Onda de nervosismo nos mercados ressurge com novos alertas do Fed

O estado de cautela se reflete em prêmios maiores no mercado de dívida dos EUA, que chegou a bater os 4% para os bônus de 10 anos, e dólar se apreciando ante a maioria das divisas

Estes são os eventos que orientam os investidores hoje
Por Bianca Ribeiro - Michelly Teixeira
28 de Setembro, 2022 | 08:46 AM

Barcelona, Espanha — (Esta é a versão ampliada e atualizada da nota publicada originalmente às 6h30)

Os investidores voltam a se resguardar com nova onda de volatilidade e mais um dia de perdas para os principais ativos. O humor se orienta por avisos reiterados de representantes do Federal Reserve (Fed) sobre a necessidade de pulso firme contra a inflação, o que se traduz em juros ainda maiores. O mercado de títulos da dívida norte-americana mostra essa tensão, com forte alta dos prêmios, assim como o câmbio, com dólar se fortalecendo ante a maioria das moedas.

Esta manhã, os índices futuros de ações nos EUA recuavam em bloco, assim como fecharam as bolsas na Ásia, onde o Hang Seng de Hong Kong caiu para o patamar mais baixo em uma década, com ações de mineradoras refletindo a preocupação com a demanda global. As bolsas europeias também recuam com firmeza, assim como as cotações do ouro e do bitcoin. Os contratos de petróleo, que estavam em queda, subiam há pouco.

→ O que move os mercados hoje

🇬🇧 Em busca de estabilidade. No Reino Unido, o rendimento dos títulos a 30 anos caiu depois que o Banco da Inglaterra (BoE) anunciou a compra temporária e ilimitada de seus títulos de longo prazo, desde quarta-feira até 14 de outubro. A autoridade monetária também atrasará o início das vendas previstas para a próxima semana até 31 de outubro.

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Antes do anúncio, os prêmios dos títulos soberanos haviam subido ao nível mais alto desde 1998. “O objetivo dessas compras será restaurar umas condições ordenadas do mercado”, disse o BoE, em nota. “As compras serão conduzidas em qualquer escala que necessária para alcançar este resultado”. O tom do BoE, segundo a Bloomberg, lembra a promessa do ex-presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi de 2012 de fazer “o que for preciso” para salvar o euro.

🔝 Prêmios nas alturas. O aumento dos prêmios dos títulos da dívida dos Estados Unidos volta a ganhar ímpeto e o bônus com vencimentos em 10 anos superaram os 4% pela primeira vez desde 2008. Instantes atrás, os títulos mudavam de rumo e ganhavam valor nominal, com prêmios de 3,95%.
O presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, alertou ontem que o banco central precisa continuar a aumentar os juros para manter a sua credibilidade.

📈 Aperto prolongado. A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse esta manhã que o aumento de juros na região se dará em “várias reuniões”. Ela disse que intenção é devolver o indicador de preços para a meta de 2% e controlar as expectativas de inflação. “Faremos o que temos que fazer, que é continuar subindo as taxas de juros nas próximas reuniões.”

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🏮 Japão em foco. Além da política monetária agressiva dos bancos centrais mundiais, o movimento no mercado de dívida também se justifica por rumores de que o Japão tenha de vender seus títulos norte-americanos para defender a própria moeda. O Banco do Japão já vem atuando na compra de ienes para proteger a divisa japonesa das distorções em relação à disparada do dólar.

💸 O céu é o limite. O dólar volta a se apreciar e as preocupações com o recuo de outras divisas globais se sustentam enquanto a Casa Branca descarta um acordo entre as principais economias para conter as distorções. O diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Brian Deese, negou um novo acordo como o adotado em 1985 para este fim. Pouco antes, a secretária do Tesouro, Janet Yellen, sinalizou que não vê motivos para preocupações com a atual trajetória dos mercados financeiros.

🔥 Gás inflamável. As preocupações com o setor de energia aumentam e os preços do gás disparam em plena luta global contra a inflação. Após a Rússia ameaçar cortar o gás para os aliados da Ucrânia na Europa, os vazamentos no gasoduto Nord Stream entre a Rússia e a Europa Ocidental foram rotulados como sabotagem por autoridades americanas e alemãs. A tensão aumenta com o regime de Vladimir Putin em um momento em que a necessidade do gás para o inverno é premente.

📵 Frustração na Apple. Outro sinal de cautela para o mercado acionário foi acionado pela Apple, que avisou seus fornecedores de que não será necessário ampliar a produção do iPhone 14 neste segundo semestre. Analistas do setor avaliam que a decisão está amparada na frustração das expectativas com a demanda antecipada pelo produto. O efeito foi imediato para ações de empresas fornecedoras em Taiwan e deve repercutir ao longo do dia nos papéis de tecnologia nas demais praças.

🛍️ Fortaleza econômica? Enquanto isso, a economia dos EUA se mostra resistente aos choques. O Índice de Confiança dos Consumidores aumentou pelo segundo mês consecutivo em setembro, no nível mais alto desde abril (108,0 pontos, contra os 104,5 esperados e 103,2 da leitura anterior). Esse desempenho se apoia em um nível de emprego ainda forte e preços mais baixos de combustíveis. O índice Redbook também mostrou melhora (+11,0% versus +10,5%, depois de um período perdendo impulso.

→ Leia também o Breakfast, a newsletter matinal em português da Bloomberg Línea: Setor imobiliário recupera o otimismo

Os mercados esta manhãdfd

🟢 As bolsas ontem: Dow Jones Industrials (-0,43%), S&P 500 (-0,21%), Nasdaq Composite (+0,25%), Stoxx 600 (-0,13%), Ibovespa (-0,68%)

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As bolsas de valores norte-americanas voltaram a cair depois que dirigentes do Fed insistiram que ainda há trabalho a ser feito na luta contra a inflação. O sentimento do mercado também foi atingido pela suposta sabotagem de três ligações de gasodutos Nord Stream, o que poderia intensificar o embate energético entre a Europa e a Rússia. O S&P 500 completou seis sessões consecutivas de baixa, sua maior série de perdas desde fevereiro de 2020.

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Na agenda

Esta é a agenda prevista para hoje:

EUA: Balança Comercial/Ago, Estoques no Varejo e no Atacado/Ago, Vendas Pendentes de Moradia/Ago, Indicadores Imobiliários de Hipotecas e Compras, Estoques de Petróleo Bruto

Europa: França (Confiança do Consumidor/Set); Itália (Confiança Empresarial/Set, Vendas Industriais/Jul)

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Ásia: Japão (Compra de Títulos Estrangeiros e Investimento Estrangeiro em Ações)

América Latina: Brasil (Índice de Emprego/Ago, Índice de Preços ao Produtor/Ago, Empréstimos Bancários/Ago)

Bancos centrais: Discursos Jerome Powell (presidente do Fed), Charles Evans, Mary Daly e Raphael Bostic (Fed), além de Jon Cunliffe e Swati Dhingra (BoE) e de Christine Lagarde (presidente do BCE)

📌 Para a semana:

Quinta: EUA (PIB, Pedidos de Seguro-Desemprego, Loretta Mester e Mary Daly, do Fed, falam em eventos separados); Zona do Euro (Confiança Econômica, Confiança do Consumidor); Alemanha (IPC)

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Sexta: EUA (Renda do Consumidor, Sentimento do Consumidor da Universidade de Michigan, Discursos de Lael Brainard (vice-presidente do Fed) e de John Williams (Fed de NY); Reino Unido (PIB); China (PMI); Zona do Euro (IPC, Taxa de Desemprego)

(Com informações da Bloomberg News)

Bianca Ribeiro

Bianca Ribeiro

Jornalista especializada em economia e finanças, com passagem por redações e veículos focados em economia, como Valor Econômico, Agência Estado e Folha de S.Paulo.

Michelly Teixeira

Jornalista com mais de 20 anos como editora e repórter. Em seus 13 anos de Espanha, trabalhou na Radio Nacional de España/RNE e colaborou com a agência REDD Intelligence. No Brasil, passou pelas redações do Valor, Agência Estado e Gazeta Mercantil. Tem um MBA em Finanças, é pós-graduada em Marketing e fez um mestrado em Digital Business na ESADE.