disseram pessoas familiarizadas com o assunto.

Ainda assim, um ponto de preocupação é que os funcionários de nível sênior que normalmente seriam chamados para ajudar a aliviar as preocupações dos anunciantes — pessoas como o chefe de vendas Jean-Philippe Maheu ou a diretora de marketing Leslie Berland — foram demitidos da empresa no início desta semana.

Musk abordou os cortes de empregos em um tuíte na sexta-feira (4). “Em relação à redução da força do Twitter, infelizmente não há escolha quando a empresa está perdendo” mais de US$ 4 milhões por dia, disse ele no post. “Todo mundo que saiu recebeu 3 meses de indenização.”

A equipe de confiança e segurança do Twitter nos Estados Unidos, que lida com moderação de conteúdo, também foi impactada por demissões, afetando 15% da equipe, segundo Yoel Roth, chefe de segurança e integridade da empresa, que permanece.

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“Com a votação antecipada em andamento nos EUA, nossos esforços na integridade eleitoral — incluindo desinformação prejudicial que pode suprimir a votação e combater operações de informação apoiadas pelo Estado — continuam sendo uma prioridade”, disse ele no Twitter. “Embora tenhamos nos despedido de amigos e colegas incrivelmente talentosos ontem, nossos principais recursos de moderação permanecem em vigor.”

No início desta semana, a Bloomberg News informou que muitas das ferramentas que a equipe usa para impor suas políticas de moderação de conteúdo foram congeladas, e essas ferramentas ainda estavam indisponíveis para a maioria das pessoas na sexta. Musk disse anteriormente aos líderes dos direitos civis que os moderadores internos teriam acesso de volta até o final da semana. Roth disse que o acesso será restaurado “nos próximos dias”.

Globalmente, a equipe de confiança e segurança foi dizimada, inclusive na Irlanda, principal posto avançado da empresa para monitorar o resto do mundo, segundo outra pessoa. “Toda a equipe de Direitos Humanos foi cortada da empresa”, disse Shannon Raj Singh, a advogada dessa equipe, no Twitter, acrescentando que estava orgulhosa de sua equipe por ajudar a proteger os usuários durante conflitos na Ucrânia, Etiópia e outros lugares.

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